Uma Ciranda para espantar a solidão

Uma Ciranda para espantar a solidão

A ciranda é uma das danças mais tradicionais do Brasil. No início, os participantes eram em sua maioria trabalhadores rurais, pescadores e operários, e ela foi associada às camadas populares. Ao expandir-se pelo país, a ciranda foi associada às crianças. No entanto, em Pernambuco ainda é considerada uma dança de roda para adultos. Em Mirandópolis não é diferente, é uma brincadeira de gente grande.

“Em 2010, eu visitava a senhora Natsuko Yuassa, mãe do saudoso Doutor Roberto. Ela era idosa e morava sozinha. Sua solidão era agravada pelo fato de não ser fluente na língua portuguesa. Aprendi muito com ela, não só a língua japonesa, mas sobre costumes, tradições e a rígida etiqueta japonesa. Ela, porém, sentia por falta de companhia e me pedia para voltar sempre lá”, explica Kimie Oku.

Esse pedido ligou um alerta para Kimie, que sentia a necessidade de levar pessoas idosas a um lugar no campo, onde houvesse árvores, flores e pássaros, para se encontrar com outras pessoas que ficavam sozinhas, sendo que o principal objetivo era fugir da solidão, e passar umas horas agradáveis em companhia de amigos.

“O senhor Mário Dias Varela viu um texto que publiquei sobre isso e veio até a minha casa dizer que íamos concretizar o meu sonho. Eu não conhecia o seu Varela, mas ele foi tão convincente que acatei a ideia. Ele arrebanhou o senhor Egídio Vicente, o Milton Lima, a dona Mary Magro, a Chiquinha Kazi e o jovem Júlio César Galbes. No meio da Rua João Domingues de Souza, em um dia de sol brincamos de Ciranda, cirandinha. Nesse dia fundamos o Grupo Ciranda”, recorda Kimie. O nome surgiu porque o objetivo do grupo sempre foi “dar a mão” para todos formarem uma roda para brincar e espantar a solidão.

O primeiro encontro reuniu cerca de vinte pessoas, das quais apenas a metade era de idosos convidados, sendo os demais voluntários para ajudar no encontro. Algumas regras foram criadas para não desvirtuar a Ciranda: não discutir religião, não ter caráter e nem apoio político; não permitir mensalidades e nem venda de qualquer produto; e que os encontros seriam mensais.

A Ciranda já reuniu aproximadamente duzentas pessoas, em 110 encontros, e está sempre convidando outros idosos para participarem. Atualmente, os encontros estão sendo realizados na AMAI de Mirandópolis para proporcionar a oportunidade de lazer aos internos.

O que fazem na Ciranda?

Conversam, cantam, dançam e brincam. Tem gente que declama e outros que comentam fatos interessantes do dia a dia. Os organizadores levam um lanche, café e comemoram aniversários.

Já passaram pela Ciranda: Egídio Vicente, Jorge Cury e a esposa Luisinha, Walter Sperandio e a Rachel, João Torrente e a Mariinha, Lourdinha Codonho, Maria José Braga Candil, Maria Menegatti, Pedro Squinca, Orozino Pereira, Maria Prando, Milton Lima, Flora Forte, Gabriel Carbello, Zé Maria de Carvalho, Isabel, Seu Albertino Prando, Gerval e Jovaninho, Deni Perri, Nelson Biazoto e tantos outros.


                       
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