Com os próprios olhos
Foto: Arquidiocese de Goiânia
Esta semana perdi uma tia. Já tinha passado dos 90 anos e estava morando com uma filha, sendo bem cuidada e recebendo o carinho da família. Não se sentiu muito bem numa manhã, foi internada e faleceu no mesmo dia, sem sofrimento – aquele tipo de morte desejado pela maioria. No velório, estava com aquela fisionomia simpática de quem parece estar sorrindo.
Pensando na sua morte, me ocorreu o Sermão das Bem-aventuranças, do cap. 5 do Evangelho de São Mateus. Lendo o trecho, reparei minha tia se enquadra em ao menos cinco delas – algo, convenhamos, admirável. São as dos versículos 3, 5, 7, 8 e 9: “Bem-aventurados os que têm um coração de pobre, porque deles é o Reino dos Céus!”; “Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra!”; “Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia!”; “Bem-aventurados os puros de coração, porque verão Deus!”; “Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus!”.
Distante que estava dela, fiz de tudo para chegar a tempo para o funeral. Consegui: permaneci lá na última hora que antecedeu o traslado para o cemitério; vi seu rosto, toquei seu cabelo e lhe prestei minha última homenagem – estava em débito com ela, pois fiquei sem visitá-la nesses últimos tempos. E depois me veio à mente as pessoas que tiveram contato com os santos, conviveram e aprenderam com eles… Que honra!…
Claro que alguns têm naturalmente uma inclinação para a serenidade, a simplicidade, a amabilidade e o sorriso fácil, mas sabemos também que Deus concede aos seus amigos graças especiais, tendo em vista a salvação de mais almas. Essas graças têm origem no próprio Cristo, o Logos eterno, a Sabedoria encarnada, fonte de tudo que é bom, belo, nobre e verdadeiro. Assim, tanto os santos e quanto aquelas boas pessoas com quem convivemos e que nos deixaram um bom legado, estão todos na esteira de Cristo – inclusive os que estavam sob o regime da Antiga Aliança, como Abraão, Moises, Elias… É como ensina São Paulo na Carta aos Colossenses: “Nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as criaturas visíveis e as invisíveis. Tronos, dominações, principados, potestades: tudo foi criado por ele e para ele. Ele existe antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem nele” (cap. 16, vv. 16-17).
Que Deus nos dê a graça de conviver com pessoas santas, sábias, honradas, amáveis e bondosas, e também a graça de admirá-las, enxergar seus méritos, aprender com elas. Tive a honra e graça enormes de conviver com essa minha tia e agora, com o peso da saudade, rogo ao Senhor que eu possa imitar as suas virtudes e honrar o seu legado, pois de fato é muito bom ver, com os próprios olhos, que Deus coloca pessoas especiais para serem sal e luz na nossa vida!