Claudio Maneja Jr.: de cinema à gestão pública, o desafio de democratizar a cultura em Mirandópolis

Claudio Maneja Jr.: de cinema à gestão pública, o desafio de democratizar a cultura em Mirandópolis

Foto: Divulgação

Claudio Maneja Jr., formado em Comunicação Social com ênfase em Audiovisual, deixou para trás uma carreira consolidada no cinema e na educação para abraçar um novo desafio: liderar o Departamento de Cultura em Mirandópolis. Com raízes que se estendem de Diadema ao interior paulista, ele traz consigo a paixão pela cultura herdada de seu avô e a experiência acumulada no comércio familiar. Em entrevista ao jornal, Claudio compartilha suas motivações, os desafios enfrentados e sua visão para o futuro cultural da cidade.

O que o motivou a seguir sua carreira atual? 

Sou de uma família portuguesa bem tradicional, então acabei crescendo no “fundo” das padarias. Meu pai nunca quis que eu seguisse a profissão dele, pois é uma vida muito desgastante, comércio que abre de domingo a domingo, é muito cansativo. Mas filho de comerciante é sempre um comerciante e por isso resolvi me juntar aos meus pais e meu irmão, e investir na padaria. Minha formação é em comunicação audiovisual, e foquei em cinema acredito muito por conta do meu avô, conhecido aqui na cidade como Cumpadre Garcia. A casa dele era repleta de livros, revistas, filmes, discos. Eu pude conhecer de Tonico e Tinoco, passando por Elis Regina, Milton Nascimento e até a banda inglesa Queen. Pude conhecer Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Jorge Amado e o melhor da literatura. Meu avô era um homem muito simples, mas que sabia que a educação e a arte são importantes na formação do ser humano. Princípio que carrego comigo sempre.

Quais foram os maiores obstáculos que você encontrou durante sua trajetória profissional? 

Não posso dizer que tive obstáculos na minha vida profissional, tive sempre muitos desafios. E acredito que foram esses desafios, juntamente com as pessoas que conheci nessa trajetória, que me fizeram ser o profissional que sou hoje. Tenho aptidão para ouvir e articular, ao mesmo tempo a argumentação e o convencimento está no DNA de comerciante. Então brinco que sou essa colcha de retalhos de todas essas experiências: comerciante, comunicador, educador. Qualidades que acredito fundamentais pra quem trabalha com gestão pública.

Como você descreveria a experiência de liderar o Departamento de Cultura em Mirandópolis? 

Poder contribuir com a minha comunidade colocando meu conhecimento à disposição, é um privilégio. Contudo, tenho muito a aprender. Umas das primeiras coisas que percebi quando cheguei é que faço parte de uma equipe muito competente. Começando pela Rafa que trabalha comigo aqui na Cultura, e toda a equipe de diretores. Isso já dá um gás pra fazer o trabalho. Então tenho tido condições de colocar em prática esse projeto de democratizar o acesso à cultura e valorizar o artista local. O Departamento de Cultura e Turismo vai ser o espaço para o diálogo e para a construção coletiva.

Quais são as principais dificuldades que você enfrenta diariamente no setor de Cultura? 

A dificuldade número um é lidar com a questão “o que é cultura?”. A gente que vive no meio da arte e da cultura, que tem isso já como parte das nossas vidas, muitas vezes não se dá conta que essa discussão ainda tem de ser feita. Nem tudo o que acham ser cultura, é. Essa falta de entendimento provoca distorções até mesmo no desempenho do Departamento. Quando falamos de cultura dentro de uma prefeitura por exemplo, estamos falando como órgão que fomenta a cultura levando para o máximo de pessoas possíveis opções de arte e cultura. Qual a agenda cultural da cidade? Ainda que não tenhamos uma sala de cinema ou teatro, qual o último filme exibido publicamente? Qual o cronograma de oficinas culturais? Não temos isso de forma organizada e sustentada. Na minha opinião isso passa pela sábia afirmação: “a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte”.

Como você vê o papel da cultura na vida dos moradores de Mirandópolis? 

A cultura tem um papel importante na vida de todas as pessoas, até mesmo daquelas que dizem não gostar de cultura. A gente já nasce com cultura por todos os lados. Cultura não se reduz ao estilo musical ou gênero de filme que você gosta. A forma da gente falar, se vestir, os pratos típicos da nossa região, tudo é manifestação cultural. Então valorizar a cultura, sobretudo a sua cultura, é essencial para nossa formação cidadã.

Quais são os projetos ou iniciativas culturais mais importantes que estão sendo desenvolvidos no momento? 

No momento a gente está organizando a casa. Temos as Leis Paulo Gustavo e Aldir Blanc em andamento, que são ferramentas incríveis para apoiar o artista local e que queremos aperfeiçoar aqui no município com debate amplo e transparente. Vamos resgatar também o Conselho Municipal de Cultura que está totalmente desarticulado, e a partir dele, pensar o que queremos para a cultura nos próximos anos. E muita conversa, tenho conversado com muita gente, desde artistas até pessoas que querem contribuir nesse processo. Aqui tem espaço para todas as ideias, todos são bem vindos se o objetivo for valorizar a cultura e o artista local.

Quais são as suas metas para o futuro do setor de Cultura na cidade? 

Quando recebi o convite do prefeito, eu disse que a gente deveria sonhar grande. E tive a sorte de estar sendo liderado por alguém que enxerga até mais longe que eu. Para o futuro a gente tem que lutar por espaços culturais de qualidade. Precisamos olhar com carinho para a nossa biblioteca. Precisamos de um Centro Cultural que seja um espaço de convivência, onde as turmas se encontrem, onde as diferentes gerações se relacionem, onde a gente sinta ferver toda essa energia que a arte proporciona. Precisamos de uma sala de cinema, de um anfiteatro e nada disso vai acontecer se a gente não sonhar e a partir desse sonho, sentar e colocar no papel.

Como o Departamento de Cultura tem trabalhado para preservar e promover as tradições culturais locais? 

Eu gosto muito dessa palavra preservar. Ultimamente tenho estudado a cultura caipira. Como neto de um legitimo caipira, me coloquei a estudar essa cultura. O homem caipira é um homem que preserva. Ele preserva a natureza porque tira o seu sustenta dela. Ele preserva valores, preserva a sua família e preserva a sua cultura. Então é do caipira preservar o mundo a sua volta. Veja a Estação Ferroviária, quase 90 anos e vamos esperar que aconteça com ela o mesmo da Amandaba? Ou vamos preservá-la para as futuras gerações? Existem formas de proteger tanto nossos bens materiais quanto imateriais e isso se dá por meio do Tombamento Histórico e Cultural que iremos promover. Dessa forma iremos preservar não apenas a Estação, mas a Folia de Reis, a catira, o Profeta Gentileza, todo esse traço nosso, tão nosso, é que não pode desaparecer. Então é isso, vamos criar mecanismos legais de proteção e promovê-los para essa, e todas as gerações que virão.


                       
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