‘Cheguei em Mirandópolis em 1950 e a cidade estava começando a se formar’, lembra Neyde Pavezi

‘Cheguei em Mirandópolis em 1950 e a cidade estava começando a se formar’, lembra Neyde Pavezi

Conversamos com Neyde Aparecida Pavezi Ferreira, que nasceu em Pompeia, em 1933, e chegou em Mirandópolis em 1950. Viu seu pai, que era maestro, fazer a música do hino da cidade (Dr. Alcides fez a letra), também trabalhou vendendo selos no Correios e de forma voluntaria confeccionou por muitos anos gorros para ajudar o Hospital do Amor, de Barretos. Confira abaixo a entrevista completa.

Nasceu e cresceu aonde?

Nasci em Pompeia, meu pai viajava muito, nós somos em quatro filhas e cada uma nasceu em um lugar, sendo que agora só tem duas vivas. Cheguei em Mirandópolis com 17 anos, em 1950, aqui não tinha nada era tudo terra. Minha mãe era agente do correio e eu e minha irmã mais velha também fomos trabalhar lá. Só que com 19 anos eu me casei, contra a vontade da família, da minha mãe e das minhas irmãs. Sai de casa e minhas irmãs, a mais velha e a mais nova, foram estudar.

Quais as lembranças da juventude?

O meu pai era maestro na cidade, ele fez a música do hino da cidade e o Dr. Alcides fez a letra. Mas aqui em Mirandópolis eu fazia fut na calçada, mas casei cedo, a minha irmã mais velha aproveitou mais as coisas boas e sadias da juventude.

Depois voltou para os Correios?

Depois de um tempo voltei a trabalhar nos Correios, minha mãe perdoou (risos). Mas voltei como vendedora de selos, ganhando cinco porcento da venda de selo, a minha mãe era a gerente. Voltei a trabalhar e aposentei com 23 anos de serviço, em 1975, porque o correio passou para empresa pública.

Chegou a sair de Mirandópolis?

Meu marido trabalhava no escritório, foi quando fomos morar em São Paulo, enquanto eu estava grávida da Juliana. Naquele tempo, digo há 67 anos atrás, era tudo mais difícil, eu só costurava, fui costureira, mas hoje não costuro mais. Nós ficamos em São Paulo por cinco meses, o meu marido prestou concurso em um banco, passou e mandaram ele para cá, então nós voltamos. Dali depois ele foi trabalhar no hospital e até se aposentou.

Nesse meio tempo vocês perderam uma filha?

Apesar de ter perdido uma filha, Deus é muito bom e generoso, faz a gente ter força e confiar. Ela saiu para jantar com os amigos e sofreu um acidente. Todos nós temos o nosso dia, mas a hora nós não sabemos. Foram 20 anos certinho, mais ou menos no horário que ela nasceu, Deus levou, está com ele e melhor do que se estivesse aqui. Só Deus poderia levar. Espiritualmente sou muito forte e graças a Deus sempre tive muita força desde criança. Ficou uma saudade muito grande, mas tudo o que poderíamos fazer de bom para ela foi feito. Preciso falar também do meu marido, que está com 92 anos, com uma cabeça boa, só com fraqueza nas pernas. Ele sofreu que não foi brincadeira, eu esperei 13 anos para colocar uma foto da Neide Cristina junto com as outras filhas, mas graças a Deus as coisas caminharam bem na medida do possível.

Ainda faz gorro para ajudar o Hospital de Barretos?

Depois de aposentada passei a jogar muito baralho (risos), era uma turma boa! Na verdade, teve um dia que fui com a minha amiga na cabeleireira e ela falou que uma mulher fazia gorro, e coincidentemente eu tinha visto uns dias antes uma matéria na televisão mostrando as crianças. Ela fazia gorro e levava para o Hospital do Amor, em Barretos e ela me passou como funcionava e eu comecei a fazer. Eu levava uma caixa com uns 100 gorros, hoje estou com um pouco de dor na mão e não faço mais como antes.

Poderia deixar uma mensagem final?

A vida tem tanta coisa boa para a gente, temos que nos cuidar com essa pandemia, enquanto todo mundo pensa que acabou já vem vindo a outra. Mas na verdade as coisas vão melhorar na hora que todo mundo for igual ao outro, porque somos todos irmãos e filhos de Deus. Não tem negro, não tem branco, não tem albino, nem nada! Você vê como os negros sofrem até hoje, é muito triste e não é fácil, eu não entendo essas coisas. Precisamos de igualdade e amor ao próximo, isso que peço sempre a Deus.


                       
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