Anos 80, uma década de conquistas do vôlei em Mirandópolis
Foto: Arquivo/Eduardo de Sylos
O voleibol brasileiro começou sua trajetória de glórias em 1984, com a notável participação do Brasil nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, onde conquistou a medalha de prata. Paralelamente, em Mirandópolis, durante a década de 1980, a modalidade também ganhou destaque, com a cidade participando dos Jogos Regionais, dos Jogos Abertos e competindo na segunda divisão do Campeonato Paulista.
“Tudo começou quando eu era professor no Cene e formei times de vôlei pré-mirim, mirim, infantil e juvenil. Esses jovens foram evoluindo em habilidade e paixão pelo esporte ao longo do tempo”, relembra o professor Antonio Roberto Fumagalli.
Inicialmente, as competições se restringiam aos jogos escolares contra equipes da região, porém tanto o treinador quanto os atletas almejavam disputar em eventos mais abrangentes. “Ao ser convidado para ser diretor do conselho de esportes, pude reunir um time representante de Mirandópolis, devido à base sólida que já tínhamos”, recorda Fumagalli.
Com a estruturação da equipe, as disputas tornaram-se oficiais, incluindo participações nos Jogos Regionais e, consequentemente, a qualificação para os Jogos Abertos. Fumagalli menciona que durante esse período, conquistaram o bicampeonato regional e recorda uma ocasião especial durante os Jogos Abertos em Santos, quando foram convidados a elevar o nível de competição de Mirandópolis.
“Em um dos jogos, o Vicentinho, árbitro da Federação, me chamou e perguntou sobre como poderíamos inserir a equipe de Mirandópolis no Campeonato Paulista. Eu expliquei sobre nossas limitações financeiras, e ele prontamente se ofereceu para buscar apoio na federação para isenção de taxas de inscrição e outras despesas, viabilizando assim nossa participação”, relata emocionado Fumagalli.
CAMPEONATO PAULISTA
No Campeonato Paulista, com isenções de taxas e o apoio da prefeitura, Mirandópolis obteve a autorização para competir na segunda divisão do Campeonato Paulista de Vôlei. O engenheiro Eduardo Sylos recorda que representou a cidade nessa disputa no ano de 1988.
“Tivemos uma temporada regular, porém no playoff final enfrentamos um forte time de Campinas e, infelizmente, não conseguimos avançar de fase”, explica Sylos. Ele também relembra com emoção o ano seguinte, quando se mudou para Araçatuba e teve a oportunidade de enfrentar Mirandópolis pela competição.
Os treinamentos ocorriam no antigo Elefantão, que contava apenas com uma quadra descoberta, uma vez que o ginásio de esportes ainda não havia sido construído. Os jogos oficiais eram realizados no CAM (Clube Atlético Mirandópolis).
“O trabalho era árduo; chegávamos a treinar duas vezes ao dia, sem descanso. Éramos cerca de 14 atletas, incluindo aproximadamente quatro jogadores de fora da cidade que vieram por paixão ao esporte”, comenta Fumagalli. Ele destaca a ausência de salários para os atletas e menciona que os jogadores de fora da cidade ficavam hospedados em uma casa nos arredores do departamento de esportes da época.
O professor enfatiza a lealdade existente entre os atletas, o que fortalecia a equipe tanto dentro quanto fora de quadra. “Recordo de uma vitória épica sobre a equipe Cerâmica Mogi Guaçu, conquistada de forma incrível. O técnico adversário, visivelmente abalado no banco de reservas, me confidenciou após a partida, com os olhos marejados, que precisava da vitória, mas reconheceu que perder para Mirandópolis não era desonra, pois tínhamos um espírito de união e amor pelo esporte e pela cidade”, complementa Fumagalli.
FRUTOS DE MIRANDÓPOLIS
José Renato Salia, que residia em Oswaldo Cruz, chegou a Mirandópolis em 1979 e contribuiu para o desenvolvimento do vôlei na cidade. “Joguei alguns anos no início da década de 80 e tínhamos uma equipe regionalmente muito forte. Em 1983, fui jogar na Pirelli, permanecendo lá até 1985, quando decidi retornar para estudar e, a convite de Fumagalli, defender novamente Mirandópolis. O ápice para nós foi competir na segunda divisão do Paulista; foi uma época inesquecível”, analisa Zé Renato.
Cezar Douglas, atualmente treinador de vôlei e que já liderou equipes importantes no Brasil, relembra que jogou em Mirandópolis até a categoria infantil. Em 1989, quando estava prestes a iniciar na categoria infanto juvenil, fez um teste em São Carlos. “Fui aprovado e passei um ano lá. No entanto, retornei porque o Professor Fumagalli estava montando uma equipe em Mirandópolis para os Jogos Regionais. Voltamos e fomos campeões regionais em 1990; posteriormente, nos Jogos Abertos, alcançamos as quartas de final. Foi nesse ponto que me indicaram para Botucatu. Fiz um teste lá em 1991 e acabei permanecendo por três anos”, recorda Xuxa, como é conhecido.
Fábio Galvani foi outro mirandopolense que foi jogar na Pirelli na década de 80, após participar de alguns Jogos Regionais por Mirandópolis. “Aprendi muito com o Fumagalli; de fato, tínhamos uma equipe muito forte em nível regional. São anos que permanecem marcados em minha memória e em minha vida, pois muitos atletas daquela época se tornaram amigos”, destaca Galvani.