Do chão

Foto: Gerada via Chat GPT
Lendo o interessantíssimo livro ‘Como viver com 24 horas por dia’, do jornalista, escritor e crítico literário inglês Arnold Bennett (1867-1931), sobre organização dos hábitos de leitura, achei o seguinte: “O pedante é um indivíduo fastidioso que, tendo feito uma descoberta, mostra-se tão impressionado por ela que é capaz de desapontar-se gravemente pelo fato de que o mundo todo não compartilha seu espanto. Tornar-se um pedante inconscientemente é facílimo e fatal”. Nós também corremos esse risco, pelos seguintes motivos: o Cristianismo também consiste numa descoberta; a ressurreição do Senhor, seus milagres e os milagres dos Santos são absolutamente impressionantes; e não chega a ser incomum um desapontamento com este mundo avesso à mensagem salvífica.
De fato, encontra-se pedantismo entre cristãos – acho que mais entre estudiosos, menos entre recém-convertidos e bem menos entre os que se dedicam à caridade. Mas é como uma espécie de anomalia. Vejamos: a Quaresma passou há pouco, motivando os fiéis a olhar para as próprias mazelas e clamar por conversão; o testemunho dos Apóstolos e dos primeiros cristãos lavou a terra de sangue; e a obediência e a humildade dos Santos, com suas penitências e submissão às ordens divinas e dos superiores, é uma declaração pública do sepultamento da própria vontade.
Corremos esse risco como qualquer um corre ao fazer suas escolhas. Porém, contra ele e contra todos os riscos, mazelas, fraquezas, más inclinações e pecados, a Igreja oferece múltiplos remédios. Devemos usá-los para mantermos a sensatez e a humildade. Os pastorinhos de Fátima, por exemplo, privilegiados por terem visto Nossa Senhora, passaram a comer ervas amargas quando Ela lhes revelou o inferno, em penitência para livrar as almas de lá, pois tiveram certeza, assim como os Apóstolos, os primeiros cristãos e a multidão de Santos, que a verdadeira felicidade está no Céu e passaram a não desejar outra coisa a não ser ir e levar mais pessoas para lá! Os amigos de Deus estão enraizados no chão da fé, da verdade e da caridade, não na vaidade.
Neste tempo pascal, é este o desejo que deve nos mover: anunciar a Morte e Ressurreição do Senhor a todos e, longe da presunção e do orgulho e cientes de que todos precisam da graça redentora, seguir firmes louvando a Ele por sua bondade e suplicando que cada dia mais gente abra o coração para a boa-nova da salvação!