Rebaixamento

Rebaixamento

Foto: ACI Digital

A kénosis de Nosso Senhor é algo que deveria auxiliar o homem a se situar adequadamente no mundo. Os antigos e os medievais, mesmo de outras religiões, tinham muito mais facilidade em localizar a posição em que o ser humano se encontra na criação – a sociedade medieval, tão desconhecida quanto caluniada pelo homem moderno, era mais bem organizada que a nossa nos componentes mais relevantes de uma sociedade, pois embora carecesse de recursos técnicos e científicos alcançados depois, não lhe faltavam senso de proporções. Quanto a nós, privilegiados com os maiores avanços, nos vemos assolados por índices alarmantes de assassinatos, opressão, mentiras, falcatruas, depressão, ansiedade e suicídio.

O termo kénosis vem do grego e significa rebaixamento, esvaziamento. Na Carta aos Filipenses (cap. 2, vv. 6-8), São Paulo ensina: “Sendo ele de condição divina, não se prevaleceu de sua igualdade com Deus, mas aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e assemelhando-se aos homens. E, sendo exteriormente reconhecido como homem, humilhou-se ainda mais, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz”.

Ora, quanta soberba e vaidade não vemos hoje? Se o progresso material avança sem o progresso espiritual e moral, o saldo natural é o aumento da arrogância, dos meios de opressão e daquela afetação que os presunçosos experimentam quando sentem seu brio ferido – para o esnobe, sentir-se equiparado a quem ele julga inferior soa como ofensivo, quase uma injustiça. Cristo, ao contrário, assemelhou-se a nós; aceitou assumir a natureza humana, sofrendo a fome, sede, frio, cansaço e dores que sofremos. Não foram suavizados sua agonia no horto, a humilhação diante de autoridades e algozes, a exaustão ao cair sob o peso da cruz, as dores dos cravos, a solidão ao gritar “Pai, por que me abandonaste?”…

No domingo (14), vamos celebrar São Camilo de Lellis (1550-1614), patrono dos doentes e dos hospitais, homem que sofreu e lidou com o sofrimento alheio. Fundou uma ordem religiosa para homens piedosos que aceitassem com generosidade a missão de socorrer os enfermos, tratando-lhes não somente o corpo, mas a alma. Os Clérigos Regulares Ministros dos Enfermos, mais conhecidos como Camilianos, até hoje administram hospitais e cuidam dos doentes.

Que esse grande santo interceda por nós, para alcançarmos a sabedoria de reconhecer nossas misérias e a caridade para cuidar de quem precisa! Que nesta vida nós nos esvaziemos, e na vida eterna nos saciemos com a felicidade sem fim!


                       
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