O talento e a resistência dos artesãos de Lavínia para transformar arte em sustento

Foto: Divulgação / Montagem AGORA NA REGIÃO
Em Lavínia, a arte ganha forma nas mãos habilidosas de quem transforma criatividade em sustento e, muitas vezes, em sonho. É assim com Taís Dias, Regina da Silva Sobreira, mais conhecida como Regina Artesanatos, e Tiago Lessa, três artistas que se destacam mesmo em cenários desafiadores.
REIVENÇÃO ATRAVÉS DO BORDADO
Por amor à filha, Ana Lívia, Taís Dias começou sua trajetória no universo do artesanato há dois anos. Ao organizar o batizado da menina, encantou-se com a ideia de lembrancinhas personalizadas, mas os preços elevados a fizeram repensar suas opções. “Achei tudo muito caro, então decidi tentar fazer sozinha. Comecei a assistir a tutoriais na internet e não parei mais”, conta.

Do primeiro laço feito com carinho nasceu um novo ofício. Taís se especializou na confecção de laços infantis e, posteriormente, expandiu sua arte para o bordado computadorizado. O incentivo veio do CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) de Lavínia, onde fez um curso gratuito. Atualmente, além dos laços, ela também produz enxovais personalizados para gestantes e recém-nascidos, um trabalho que, segundo ela, se complementa perfeitamente. “Um agrega ao outro. Consigo criar peças únicas, feitas com amor e cuidado”, explica.
Apesar da paixão pelo ofício e da liberdade de trabalhar perto dos filhos, Taís admite que a vida de artesã em uma cidade pequena não é fácil. “Enfrentamos a falta de valorização. Muitas pessoas não entendem o tempo, a dedicação e a qualidade que o trabalho artesanal exige”, desabafa. Mesmo assim, sua persistência e amor pela arte a mantêm firme.
REGINA ARTESANATOS
A especialização de Taís contou com a contribuição de Regina da Silva Sobreira, conhecida como Regina Artesanatos. Ela é professora do curso de bordado computadorizado no CRAS e artesã há duas décadas. Atrás da excelência das linhas e agulhas, há uma história de resistência e superação.
Natural de Nova Castilho-SP, Regina começou a bordar ponto cruz e a fazer crochê na infância, aos oito anos, inspirada por sua tia Sueli, cujas mãos ágeis a encantavam. No entanto, a arte retornou à sua vida de forma mais intensa após um momento delicado. Ao se casar, Regina foi diagnosticada com doenças raras na medula óssea: Hemoglobinúria Paroxística Noturna, anemia aplástica idiopática e hipoplasia de medula óssea. Impedida de retornar ao mercado de trabalho, onde atuava como tabeliã interina no Cartório de Registro Civil e Notas de Nova Castilho, ela enfrentou a depressão. E foi nas linhas que encontrou refúgio.

“No início, eu bordava e crocheteava apenas para me distrair. Mas minha tia me falou sobre máquinas de bordado e fiquei curiosa. Quando fui pesquisar, me encantei. Meu sogro me deu uma bordadeira de presente, e assim começou essa nova fase da minha vida”, conta Regina.
O começo não foi fácil. Sem acesso a informações na região, Regina aprendeu sozinha, errando, acertando e persistindo. “Quando comprei minha primeira bordadeira na Singer de Araçatuba, o vendedor só me ensinou a ligar e desligar a máquina, pois nem ele sabia mais do que isso. Chorei muito quando perdi peças por falta de experiência e chorei de alegria quando comecei a acertar”, relembra.
Hoje, com vasta experiência, Regina se orgulha de ser professora no CRAS de Lavínia, onde compartilha tudo o que aprendeu. “Saber que minhas alunas estão transformando esse conhecimento em profissão, gerando renda e, muitas vezes, se curando de depressões, é gratificante. Acredito que conhecimento precisa ser compartilhado. Se, lá no início, alguém tivesse me orientado, meu caminho teria sido mais simples. Por isso, meu lema é: levando o pólen a outros jardins — não guardar para mim tudo o que sei, mas ajudar outras pessoas a florescerem também.”
A ARTE COMO RESISTÊNCIA
Enquanto Taís e Regina bordam histórias em tecidos, Tiago Lessa pinta e esculpe suas narrativas em telas e madeira. Artista plástico nascido no Rio de Janeiro, ele se mudou para Lavínia em busca de tranquilidade, mas sem abandonar a arte. Durante o dia, dedica-se às suas criações; à noite, trabalha como pizzaiolo para complementar a renda.

Através do Departamento de Cultura de Lavínia e de leis de incentivo à cultura, como Aldir Blanc e Paulo Gustavo, Tiago também já ministrou cursos para jovens atendidos pelo departamento de Assistência Social. “Viver da arte no Brasil é um desafio enorme”, afirma Tiago. “Em Lavínia, atendo alguns clientes, mas a demanda ainda é pequena. Projetos e leis de incentivo, como a Aldir Blanc, são essenciais para que consigamos manter a produção e levar nossa arte a mais pessoas.”
Entre telas coloridas e móveis feitos à mão, ele segue acreditando no poder transformador da arte. “A arte é resistência, é expressão. Mesmo em tempos difíceis, não podemos deixar de criar”, conclui.