‘Precisamos criar uma sociedade mais inclusiva, onde as pessoas com TEA possam viver com respeito e oportunidades’, analisa Cibelle Cristina

‘Precisamos criar uma sociedade mais inclusiva, onde as pessoas com TEA possam viver com respeito e oportunidades’, analisa Cibelle Cristina

Foto: Divulgação

Na quarta-feira (2), o mundo celebrou o Dia Mundial de Conscientização sobre o Autismo, data que chama atenção para a reflexão sobre a inclusão e compreensão das pessoas com transtorno do espectro autista (TEA). Em alusão a essa importante data, o AGORA NA REGIÃO conversou com a psicóloga Cibelle Cristina Marchi de Ângelo Dourado, que, desde 2017, contribui com seu trabalho na Prefeitura Municipal de Lavínia. Em entrevista, a profissional compartilhou sua visão sobre os avanços e desafios sobre o autismo, confira.

O que é o Transtorno do Espectro Autista?

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um transtorno do neurodesenvolvimento que pode impactar na forma como a pessoa se comunica, interage socialmente e se comporta. A palavra “espectro” é utilizada para representar a ampla variedade de características e níveis de gravidade que podem ser observados em indivíduos diagnosticados com TEA. É importante ressaltar que o TEA não é uma doença, mas sim uma condição neurológica que acompanha a pessoa ao longo da vida. Cada indivíduo com TEA é único e possui suas próprias características e necessidades.

Porque é tão importante falar sobre o autismo?

É importante para criar uma sociedade mais informada, empática e inclusiva, onde as pessoas com TEA possam viver com dignidade, respeito e oportunidades. Viabilizar o diálogo a respeito deste tema ajuda a aumentar a conscientização sobre o transtorno, desmistificando estereótipos e promovendo a compreensão. Ao entendermos melhor, podemos criar ambientes mais acolhedores e inclusivos seja na escola, no trabalho ou na comunidade. A difusão de informações também propicia o diagnóstico precoce e quanto mais cedo o autismo é diagnosticado, mais cedo a pessoa pode receber o apoio e as intervenções necessárias para o seu desenvolvimento.

Qual o papel da escola?

O papel da escola na inclusão de crianças com autismo é fundamental e multifacetado, abrangendo diversas áreas para garantir que essas crianças tenham uma experiência educacional positiva e desenvolvam todo o seu potencial. Em primeiro lugar, a escola deve garantir o acesso e a permanência da criança no ambiente escolar que precisa ser inclusivo, oferecendo suporte individualizado por meio do Plano Educacional Individualizado (PEI), adaptação curricular e das práticas pedagógicas e disponibilizar profissionais de apoio se necessário. E acima de tudo, promover parceria com as famílias.

Quais são os desafios mais comuns no diagnóstico do autismo?

O diagnóstico de TEA pode ser um processo complexo e desafiador, principalmente porque se trata de um “espectro”, o que significa que os sintomas podem variar muito de pessoa para pessoa, e também as manifestações do autismo podem mudar ao longo do tempo, tornando o diagnóstico em diferentes fases da vida um desafio. Outra dificuldade se dá porque muitas pessoas com TEA também podem ter outras condições, comorbidades, tais como TDAH, ansiedade, depressão. Essas condições podem confundir os sinais e sintomas, dificultando o diagnóstico preciso. O processo de diagnóstico, muitas vezes, pode ser longo e complexo, carece de profissionais qualificados para o diagnóstico e isso pode ser limitado em algumas regiões, criando uma barreira para muitas famílias e indivíduos.

Como psicóloga, como a sociedade pode se tornar mais inclusiva?

A inclusão é um processo contínuo que requer o envolvimento de todos os membros da sociedade.  É preciso realizar ações coordenadas que contemplem: conscientização e educação, acessibilidade, políticas e legislação inclusivas, combate ao preconceito e possibilitar a participação e empoderamento dos grupos minoritários. Contudo, ao implementarmos estas ações, poderemos criar um ambiente mais justo e acolhedor, além de uma sociedade onde todos se sintam valorizados e respeitados.

Como familiares e amigos podem ajudar no desenvolvimento da criança?

Receber o diagnóstico pode ser um momento de muitas emoções para familiares e amigos. O apoio e a compreensão nesse momento são cruciais para o desenvolvimento saudável da criança e para o bem-estar de toda a família. É importante evitar generalizações, estereótipos e comparações, pois cada pessoa com TEA é única e tem seu próprio ritmo de desenvolvimento. A rotina das famílias que possuem crianças com TEA pode ser muito difícil, os amigos podem oferecer apoio e ajuda prática, isso pode incluir oferecer-se para cuidar de outros filhos, ajudar com tarefas domésticas, levar a criança a terapias ou simplesmente estar presente para uma conversa. Reconhecer e celebrar cada vitória e progresso da criança, mesmo que pareçam pequenos para outros, apoiar as formas de comunicação da criança, sejam elas verbais, não verbais (como gestos, sinais ou comunicação alternativa), incentivando a criança a expressar seus sentimentos e necessidades, colaboram muito também. Incentivar a participação da criança nas terapias recomendadas (fonoaudiologia, terapia ocupacional, análise do comportamento aplicada – ABA, etc) e demonstrar interesse pelo que ela está aprendendo é imprescindível. Criar um ambiente de aceitação, defender os direitos da criança, ser paciente e compreensivo, são atitudes que impactam positivamente o desenvolvimento da criança. Em resumo, familiares e amigos podem ser um apoio inestimável para uma criança com TEA e sua família e o mais importante é demonstrar amor e respeito pela criança, reconhecendo sua individualidade e potencial.

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