Filho de Lavínia: Reinaldo Volpato, o cineasta que retrata as belezas do interior de São Paulo

Foto: Arquivo Pessoal
Reinaldo Volpato, um dos irmãos de Raquel Volpato (veja a história completa dela na página A6 desta edição), é um nome que ressoa com força no cenário audiovisual brasileiro. Assim como a educadora, teve infância marcada pela simplicidade e pelo calor humano da cidade pequena. Quando tinha apenas cinco anos, sua família mudou-se para Campinas e, depois, para Botucatu, onde ele completou o ensino médio. No entanto, foi em São Paulo, na Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), que ele se formou em cinema.
A trajetória de Reinaldo Volpato no mundo da comunicação começou com uma importante passagem pela TV Cultura, onde trabalhou ao lado de Wladmir Herzog, um dos jornalistas mais respeitados de sua geração. A parceria dos dois durou até a prisão e morte do jornalista durante o período militar, um evento que abalou profundamente todos os colegas de profissão. “Não tinha mais clima para trabalhar naquele ambiente”, revela, referindo-se ao momento que deixou a TV Cultura.
Pouco tempo depois, foi convidado para integrar a equipe do Globo Repórter, da TV Globo, onde teve a oportunidade de se dedicar à sua verdadeira paixão: o interior. Para Reinaldo, o interior era uma fonte inesgotável de histórias e vivências que o inspiravam. “A capital me deu muitas oportunidades, mas o interior me deu base. Emocionalmente e artisticamente, estarei sempre ligado ao interior”, afirma o cineasta.
Durante sua passagem pelo Globo Repórter, Reinaldo teve a chance de trabalhar como cinegrafista e captar imagens de toda a diversidade cultural e humana do interior do Brasil. “Naquela época, chegamos a ter uma audiência de 50 milhões de telespectadores”, recorda, com orgulho. Além do Globo Repórter, Reinaldo também trabalhou em outros programas de grande relevância na TV Globo, como o extinto Domingo Gente e o Jornal Hoje.

Já na TV Brasil, contribuiu para a gestão e criação de conteúdo que levasse a pluralidade cultural do país para um público ainda maior. Também dirigiu programas em emissoras do interior, como o icônico “Araçatuba – Meu Amor”, onde pôde mais uma vez explorar a alma e os detalhes de uma cidade do interior paulista.
CINEMA
Reinaldo Volpato criou a Taus Produções Audiovisuais, uma produtora dedicada a levar para as telas as histórias e as realidades do interior paulista. Seu primeiro filme, Boias Frias, lançado em 1975, foi uma obra marcante, abordando a dura realidade dos trabalhadores braçais nas usinas de cana-de-açúcar do interior.
Com Boias Frias, Volpato chamou a atenção do público, além de abrir portas para discutir a questão da exploração do trabalhador rural no interior, um tema até então negligenciado no cinema.


Após esse sucesso, Volpato continuou sua jornada cinematográfica lançando vários outros filmes, destaque para ABRASASAS, seu primeiro longa-metragem ficção, focando na vida de adolescentes do interior paulista, retratando suas relações familiares, os desafios do dia a dia e os sonhos de quem cresce longe dos grandes centros urbanos.
O mais recente trabalho, Estranhas Cotovelas, está em cartaz nos cinemas do interior paulista, incluindo cidades como Araçatuba e Rio Preto. O filme segue a linha do seu trabalho anterior, mas agora com um foco mais específico: desmistificar a figura do “caipira” e dos jovens do interior, que sofrem muitas vezes com os estereótipos impostos por quem vive nas grandes cidades.
Em Estranhas Cotovelas, Volpato explora a vida de jovens interioranos com uma abordagem crítica e sensível, buscando mostrar que, por trás da imagem simplista e antiquada do “caipira”, existe uma juventude moderna, com sonhos, desejos e ambições semelhantes aos dos jovens urbanos.
O cineasta afirma que um dos principais objetivos do filme é dar visibilidade a essas pessoas e suas realidades, rompendo com as narrativas que frequentemente estigmatizam os ‘caipiras’. “Queremos mostrar que os jovens do interior têm tanto a oferecer quanto os da cidade grande, e que, assim como qualquer outro jovem, eles têm o direito de sonhar, de ir além das limitações impostas pela geografia e pelas expectativas sociais”, afirma Volpato.O filme deve ficar em cartaz até a próxima semana, inclusive atingiu uma média de público muito boa em São José do Rio Preto, maior do que a do filme anterior, um blockbuster hollywoodiano. “Para mim, foi uma façanha maravilhosa e inédita para um filme lançado nacionalmente no interior e sobre o interior”, finaliza o diretor.