Superação e determinação: como um salto mudou a vida de Gustavo Merlo

Superação e determinação: como um salto mudou a vida de Gustavo Merlo

Foto: Divulgação

Um salto ao rio mudou a vida de Gustavo Merlo, 49 anos, mas não sua vontade de vencer. Nascido em Lavínia, filho de Osvaldo Merlo Crepaldi e Mercedes Luiz Merlo, Gustavo tinha a vida toda planejada em 1990, quando aos 15 anos sonhava em completar a maioridade, deixar a cidade natal e ingressar na Escola Preparatória de Cadetes em Campinas. Estudioso e disciplinado, mas, como qualquer jovem, também aproveitava os momentos de lazer ao lado dos amigos.

“Nós gostávamos de nadar nos rios porque fazia muito calor”, relembra. Foi em um desses momentos de descontração que tudo mudou. No dia 13 de dezembro de 1990, Gustavo e seus amigos foram até um rio, como faziam sempre. O que ele não sabia era que as recentes chuvas haviam deixado o local mais raso. A água escura impedia que ele notasse a mudança. Ao se atirar, como de costume, Gustavo bateu a cabeça no fundo do rio. O impacto foi devastador: fraturou as vértebras C6 e C7.

“Senti muita dor e meu corpo inteiro paralisado. Minha vista escureceu, e o medo de me afogar tomou conta. Mas, graças a Deus, consegui manter o nariz e a boca para fora da água. O que eu queria era sobreviver”, detalha.

Gustavo ficou três dias internado na UTI em Araçatuba, foi transferido para São José do Rio Preto, onde ficou cerca de 40 dias até que sua família encontrasse um local referência para seu tratamento, o hospital Sara Kubitscheck em Brasília. 

“Foi nesse momento que pensei ‘ou eu aceito o que está acontecendo e vou fazer o máximo para superar minhas dificuldades ou simplesmente não terei vida”, conta Gustavo.

Gustavo ao lado de sua esposa Roberta Melchior Merlo. Foto: Arquivo Pessoal

UM NOVO COMEÇO

O acidente deixou Gustavo tetraplégico. O diagnóstico foi um choque para ele e para sua família, que após a alta médica, apressou a mudança para Campinas, agora para dar continuidade ao seu tratamento.

Sua independência parecia ter sido arrancada. Dependia de seus familiares para tudo. No entanto, mesmo diante da adversidade, ele decidiu lutar e por meio de um intenso processo de fisioterapia, conseguiu recuperar os movimentos dos membros superiores e a sustentação do tronco.

“Dos 15 aos 28 anos eu acordava cedo todos os dias para fazer fisioterapia e exercícios de fortalecimento. Mesmo tetraplégico eu acreditava que poderia melhorar”, relata

Nesse processo de recuperação Gustavo conta que seu pai foi um grande herói. “Sem minha família eu não estaria vivo e sem dúvidas, não estaria onde eu estou hoje. Toda minha família esteve ao meu lado, mas meu pai sempre esteve mais próximo. Ele passava o dia comigo e a noite trabalhando. As vezes ficava 24 horas sem dormir.”

O esforço valeu a pena e milagrosamente Gustavo deixou de ser tetraplégico. Embora o que caracteriza a tetraplegia seja a lesão na altura das vértebras C6 e C7, Gustavo recuperou os movimentos de seus membros superiores.

O sonho de ser cadete ficou para trás, mas sua vontade de estudar e crescer profissionalmente nunca se apagou. Uma de suas tias lhe ofereceu um ano de cursinho. Foi aí que decidiu ser professor. Mas quando, empolgado, foi contar a novidade a família veio a preocupação.

“Minha família me apoiava em tudo, mas quando eu contei que queria ser professor todos ficaram preocupados. Eles sugeriam que eu trabalhasse com informática, mas eu não sou um móvel para ficar estático atrás de um computador. Eu gostava mesmo era da interação da sala de aula.”

Com determinação, Gustavo superou as limitações impostas pelo acidente e conquistou o apoio da família em relação a profissão que tinha escolhido. Formou-se em História pela PUC Campinas em 1997, mesmo ano em que começou a namorar Roberta Melchior, sua colega de turma. “A Roberta é uma pessoa extraordinária. Me conheceu na cadeira de rodas, não se importou com as minhas limitações. Nós estamos juntos até hoje e é muito importante o apoio dela.”

Em 1998 prestou concurso público e tornou-se professor de história pelo estado. Em 2000 também através de concurso público tornou-se professor de história pelo município.

Após concluir a faculdade de pedagogia e uma pós-graduação em gestão pública tornou-se diretor escolar pelo município de Campinas em 2009. Também atuou e desenvolveu projetos na Secretaria dos Direitos da Pessoa Com Deficiência e atua na Secretaria do Clima, Meio Ambiente e Sustentabilidade, na área de Educação Ambiental até hoje.

Encontrou na educação uma nova missão de vida, ensinando e impactando com sua história de vida. “Eu precisei reinventar meus planos, mas nunca desisti da vida”, finaliza

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