Com coração e alma

Com coração e alma

Foto: Kindle Babel

A primeira leitura da liturgia do sábado passado, do Livro do Deuteronômio, é este lindo trecho de um discurso que Moisés dirige ao povo de Israel: “Hoje, o Senhor teu Deus te manda cumprir esses preceitos e decretos. Guarda-os e observa-os com todo o teu coração e com toda a tua alma. Tu escolheste hoje o Senhor para ser o teu Deus, para seguires os seus caminhos, e guardares seus preceitos, mandamentos e decretos, e para obedeceres à sua voz. E o Senhor te escolheu, hoje, para que sejas para ele um povo particular, como te prometeu, a fim de observares todos os seus mandamentos. Assim ele te fará ilustre entre todas as nações que criou, e te tornará superior em honra e glória, a fim de que sejas o povo santo do Senhor teu Deus, como ele disse” (cap. 26, vv. 16-19).

Neste tempo quaresmal, um dos riscos que corremos é o de ficarmos no mero cumprimento dos exercícios penitenciais. Para muitos, essa espécie de formalismo parece suficiente – deixar de comer carne ou dar esmolas, por exemplo, como simples cumprimento de “preceitos e decretos”. Mas não é suficiente. Não basta cumpri-los; temos que guardá-los e observá-los como ensina o texto bíblico: “com todo o teu coração e com toda a tua alma”.

A Quaresma não é simplesmente um período de execução de coisas mais exigentes, mas de meditação da lei divina e das verdades da fé, para sua assimilação mais profunda e posterior frutificação, no tempo certo. Os exercícios mais duros são para calarmos as vozes do “homem velho” – conforme as Cartas de São Paulo aos Romanos, cap. 6, e aos Efésios, cap. 4 – e então ouvirmos a voz do Senhor. É um tempo de interiorização das realidades celestes, sem a qual não avançamos na vida espiritual.

Os exercícios espirituais são os meios, os canais de graça, assim como nossas aflições, fadigas, tribulações e sofrimentos da vida. Estes, se oferecidos a Deus com amor e humildade, já o glorificam, pois Ele foi glorificado já no sacrifício da cruz; no entanto o fim último é mesmo a glória divina. Assim, que neste tempo quaresmal, como diz o Livro do Deuteronômio, o Senhor nos torne ilustres “entre todas as nações que criou”, para que Ele mesmo seja glorificado, e nós, purificados e configurados a Ele, participemos de sua glória e de seu reino eterno! Sigamos firmes, irmãos, com fé, esperança e amor!

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