Sueli Zambianco de Souza: uma vida dedicada à educação, à arte e à literatura

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No mês em que se celebra o Dia Internacional da Mulher, o AGORA NA REGIÃO presta homenagem a uma figura muito importante na sociedade: a professora. Conhecida pela dedicação incansável à educação e pela paixão pelas artes e pela literatura, Sueli Zambianco de Souza construiu uma trajetória marcada pelo amor ao conhecimento e pelo compromisso com a formação de gerações.
Filha de Antônio Zambianco e Idalina Terçariol Zambianco, Sueli que nasceu na zona rural em Lavínia, recorda com saudade a vida no campo, cenário de suas primeiras memórias, que ajudaram a moldar sua sensibilidade e amor pela cultura. Começou sua carreira como professora do ensino fundamental, mas foi na língua portuguesa que encontrou sua verdadeira vocação, formando-se em Letras e tornando-se uma educadora admirada pela seriedade com que preparava suas aulas e pela capacidade de despertar nos alunos o gosto pela leitura e pela escrita.
Casada desde 1986 com o advogado Renerio Luís Soares de Souza, atual vice-prefeito de Lavínia, Sueli é não apenas uma referência na educação, mas também um exemplo de mulher que soube equilibrar vida pessoal, profissional e suas paixões. É mãe do engenheiro Leibniz Zambianco Souza e das professoras Marielle e Rafaelle (gêmeas).
Onde você nasceu?
Eu nasci em Lavínia. Sou lavinense nata. Nasci em 1961 e naquela época as mulheres gestantes não iam para o hospital. Eram as parteiras que faziam o parto. Posso dizer que vivi em um período que a cidade era muito boa, muito movimentada, tinha muitas lojas, Casas Pernambucanas, mas eu fui uma menina criada em sítio.
Como era a vida na zona rural?
Era uma vida muito tranquila e eu amava porque brincava no quintal o dia todo (risos). Depois da aula era a tarefa e quintal. Brincava de terra, de fazendinha, cerquinha de madeira, animalzinho de manga verde ou de qualquer outra fruta, fazia pocinhos, dava asas a imaginação e quando os primos da cidade vinham, nós brincávamos de esconde-esconde até escurecer. Eu tenho uma saudade imensa porque era um sítio cheio de frutas. Tinha um pomar imenso, sempre recebíamos visitas e íamos para o pomar. Era uma vida muito familiar. Quando era a noite todo mundo se reunia na varanda da casa do meu avô para contar histórias. Então ali eles contavam muitas histórias folclóricas e um dia até vi um cavalo com a crina trançada e fiquei acreditando por muito tempo que tinha sido o Saci Pererê. Foi uma infância raiz.
E o que levou a se tornar professora?
Desde criança eu brincava de dar aulas para meus primos quando eles apareciam no sítio. Então meu pai comprou uma lousa usada para me estimular. E eu sempre gostei de livros. Quando terminei o ensino médio, abriu o magistério e eu acabei entrando e me apaixonei. Eu não fui uma aluna excelente no ensino médio, era bem mediana, mas no magistério eu me dediquei muito. Eu tive uma professora chamada Dona Luci Dornellas e eu era muito fã dela. Acredito que ela me direcionou para o curso de letras. Eu queria faze faculdade e como todo jovem tinha muitas dúvidas, mas a Dona Luci acabou me auxiliando.
Agora aposentada, você acredita que cumpriu seu papel?
Talvez eu seria prepotente em dizer que sim. Mas o que eu posso afirmar é que eu fiz tudo o que eu podia. Eu nunca pensei assim “eu não recebo suficiente ou não sou valorizada”. Eu sempre pesquisei e elaborei minhas aulas nos finais de semana, e quando não tinha o computador e internet, eu pesquisava nos livros, criava, cantava e inventava, porque os alunos gostam de aulas dinâmicas. Tentava usar a criatividade da melhor forma possível. Hoje se diz “não tem material, não tem isso, não tem aquilo”. Não espere ter, não espere tudo acontecer, crie!
Das memórias da escola, tem alguma que te marcou?
Tem várias. Mas vou citar a de um menino que chegou naquela época, na quarta série, sem saber ler e nem escrever. Ele sentou quietinho na beira da porta, com vergonha do resto da turma. Eu sentei ao lado dele e perguntei: Você quer aprender? Se você prometer que vai lutar junto comigo, você vai sair daqui lendo. Chamei a mãe que trabalhava fora, chegava em casa a noite. Falei para ela “quando você chegar, só toma a leitura dele. Não precisa fazer mais nada.” Quando chegou no final do ano ele lia e escrevia. Naquela época tinha a redação do Proerd, onde a melhor redação era escolhida para ser lida. E eu fiz questão de escolher a dele. Tinha alguns erros ainda, mas eu fiz alguns ajustes e escolhi a dele. Queria incentiva-lo e não me arrependo. Hoje ele é funcionário público, um ótimo profissional e ótimo pai. Quero dizer que me sinto muito orgulhosa ao reencontrar meus alunos como pais e mães de família, assim como excelentes profissionais em todas as áreas.