Os ensinamentos da professora Cecilia Passareli Momesso

Batemos um papo com a educadora Cecilia Passareli Momesso, que nasceu em 1931, em Birigui. Mãe de cinco filhos, chegou em Mirandópolis em 1953 depois que casou com Idanir Antonio Momesso. Lecionou por mais de 50 anos, entre o início na área rural na fazenda do Dr. Osvaldo, passando pela escola Dr. Edgar Raimundo da Costa e também ensinando em sua casa, onde dava reforço escolar sem custo para crianças sem condições financeiras. Confira abaixo a entrevista completa.

Quando começou a dar aula?
Tudo começou ainda em Birigui, sendo que depois dei sequência em Lavínia por poucos meses e principalmente quando cheguei em Mirandópolis. Lembro que na época estava terminando de construir a escola Dr. Edgar Raimundo da Costa. Quando comecei fiz uma exigência, pois queria dar aula para ensino infantil, de preferência para a primeira série onde as crianças não sabiam nem ler e escrever. Tinha aluno que não sabia nem pegar no lápis, daí eu gostava de ensinar, quando era o primeiro dia de aula era uma briga porque muitas crianças queriam ficar na minha sala.

Porque essa preferência?
As crianças gostavam porque eu tinha uma boa didática e paciência. Lembro que a Dona Mercedes, que era diretora na época, ficava brava comigo porque enchia a sala de criança. Lembro que tinha alguns alunos que se escondiam na fila para conseguir entrar na minha sala. Daí eu falava, onde ensina 45, ensina 46. Com isso vivia com a sala cheia.

A sala de aula sempre foi sua paixão?
Sempre gostei de dar aula, de ensinar, quando não estava na escola procurava educar as crianças em casa, isso sem custo, por amor. Tinha prazer de ensinar, não importava se era homem, mulher, rico, pobre, branco ou negro, o que me dava prazer era ensinar e dar um futuro para essas crianças. Se eles não sabiam, eu fazia saber!

Tem alguma história que te marcou?
Várias histórias acabam marcando a gente, pois conseguimos formar pessoas que se tornaram médico, engenheiro, jornalista e muitas outras profissões. Mas lembro de um em especial, pois ele era coletor de lixo e toda semana fazia questão de parar aqui em casa para me dar um abraço. Consegui criar boas amizades nesse tempo que fiquei na sala de aula, boas recordações.

Quando deixou a sala de aula?
Não lembro muito bem a data, mas depois de aposentada fiquei dando os reforços em casa, acho que foi até o ano de 2010 mais ou menos, depois precisei parar.

O que mais participou na cidade?
Participei ativamente das ações da igreja católica, sou da época do Padre Epifânio, onde fui muita ativa no Cursilho. Teve uma época que fui nomeada coordenadora das ações da igreja, foi um tempo de muita coisa boa na minha vida. Na igreja teve até uma passagem engraçada. Iriamos fazer uma rifa e cada membro levava uma prenda, com isso fui fazer um bolo recheado. Fiz e levei para a igreja, só que o padre achou tão bonito que comprou e disse que iria presentear o bispo. O problema foi que só depois percebi que faltava um anel no meu dedo, ou seja, no preparo do bolo perdi o objeto dentro da massa (risos). Mas o bispo não reclamou, agora não sei se engoliu ou se encontrou o anel e tirou para presentear alguém achando que era um presente.

Recebeu homenagens em Mirandópolis?
Sim, acompanhei meu marido por muitos anos no Rotary, daí no ano 2000 recebi um certificado do Rotary Club de Mirandópolis por conta dos serviços prestados à educação da cidade. Receber homenagem e reconhecimento sempre é bom.

Teve convite para entrar na política?
Até tive alguns convites para ser vereadora depois que o Idanir faleceu. O problema é que sempre me dei bem com todo mundo e sabia que se entrasse na política não iria agradar a todos. Deixei isso para o meu marido e também para meu filho, que sempre gostou.

Curiosidade
Cecília Passareli casou com Idanir Antonio Momesso, que fundou a Tipografia Santo Antonio, que logo depois, em 1962, lançou o primeiro número do jornal “O Labor”, que circularia por muitos anos em Mirandópolis.