‘’Os médicos salvam vidas, os agentes funerários salvam histórias’, diz Tarcisio de Oliveira Zotelli, da Funerária Mirandópolis

‘’Os médicos salvam vidas, os agentes funerários salvam histórias’, diz Tarcisio de Oliveira Zotelli, da Funerária Mirandópolis

Conversamos com os irmãos Tarcisio e Thauane de Oliveira Zotelli, proprietários da Funerária Mirandópolis. No comando do negócio há alguns anos, os irmãos que cresceram dentro da funerária acompanhando o pai no trabalho levam a risca o lema respeito e dignidade ao alcance de todos. Confira abaixo a entrevista completa concedida pelo Tarcisio.

Cresceu dentro da funerária?

Sim, minhas lembranças de pequeno já são na funerária, mas nunca foi estranho. Meu pai fala que quando era criança não poderia ver a luz acessa que descia para ver ele trabalhando. Sempre tive fascinação porque mexe com sentimento, acho satisfatório acalmar a pessoa. Os médicos salvam vidas, os agentes funerários salvam histórias. Nós fazemos parte daquela última homenagem, nosso trabalho é muito importante.

Sempre morou em Mirandópolis?

Depois que terminei o colegial fui fazer cursinho para medicina. Meu pai sempre valorizou o estudo, sempre falava que diploma ninguém tira. Morei um ano em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, mas vi que ser médico não era algo que gostaria de fazer o resto da vida. Respeito muito a profissão, mas não era para mim. Com isso pensei em partir para o curso de Direito, fiquei um ano em Araçatuba para continuar estudando, foi quando prestei vestibular e passei na PUC-PR, em Maringá. Fiquei um ano lá, mas um dia conversando com meu pai achamos que a melhor coisa era ficar perto deles novamente, com isso transferi a faculdade para Araçatuba e voltei a morar em Mirandópolis. Quando estava em Maringá sentia muita falta do meu pai e da minha irmã, sempre fui muito apegado com eles, principalmente porque perdi a minha mãe muito cedo.

Quantos anos você tinha quando ela faleceu?

Tinha apenas seis anos, foi uma semana depois do meu aniversário. Preciso confessar que o meu ponto fraco é quando vejo essa separação de uma mãe com um filho pequeno, isso mexe comigo.

Você trabalha a sua parte espiritual?

Sou espirita de berço, minha avó ajudou a fundar dois centros em Mirandópolis. A família por parte de pai tem essa ligação, meus tios e primos são atuantes. Isso ajuda a entender que a nossa vida é uma passagem. Isso ajudou no meu trabalho dentro da funerária, de dar conforto a quem necessita.

Quais as dificuldades da pandemia?

No início do ano passado até que começou tranquilo, mas no final do ano passado começou a mudar muito o cenário. Para você ter ideia, no mês fazíamos em torno de 13 serviços, só em 20 dias de abril passamos de 30 serviços realizados. As fabricas estão com dificuldades de entregar caixões, existe um colapso também nesse setor, é muito complicado. Essa semana fui buscar material em Bilac, meu estoque está baixo. Antigamente chegava em 20 dias, agora demora cerca de 60 dias. Precisamos de uma consciência geral para todos se cuidarem, isso vai ser fundamental para melhorar um pouco a situação dos hospitais.

Como é estar na linha de frente?

Não podemos absorver todos os problemas e dores, isso deixará qualquer um doente. É preciso ter uma certa frieza e ser profissional. Ver um filho enterrar uma mãe, ver uma mãe enterrar um filho, me emociona, não tem jeito, mas sou profissional e consigo separar de certa forma. Os agentes funerários estão sobrecarregados como estão os médicos e enfermeiros, muita gente esquece, mas é uma profissão digna que para trabalhar precisa de muito amor.

O que te marcou nesses últimos meses?

Já enterrei irmãos no mesmo dia, já enterrei marido e mulher em poucos dias de diferença, perdi um vizinho que me viu nascer. São famílias destruídas pela covid, pois são pessoas que trazem histórias. Muita gente não sabe o valor do agente funerário até precisar de um, muita gente não dá valor porque ainda não precisou, mas infelizmente é uma situação que todos um dia irão precisar. Não consigo pegar o corpo no hospital e simplesmente enterrar, oferecemos uma cerimônia de cortesia porque entendemos que essa despedida é muito importante, principalmente nesse momento de pandemia que o sofrimento é geral.

Estão reformando a funerária?

Em outubro de 2020 iniciamos uma reforma do nosso prédio. A cidade precisa de um espaço mais aconchegante. Hoje estamos localizados na frente do antigo endereço até terminar a reforma, mas daqui uns 30 dias deve estar finalizada. Além de um espaço melhor para o atendimento, vamos trazer até o final do ano uma clínica médica, que faz parte do Condomínio Santa Rita. Para quem não tem condição de pagar uma consulta particular vamos oferecer um médico com um preço acessível para quem for do Plano Cardassi. Nosso lema é respeito e dignidade ao alcance de todos, levamos isso muito a sério. Aproveito para agradecer a população de Mirandópolis, que sempre teve um carinho muito grande com a gente.


                       
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