Independência e morte
Foto: Revide
Hoje se comemora a independência do Brasil. Por falta de conhecimento suficiente, eu sinceramente tenho dúvidas se a ruptura com o reino de Portugal foi vantajosa para nós… O que sei é que independência é algo bom desde que se rompa na dose certa de algo que deva ser deixado. Num casamento, por exemplo, deve haver um vínculo de amor entre os cônjuges, mas dependência emocional pode causar submissão excessiva e enfraquecimento da personalidade; por outro lado, autonomia demais pode esfriar o afeto e desestabilizar a relação.
No campo profissional, há quem se orgulhe de ter dinheiro suficiente para fazer o que bem entende, mas vive submisso ao trabalho – ou pior, a acordos, negociatas e ideologias espúrias. A pessoa não depende de nenhum familiar ou amigo, mas se dobra diante de gente influente e poderosa. Um exemplo? Quantas empresas não operam por meio de conchavos e lobbies com o Estado para obter vantagens? É a velha fórmula dos regimes totalitários para manter a economia: aos comparsas, vantagens, e ao resto, impostos e opressão.
Na vida espiritual, não há como progredir sem entrega, submissão e obediência. Quanto mais se avança nela, mais se descobre a dependência de Deus… Quanto mais sábia a pessoa, com mais clareza enxerga sua pequenez e a distância abismal entre nós e Ele. Diante da pergunta de Jesus no discurso sobre a Eucaristia, questionando os apóstolos se também eles preferiam ir embora como muitos discípulos escandalizados, São Pedro responde: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna” (Evangelho de São João, cap. 6, v. 68). Eis a realidade profunda do nosso ser e nossa condição: o caminho seguro é junto de Deus – não por falta de opções, mas porque só Ele conduz ao verdadeiro bem, à felicidade última.
Ainda no Evangelho de São João, Jesus ensina: “Eu sou a porta. Quem entrar por mim, será salvo; entrará e sairá e encontrará pastagem. O ladrão só vem para roubar, matar e destruir. Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” (cap. 10, vv. 9-10). O distanciamento de Deus gera estagnação e morte; a comunhão com Ele, vida plena e significado. Como indaga o Salmista, “Senhor, que é o homem, para dele assim vos lembrardes e o tratardes com tanto carinho?” (Salmo 8, v. 5). É o amor infinito pelas criaturas finitas e imperfeitas…
Não tenhamos receio: sejamos como crianças dependentes dos pais, entregando com radicalidade nossa vida nas mãos do Senhor!