Contra o mal

Contra o mal

Foto: Universal.org

No artigo da semana retrasada cometi uma gafe enorme: com meu péssimo hábito de deixar coisas para a última hora, mais uma vez sobrou pouquíssimo tempo para revisão do texto (tanto a minha e como a do Jornal) e acabou saindo um grotesco “mal gosto” ao invés do correto “mau gosto”. Coisa grosseira… Horrível ter que ler depois e pensar: “Mas como é que eu pude fazer isso?”. “Mal” é um substantivo, enquanto “mau” é um adjetivo, que neste caso modifica o substantivo “gosto”.

Deixar para fazer coisas em cima da hora já é algo que, de algum modo, fere a bondade. O dia a dia realmente nos engole, mas planejar bem os afazeres é um caminho mais seguro para evitar erros. Pois o mal não tem existência em si mesmo, mas é o saldo de atos, pensamentos e palavras maus, escolhas, omissões e permissões erradas, com seus agravantes e atenuantes.

Noutras palavras, não existe o mal enquanto um ser (ou ente, na terminologia filosófica mais correta), uma criatura intrinsecamente má, mas sim o mal enquanto pecado e enquanto o resultado do pecado e da imperfeição das criaturas. O próprio Lúcifer, que por primeiro se rebelou contra Deus, não era mau desde a sua criação – como está escrito no livro do Gêneses, “Deus contemplou toda a sua obra, e viu que tudo era muito bom” (cap. 1, v. 31).

Sobre Deus se diz que Ele é o Sumo Bem, mas a um ser qualquer não se pode dizer que seja o próprio mal. É por isso que Santo Agostinho (354-430) afirma que o mal é ausência de bem, e que Deus, “sendo soberanamente bom, nunca permitiria que qualquer mal existisse nas suas obras se não fosse suficientemente poderoso e bom para do próprio mal, fazer surgir o bem”, o que, convenhamos, nos traz muita paz.

Se pelo pecado original somos inclinados ao mal e por isso temos que vigiar e orar (como ensina Jesus nos Evangelhos de São Mateus, cap. 26, v. 41, e de São Marcos, cap. 13, v. 33 e cap. 14, v. 38), temos também que nos convencer, mesmo com tantas atrocidades no mundo, de que o bem é infinitamente superior, e clamar a Deus que nos dê a graça do esforço pela bondade e perfeição próprias ao nosso estado. Permaneçamos firmes! Como ensina São Paulo na Carta aos Romanos (cap. 12, v. 2): “Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso espírito, para que possais discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, o que lhe agrada e o que é perfeito”.

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