Utilitarismo inútil
Foto: Aleteia
O conceito de maximização já deixou as esferas da produção (agropecuária, indústria, comércio e serviços) e chegou às rotinas do dia a dia, disseminado pelas redes sociais. O intuito é minimizar recursos utilizados e maximizar ganhos. Esse é um dos princípios de economia (inclusive da economia doméstica) e enquanto princípio não há nele um erro; trata-se da busca pelo retorno do que foi investido e gasto, da minimização do risco e da honra dos compromissos assumidos. A legislação assegura o salário do trabalhador, mas não o faturamento da empresa, e assim ela busca faturar o máximo o quanto antes.
Mas um princípio econômico não pode ser confundido com uma máxima moral e não pode estar acima da caridade, das virtudes e do equilíbrio. Tenho a impressão de que anos atrás, quando a automação era menor e os departamentos eram abarrotados de gente, a vida e as rotinas eram mais naturais e normais. Era comum a pessoa levar muito tempo para alavancar uma empresa e constituir um patrimônio; hoje, empresas de inovação e tecnologia recebem um dinheirão da noite para o dia. Também aí não há um problema, mas acontece que em meio aos muitos ganhos, facilidades e oportunidades, cresce um individualismo gritante.
E o que poderia se transformar em amor ao próximo e fomento a boas obras na cultura e na sociedade, torna-se um lamaçal de ganância e futilidade. Esse senso de utilitarismo é hoje exacerbado e extrapola a esfera financeira: antigas usinas de açúcar e indústrias de tecelagem, para dar um só exemplo, eram construídas em tijolos à vista, com um design no mínimo mais acolhedor; hoje em dia, até pequenas lojas são construídas em formato de caixas de sapato – insípidas, monótonas, sem alma. A maximização financeira se torna causa de empobrecimento estético.
E enquanto muita gente boa, trabalhadora e honesta está presa só aos resultados, grandes fortunas do mundo financiam agências de mídia e entidades pró-aborto e contra a família. Os bons pouco financiam os bons, os maus financiam os maus, e assim o caos vai se instaurando. Mas Jesus ensina: “Não ajunteis para vós tesouros na terra, onde a ferrugem e as traças corroem, onde os ladrões furtam e roubam. Ajuntai para vós tesouros no céu” (Evangelho de São Mateus, cap. 6, vv. 19-20).
Trata-se de uma questão moral, espiritual e cultural, não econômico-financeira. Assim, neste mês do Rosário, peçamos a Nossa Senhora, seda da sabedoria, que nos dê equilíbrio e bom senso, e que os nossos resultamos se revertam em bondade, caridade e salvação.

