CRÔNICA: Capengando

CRÔNICA: Capengando

Desde pequenos ouvimos que um bom jogador precisa saber jogar com as duas pernas, pois isso o caracteriza como melhor. Bom, não é tão rasa assim a definição de um bom jogador, mas essa é uma verdade… No alto nível é mínimo que um jogador, apesar de sua preferência, saiba negociar, dialogar, jogar também com sua perna não dominante, que não é de sua preferência.

Sei que alguém nesse momento vai cometer a bobagem de pensar que Messi ou Robben não fazem parte desse grupo, mas, ser extraordinário com uma perna não te torna ruim com a outra. Aliás, esses mesmos têm diversos exemplos em suas carreiras de gols e assistências decisivas com o lado não dominante.

Com isso, reforço que sempre haverá uma dominância, uma preferência e isso é importantíssimo, pois é o que caracteriza as posições em campo, funções, papéis, espaços a serem desempenhados, perseguidos, conquistados e, além do mais, nunca vi um ambidestro que, numa final, decida no cara ou coroa com qual perna baterá o último pênalti… Todos têm uma preferência.

A importância em saber dialogar, negociar, assistir e decidir com ambas as pernas é que, com isso, o jogador deixa de ser medíocre e previsível, e passa a ser mais inovador, com mais recursos e possibilidades de repertório ao agir, sempre em prol de sua equipe, que se faz com jogadores diferentes interagindo entre si. 

Saindo um pouco do campo de jogo e adentrando no campo político, essa habilidade de jogar tanto com a direita quanto com a esquerda é cada vez mais raro. 

O que temos visto neste jogo é que ele está repleto de jogadores medíocres que acreditam na falácia de que os extremos são a solução, que se orgulham em mancar apoiados em discursos castradores que evitam o diálogo.

Assim como no futebol, a utopia extremista, tanto de um lado quanto de outro, torna a visão do humano e da sociedade limitada, pois te obriga a olhar somente para um lado, impossibilitando reconhecer seus próprios defeitos e as qualidades do lado oposto, tão importantes para o progresso.

E o mais ridículo de tudo isso é que os extremistas não percebem que, ao adotarem essa postura ofensiva, agressiva e grosseira, ao invés de repelirem-se, tornam-se cada vez mais próximos e iguais, corroborando à máxima de que ao ofender o outro, estamos falando mais da gente que do outro.

Não compremos a bengala que nos oferecem em forma de discursos cujos objetivos só visam afligir, desmantelar e destruir, ao invés de criar, organizar e emancipar. Por mais chique e cara que seja a bengala, nada melhor que caminhar livremente por aí.

Por Lucas Rafael de Castro Bettone, Bacharel em Ciências do Esporte e Especialização em Futsal: Teoria e Metodologia do Treinamento / Foto de capa: Cesar Greco/SE Palmeiras

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