Ló Assenço, a baiana que venceu em Mirandópolis

Ló Assenço, a baiana que venceu em Mirandópolis

Conversamos com Leovegilda Rocha Assenço, conhecida como Ló, para saber sua trajetória de vida. Nasceu em 1941, em Tranqueiras, no sertão da Bahia, sendo que com cinco anos veio com sua família para Mirandópolis por conta de um convite do tio. Por aqui morou em sítio, depois foi governante de uma casa, virou sacoleira para na sequência se tornar empresária com sua loja própria. Foi presidente da Associação Comercial e colaborou por muitos anos no Rotary. Confira abaixo a entrevista completa.

Como foi sua infância?
Minha mãe teve três filhos, mas meu pai era muito mulherengo, pra você ter ideia ele tem filhos por todo o lado. Devo ter uns 50 irmãos (risos). O que lembro muito é que a minha mãe pegava os mantimentos que cultivava no sítio, colocava em cima de um jeque e íamos vender na feira da cidade. Lembro que eu e uma outra irmã íamos em cima do animal com os mantimentos, daí minha mãe e a outra irmã puxava. Com esse dinheiro das vendas ela comprava algumas coisas para vender no sítio, com isso fazia uma renda.

Porque veio para Mirandópolis?
Meu tio Caetano morava aqui em Mirandópolis, no Paturi, daí sabendo da nossa dificuldade na Bahia buscou a gente. Viemos de pau de arara, lembro que a minha mãe fez uma lata da farofa e viemos comendo por alguns dias. Chegando aqui ficamos uma noite na Pensão Cearense, que seria como se fosse em frente a Cacau Show. No outro dia o Arlindo Camargo pegou a gente com um caminhão Ford e fomos lá pro Paturi. Depois de um tempo fomos pra fazenda Nova Vida e na sequência pra fazenda Fortaleza, em Lavínia. Lá tinha uma escola e a professora era a Zilda, que tinha uma irmã, a Dona Inês, que me chamou pra ser governanta na casa e morar com eles, devia ter uns 15 anos na época.

Como surgiu a loja?
Conheci o João Assenço com 23 anos e casei com 27 anos. Tive três filhos, mas infelizmente devolvi uma filha para Deus (faleceu em acidente de carro). Meu marido tinha o empório Santo Antonio, daí um viajante de Birigui falou um dia: minha mulher para ajudar na renda da casa está vendendo roupa. Falei pro João, se você deixar vou vender roupa, com isso virei sacoleira, buscava em São Paulo e depois batia de porta em porta vendendo. Uns me recebiam bem, outros me maltratavam, mas dava meus pulos para conseguir vender. Depois fiquei um tempo vendendo em casa, parei de bater nas portas e na sequência surgiu a ideia de abrir uma loja ao lado do empório, que ficava na Rua João Domingos de Souza, em frente ao açougue do Ademir. Lembro que logo que abrimos começou a fazer fila para comprar na loja, não tinha concorrente. Depois um dia a Mila fez uma reforma na esquina, perto do pontilhão, e me chamou para montar a loja lá. O pessoal de casa era contra, mas mudei com a cara e coragem. Naquele ponto fiquei mais de 15 anos, mas com os problemas no joelho e um pouco cansada, precisei fechar a loja. Foram 49 anos de muita alegria e amizade que fiz com as minhas clientes.

Foi presidente da Associação Comercial?
Só entrei na eleição porque achei que não iria ganhar (risos). Na verdade, foi o seguinte, o Luizão, da Livraria, era presidente da associação comercial e precisava se afastar porque iria se candidatar a vereador. Daí precisava fazer uma nova eleição e ele até me incentivou a participar, achei que nem iria ganhar, pra ser sincera, mas fui a mais votada e com isso assumi a presidência. Foi uma experiência excelente porque tinha funcionários que colaboravam para que a instituição funcionasse perfeitamente. Fiquei quatro anos, o pessoal até queria que candidatasse novamente, mas acho que consegui contribuir da melhor forma e foi o tempo suficiente.

E no Rotary?
Quem me convenceu a fazer parte foi a Milla, lembro que ela me convenceu porque falou que lá eles doam seu tempo em prol dos outros, queria fazer essa parte social de alguma maneira. Participei e fiquei 12 anos muito ativa, gostava muito, mas com o desgaste da saúde acabei parando porque quando faço algo me dedico, daí não conseguia mais ter o compromisso de toda terça ir nas reuniões, com isso acabei parando.

Qual era seu maior sonho?
A melhor coisa da minha vida foi formar meus netos. Um dia conversei com Deus e pedi para ele me dar saúde para conseguir formar eles.  E consegui, tenho um neto médico e uma neta médica veterinária. Foi o maior sonho e realização da minha vida.

Você viu o desenvolvimento da cidade?
Para você ter ideia servi o coquetel da inauguração do Banco do Brasil (risos). Meu coração é forte, me considero uma vitoriosa, tenho amizades de 60 anos aqui em Mirandópolis, isso não tem preço. Quando cheguei aqui não tinha asfalto, a rua da igreja era tudo valeta e perto da prefeitura lembro que era muito mato. Sou muito agradecido ao povo mirandopolense, prezo honestidade e moral, e isso consegui construir com ajuda dos meus amigos e clientes.

Ló teve comércio por 49 anos e fez muita amizade nesse período. Foto: Divulgação

                       
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