Artigo: O novo normal e a retomada das aulas

Artigo: O novo normal e a retomada das aulas

Por Fernanda Fioravante, Psicóloga Clínica*

Há quase um ano estamos envolvidos por novos hábitos e comportamentos sociais em nosso repertório de vida por conta da pandemia da Covid-19. Tudo mudou em questão de dias e fomos atingidos por uma atmosfera de incertezas, medos, mortes e lutos. O mundo passou a ser volátil, incerto, complexo e ambíguo (mundo Vuca) e não vivemos mais de forma normal.

Entre os grandes prejuízos ocorridos na pandemia, a educação não ficou de fora desse saldo negativo, afetando crianças e jovens de todo país, em seu desenvolvimento biopsicossocial, assim como as mudanças significativas para os professores em sua prática pedagógica e docente.

Não é novidade que a escola é um espaço de estimulação e formação cognitiva, afetiva e protetiva para inúmeras crianças e adolescentes, bem como, toda a história profissional dos professores e equipe, que também sofreram com esse impacto.

No início de fevereiro grande parte das escolas públicas e privadas retomam suas atividades escolares seguindo o protocolo de segurança determinado pelo Governo do Estado de São Paulo, promovendo medidas sanitárias adequadas e conscientização da população no seguimento dessas regras.

DIÁLOGO E CONSCIENTIZAÇÃO

Quando falamos em conscientização, estamos atribuindo uma formação de pensamento que deverá ser envolvido por uma ação. Envolver crianças pequenas (4 a 6 anos) até crianças maiores (7 a 11anos), adolescentes (12 a 18 anos) e adultos não é uma tarefa tão simples assim, pois exige envolvimento e conexão.

O primeiro passo na retomada das aulas é o diálogo: a comunicação assertiva e não violenta diante de um cenário que ainda consideramos de risco. O diálogo estabelecido com os alunos e famílias são de grande importância em um momento que devemos praticar pontes e não muros. Desta forma, não podemos esquecer que o mestre é quem conduz uma boa orquestra e afinar o instrumento é o ponto de partida.

ACOLHIMENTO DOS PROFISSIONAIS

Os professores, equipe pedagógica, funcionários, todos merecem serem acolhidos antes dos alunos. Devemos iniciar uma nova cultura, aquela que valoriza as emoções, começando por quem ensina, por quem transfere!

Ninguém transfere o que não sabe, ninguém oferece o que não tem! Então não podemos pedir aos professores que sejam fortes e que encarem essa retomada com motivação e segurança sem antes acolher suas dores, vulnerabilidades, incertezas, medos e riscos.

Promover um espaço de diálogo, conexão, escuta empática é o novo repertório social, substituindo o abraço e aperto de mão. Sem essa força humana fica insustentável estar em um ambiente inseguro.

A partir do momento que os professores conseguirem reconhecer e lidar com suas incertezas, estarão mais conscientes sobre o outro e assim fará um processo de acolhimento aos seus alunos e famílias de forma mais segura.

FORTALECIMETO DOS VÍNCULOS

Crianças e Adolescentes, na grande maioria, já sabem os motivos de usar o álcool gel e máscara, pois é o novo comportamento social, aprendendo por modelação. Mas não podemos esquecer que cada criança tem uma experiência familiar que difere das outras, sendo a escola o lugar dessa diversidade, carregadas de significados individuais.

O papel dos profissionais da educação não é julgar e sim proporcionar uma informação verdadeira e clara sobre como as regras podem nos ajudar a enfrentar esse momento de pandemia, evitando fake news e comentários que gerem ainda mais insegurança.

Uma boa dica para os professores é dialogar na primeira semana de aula com os alunos, ouvindo seus sentimentos, onde todos possam escutar e respeitar a dor do outro. Teremos muitas famílias enlutadas e devemos praticar esse acolhimento.

A escuta empática é o pilar da educação socioemocional, onde aprendemos a ouvir sem julgar, ou falar sobre nossos pensamentos ou o que faríamos no lugar do outro. Sem dúvida é uma ferramenta essencial para ser oferecida aos professores e equipe pedagógica.

Usem e abusem das rodas de conversas praticando a interdisciplinaridade e atividades como: termômetro das emoções e diário de bordo para os alunos relataram ao longo da semana, onde os colegas possam ter acesso conforme o rodízio aconteça (troca de conexão). Os professores podem priorizar um momento para eles, usando as mesmas técnicas, visto que também não estarão juntos como antes nos intervalos tão prazerosos.

Permita que os alunos possam caminhar pela escola, reconhecer suas lembranças do espaço tão importante na vida do escolar. Deixa claro aos alunos sobre os protocolos, aulas, atividades, rodízio e os dias estabelecidos. Tudo isso ajudará a diminuir a ansiedade dos alunos evitando comportamentos inesperados.

Pratiquem o bem sem olhar a quem: o aluno que esteve presente no dia poderá deixar um recado de incentivo e carinho para o próximo que virá. Temos muito desafios nesta retomada, mas sem dúvidas a maior será lidar com as emoções.

Fernanda Fioravante, Psicóloga Clínica

                       
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