Para nos mantermos de pé

Foto: Opus Dei
Numa palestra, acho que de um ex-editor de uma editora católica, ouvi o seguinte relato, que remonta a uma data posterior à revolução comunista que instaurou em 1949 a ditadura que perdura até hoje na China: para fugir da perseguição instaurada pelo regime, padres andavam de cidade em cidade celebrando os sacramentos às escondidas. As investidas da polícia eram ferrenhas – como ainda são – e descobriram que uma Missa tinha sido celebrada numa casa; prenderam seu dono e o torturaram durante três meses para que delatasse quem era e onde podia ser encontrado o padre. O homem suportou esse martírio heroicamente, e foi solto após a polícia se convencer de que nada sairia de sua boca.
Não sei quanto tempo depois, o homem conseguiu fugir para os Estados Unidos, onde encontrou um país com liberdades e oportunidades. Encantou-se com aquilo e, à medida que prosperava financeira e profissionalmente, foi diminuindo sua assiduidade aos sacramentos, e sua vida cristã arrefeceu ao ponto de deixar até mesmo de ir à Missa! De herói da fé a algo como ‘católico de estatística’.
Caso curioso e trágico. Inquietante, na verdade. Como é possível alguém, capaz de sacrificar-se a tal ponto, chegar a esse estado? Bem, muito poderia se refletir e muitas causas a aventar, mas, sem a mínima pretensão de julgar esse homem – espero que ele tenha voltado à fé de antes –, pode-se dizer que esta é uma lição que vale para todos e que o tempo da Quaresma é para curar os males e prevenir as quedas! Apesar das virtudes humanas, às vezes heróicas, a Igreja conhece a fragilidade da nossa condição e oferece esse tempo santo de reflexão e penitência para nos livrar do pecado, para que não voltemos ao “homem velho”. A Quaresma é fruto não da severidade, mas da misericórdia de Deus! Como afirma São Paulo na sua Primeira Carta aos Coríntios, “quem pensa estar de pé veja que não caia” (cap. 10, v. 12).
Embora não se compraza com ele, Deus sabe que o sofrimento é um caminho de redenção. Quem escolheria a opressão de um regime comunista atroz, responsável pela morte de dezenas de milhões de pessoas, se pudesse escolher um país com liberdades fundamentais? No entanto, como Jesus ensina, “que aproveitará ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder a sua vida?” (Evangelhos de São Marcos, cap. 8, v. 36, e de São Mateus, cap. 16, v. 26). Mais vale viver as aflições desta vida, mas na graça do Senhor, do que em meio às facilidades, perder a fé e a amizade com Ele.
Sigamos firmes em nosso itinerário quaresmal!