Do setor plástico à rota gastronômica: veja como Marcos Goulart transformou desafios em oportunidades com seu açaí
Foto: Allan Mendonça
Bacharel em Ciências Contábeis e um profissional com mais de 30 anos de experiência no setor de injeção plástica, Marcos André Goulart, 62 anos, se reinventou em sua vida profissional após se ver desempregado próximo da aposentadoria. A mudança de vida foi após retornar à Mirandópolis para vender espetinhos e distribuir amostras grátis de açaí. Hoje, com mais de 9 anos de atuação na Rua Rafael Pereira, o “Açaí do Marcos” ganhou destaque na Rota Gastronômica, no Pantanal Paulista, no noroeste do estado de São Paulo. Ao lado da companheira Margarida, com quem é casado há 33 anos, ele tem dois filhos, Lucas e Isabela, e dois netos, Pedro e José.
Onde nasceu e como foi a infância?
Nasci em Mirandópolis, filho de João e Isabel, e cresci com meus irmãos, João e Ana. Meu pai trabalhava no Hospital das Clínicas. Comecei a trabalhar com 12 anos como engraxate. Entre os 16 e os 17 anos, trabalhei com o pai do Neca, o saudoso Teodoro Barbeiro, engraxando sapatos e também cortando cabelos, por um período de um ano e meio. Também trabalhei como auxiliar de escritório com o Dr. Neif Mustafa. Durante esse tempo, tive a oportunidade de estudar no SENAI em Araçatuba, fazendo cursos de marceneiro e carpinteiro. Depois de formado fui para São Paulo, onde o SENAI oferecia cursos e bolsas de estudo para o nível técnico. Foi lá que estudei técnico em materiais plásticos durante quatro anos.
Como foram as oportunidades em São Paulo?
Quando terminei os estudos, consegui um estágio em uma grande empresa, a Arno, onde aprendi muito. Trabalhei na indústria de plásticos e acumulei 35 anos de experiência neste ramo, desenvolvendo produtos plásticos para grandes empresas do Brasil. Durante esse período, conheci a Margarida em 1989 e continuei residindo em São Paulo. Entretanto, naquela época, o Brasil enfrentava uma forte recessão, e acabei ficando desempregado. Foi quando precisei ir para Jundiaí, onde consegui um emprego e fiquei por muitos anos, até que me demitiram e deram baixa na minha carteira. Nessa época, já estava morando com Margarida, e uma das empresas para as quais trabalhei me fazia viajar de cidade em cidade, o que tornou tudo muito difícil, levando à minha demissão. Isso ocorreu enquanto já estava em vias de me aposentar, e com a crise, cansado de sofrer por conta das empresas, acabei retornando a Mirandópolis.
Foi quando empreendeu com o Açaí do Marcos?
Infelizmente, no Brasil, é muito difícil conseguir emprego após os 50 anos. Encontrei-me desempregado, com contas a pagar e sem entrada de dinheiro, gastando aquilo que havia construído com a venda de carro e de casa. Como nasci em Mirandópolis, decidimos voltar no final de 2014 e vender espetinhos. Fizemos feiras em Andradina, Murutinga, Lavínia, Bento de Abreu e Valparaíso. Um familiar sugeriu: “Por que você não vende açaí no carrinho, igual fazia em São Paulo?” Eu respondi: “Pode ser que dê certo.” Encontramos um carrinho para comprar, adesivamos e começamos a vender espetinhos, oferecendo amostras grátis de açaí para as pessoas provarem. Com a desativação das feiras, iniciei a venda de açaí no dia 19 de fevereiro de 2015. Há quase 10 anos, estou nesse mesmo local, na Rua Rafael Pereira, nº 1.023, vendendo açaí.
Como surgiu a oportunidade de estar na Rota Gastronômica?
A Secretaria de Cultura e Turismo do Estado de São Paulo mapeou a região, e a nossa cidade estava cadastrada. Eles realizaram um trabalho de divulgação na internet, e uma anterior diretora de cultura do município publicou no Facebook um link para cadastro. Nós acessamos e começamos a conversar com a Secretaria de Cultura e Turismo. Após algum tempo, eles se dispuseram a visitar a cidade para nos conhecer e fazer uma entrevista. Logo após veio o aval, pois nossas frutas frescas e açaí é de excelente qualidade, veio a reportagem e eles incluíram a gente na Rota Gastronômica.
O que Mirandópolis representa para você?
Mirandópolis é a minha cidade, e eu amo este lugar. Após trabalhar em grandes empresas, nunca imaginei que conseguiria me dar bem vendendo açaí, mas percebi que isso era uma ideia equivocada. No primeiro dia, a vergonha desapareceu e as pessoas me acolheram de braços abertos. Aqui, fiz muitos amigos que elogiam nosso produto, que é de excelente qualidade. Sou grato a Deus, especialmente à minha companheira Margarida, que abraçou essa causa e encarou a dinâmica de trabalhar na rua, uma tarefa que não é fácil. Agradeço também ao Davi Boaventura, que me deu a dica e acreditou que daria certo. Sem suas palavras de encorajamento, eu talvez não teria montado o trailer. Sou grato a meus filhos e netos, mesmo estando longe. Tive a oportunidade de conhecer diversos países através do meu trabalho, mas Mirandópolis é realmente o meu lugar.