Jair Pinto: uma vida de memórias e compromisso com a cidade de Lavínia
Foto: Geisa Prates
Conversamos com Jair Pinto, 87 anos, filho de Joaquim Pinto e Maria Medina. Ele nasceu em Lavínia em 1937 e cresceu ao lado dos irmãos João Batista Pinto (que dá nome à escola de educação infantil do município), Joaquim Pinto Neto (Zico), Juraci Pinto, Maria Aurora e Mercedes. Viu a cidade ser emancipada e crescer junto com o ciclo do café, mas também presenciou seu retrocesso quando as lavouras de café foram extintas. Iniciou sua vida profissional cedo e se orgulha disso, destacando especialmente o período em que atuou voluntariamente no Conselho Tutelar do município. Casou-se duas vezes: da primeira união nasceram os filhos Sérgio e Tânia. Posteriormente, casou-se com Maria Edina Rodrigues Pinto e teve mais três filhos: Wilson, Wilton e Jair Pinto Júnior.
Onde o senhor nasceu?
Nasci em Lavínia, Lavínia mesmo. A história é a seguinte: os Franco de Melo chegaram e iniciaram o povoamento de Lavínia da linha para baixo, rumo a Marechal Rondon. Outros chegaram e fundaram um vilarejo da linha para cima, em direção a Tabajara, que se chamava Perobal. Então, eu nasci em Lavínia. Na época, havia algumas brincadeiras, e para nos insultar, o pessoal de Perobal chamava o outro lado da linha de “Baixada da Égua”.
Como era a cidade em 1937?
Naquela época, Lavínia ainda não era uma cidade, pois se emancipou em 1944, e éramos subordinados a Valparaíso. Das minhas primeiras lembranças, lembro que era um lugar espetacular, onde todos eram amigos; não havia roubos e nunca havíamos ouvido falar em drogas. Por volta das 7 horas da noite, os vizinhos se reuniam na porta de casa para conversar, e a conversa ia até cerca das 10 horas da noite. Depois, todos iam se deitar para descansar e se preparar para o dia seguinte. As crianças brincavam ao redor dos pais. Era uma vida muito saudável.
Como foi a sua infância?
Eu morava em frente à escola, que chamávamos de “grupão” ou “grupo”. Brincávamos muito e eu gostava de pegar rabeira de caminhão e trem. Era perigoso, mas não dávamos muita importância a isso. Naquela época, começávamos a escola aos 8 anos e saíamos aos 12, com diploma de 4º ano, mas já estávamos preparados; éramos quase homens. Lembro que tive uma professora maravilhosa chamada Odete Costa Wosten, que nos proporcionou uma formação excepcional.
E como era a economia da cidade?
A economia girava em torno da colheita de café. Havia muitas casas de comércio, e a maioria dos comerciantes permitia que comprássemos a prazo, confiando na nossa capacidade de pagamento ao final do ano. Porém, tudo dependia do café. Quando as lavouras de café acabaram, o comércio também sofreu as consequências. Muitas pessoas partiram para São Paulo em busca de novas oportunidades.
Onde foi seu primeiro emprego?
Meu primeiro emprego foi em uma farmácia aqui em Lavínia, como aprendiz. Eu admirava muito os farmacêuticos, que eram respeitados como médicos na época. Depois, trabalhei na Drogasil em Araçatuba e também atuei como viajante de laboratório, além de ter trabalhado em Ilha Solteira. Quando me casei com a Edina, voltei para Lavínia e permaneci aqui. Cheguei até a formar uma dupla sertaneja com meus parceiros Ivo e Zezão, e juntos tocávamos em toda a região. Trabalhei muito nessa vida e tenho três carteiras de trabalho completas. Além disso, atuei no Conselho Tutelar como voluntário por sete anos. Fui um dos fundadores, junto com o finado Mirão, e nós criamos o estatuto no início.
Do que o senhor mais sente falta?
Sinto falta do Jardim. Naquele tempo, se não jantássemos rápido no domingo à noite, poderíamos ficar sem lugar para sentar. Como não havia muitos entretenimentos, ansiosamente aguardávamos o domingo à noite para irmos ao Jardim. As moças andavam de um lado e os rapazes do outro.
O que Lavínia significa para o senhor?
Lavínia é a minha vida. Nasci, cresci e construí minha vida aqui, além de ter criado toda a minha família em Lavínia. Quero permanecer aqui até o fim dos meus dias.