Uma vida dedicada ao piano e ensino da música: a trajetória de Fabiana Felicio em Lavínia

Foto: Serginn Silva Fotografias
Em tempos de redes sociais e consumo instantâneo, ensinar música clássica pode parecer um desafio, principalmente em cidades pequenas. Mas para a professora Fabiana dos Santos Torres Dias Carvalho Felício, de 50 anos, a música sempre foi um chamado, uma missão que vai além das teclas do piano. Nascida e criada em Lavínia, filha de Carlos e Aparecida Torres Dias, Fabiana começou ainda criança e nunca mais se afastou da arte. Criadora do Instituto Musical Fabiana Felício, ela é referência no ensino da música na cidade e promove, todos os anos, uma audição de encerramento, evento que já se tornou tradição, reunindo alunos, ex-alunos e famílias em um momento de celebração e emoção. Com mais de três décadas de dedicação ao ensino, Fabiana acredita que aprender um instrumento vai muito além da formação técnica, afinal a música pode ser também ferramenta de autoconhecimento, disciplina e sensibilidade. Em entrevista ao jornal AGORA NA REGIÃO, ela compartilha um pouco de sua história e reflexões sobre o papel da música na sociedade.
Como a música entrou na sua vida e por que escolheu o piano como instrumento principal?
Desde muito pequena sempre gostei de música. Comecei tocando violão com a Eva Regina (Gina). Depois, meus pais me levaram ao conservatório da Sônia Delai Pardo, em Mirandópolis, para continuar no violão, mas foi lá que tive meu primeiro contato com o piano. Logo na primeira aula, tive certeza de que queria seguir com esse instrumento. Concluí o curso de piano clássico ali mesmo.
Quais foram os maiores desafios de se formar e atuar como musicista em uma cidade pequena?
O maior desafio foi viajar três vezes por semana, durante quase dez anos, para ter as aulas. A estrada ainda era de terra (risos)! Quando eu era criança, meu avô Roberto me levava e ficava esperando a aula terminar. Sou muito grata por isso. Aos 15 anos já dava aulas para novatos no conservatório. A música virou profissão sem que fosse planejado e posso garantir que sempre foi por amor.
Houve algum momento decisivo que a fez perceber que queria também ensinar?
Sim. As pessoas começaram a me procurar para dar aulas de piano, mesmo antes de eu concluir o curso. E assim comecei, na sala da minha casa. Já ensinava no conservatório, então tudo aconteceu naturalmente.
Como você enxerga o cenário musical hoje na cidade?
A música transforma. Uma criança que é incentivada a aprender um instrumento com certeza será um adulto mais sensibilizado. Em Lavínia temos o Projeto Guri e a Banda Municipal. O foco não é formar músicos profissionais, mas trazer cultura e pertencimento. Sempre há espaço para novos talentos.
Já pensou em sair de Lavínia para buscar novos horizontes?
Nunca. Sempre tive mais motivos para ficar do que para sair. Gosto de ensinar, sempre tive muitos alunos e mesmo quando atuei em outras cidades, nunca deixei de dar aulas aqui.
Como é ensinar música clássica em tempos de TikTok?
É desafiador, mas procuro apresentar a beleza do clássico de forma leve. Todos os estilos têm seu valor, mas o clássico tem o poder de tocar a alma e isso encanta.
Existe alguma história ou aluno que marcou sua trajetória?
Sim. Em Mirandópolis, dei aula para o Ricardo Kawasaki, que era deficiente visual e tocava lindamente. Seus pais eram muito dedicados. Um trágico acidente tirou a vida dos três, mas eles deixaram um legado de amor que até hoje é lembrado.
Qual foi o momento mais emocionante que viveu com a música?
Quando comemoramos 25 anos de trajetória, durante uma audição de final de ano. Recebi de vários ex-alunos, mensagens e depoimentos emocionantes. Diferente de uma escola, no piano o ensino é individual — isso cria laços para a vida toda.
Como você gostaria de ser lembrada pela comunidade?
Se cada aluno que passou por mim conseguiu entender o básico da música e sentiu que isso o fez bem, então cumpri meu papel. A música clássica muitas vezes não tem letra, e por isso nos leva para onde quisermos. Amo ensinar e tenho carinho enorme por todos os meus alunos e eles sabem disso.