Entre o Céu e a terra

Entre o Céu e a terra

Foto: Wikimedia

Ouvi, numa homilia, uma explicação muito interessante para o relato do Evangelho de São Lucas, lido na Missa do domingo retrasado, sobre a transfiguração de Jesus (cap. 9, vv. 28-36), em que Ele levou consigo Pedro, Tiago e João para rezar e ali “seu rosto mudou de aparência e sua roupa ficou muito branca e brilhante” (v. 29); ao seu lado apareceram Moisés e Elias e os três conversavam.

No sermão, o padre contou que sua mãe teve uma daquelas chamadas experiências de quase-morte (EQMs), em que sua alma começou a subir e ela passou a ver as coisas deste mundo cada vez menores. À medida que se distanciava, diminuía seu interesse pelas coisas deste mundo, mesmo as mais nobres e belas. Após isso, ela passou a experimentar muita paz e não mais sentir as fadigas do corpo; depois, viu como que um portal por trás do qual saía uma luz brilhante que a atraía; ela não queria outra coisa a não ser entrar e ficar lá para sempre. Depois disso, ouviu uma voz dizer que sua hora não havia chegado.

Há aqui semelhanças com a reação de São Pedro na transfiguração (vv. 32-33): “Pedro e os companheiros estavam com muito sono. Ao despertarem, viram a glória de Jesus e os dois homens que estavam com ele. E quando estes homens se iam afastando, Pedro disse a Jesus: “Mestre, é bom estarmos aqui. Vamos fazer três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias”. Pedro não sabia o que estava dizendo”.

Em pregações, já ouvi críticas a São Pedro por sua reação, acusando-o de deslumbramento diante da glória divina e certo desinteresse pelo trabalho de apostolado. Acho-as injustas – no mínimo exageradas – e me parecem fruto de certa ignorância ou simplismo, ou falta de senso de proporções. Os relatos da mãe do padre e de gente que passou por EQMs atestam que é natural que seja assim, tamanho o deleite. Como explica São Paulo na Carta aos Filipenses, cap. 1, vv. 23-24: “Sinto-me pressionado dos dois lados: por uma parte, desejaria desprender-me para estar com Cristo – o que seria imensamente melhor; mas, de outra parte, continuar a viver é mais necessário, por causa de vós…”.

Essas experiências nos ensinam sobre a transitoriedade desta vida, a necessidade do desapego e a grandeza do que nos aguarda no paraíso, e também clareiam o sentido dos exercícios quaresmais, para que sigamos firmes na fé, glorificando a Deus com nossas boas obras e mantendo a esperança de encontrá-Lo no Reino celeste!

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