‘Quero usar as minhas cicatrizes para ajudar o próximo a ter uma vida saudável’, relata Ricardo Santos

‘Quero usar as minhas cicatrizes para ajudar o próximo a ter uma vida saudável’, relata Ricardo Santos

Foto: Arquivo Pessoal/Ricardo Santos

Nascido em Mirandópolis em julho de 1979, Ricardo Santos da Silva, conhecido popularmente como Esquilo, teve uma infância marcada pela tragédia, ao perder o pai aos quatro anos. Criado em um ambiente humilde e conturbado, ele foi viver em Ilha Solteira sob a tutela de seu tio até retornar a Mirandópolis aos 12 anos. A adolescência foi repleta de revolta e decisões erradas. A dor da perda e o afastamento de Deus culminaram em quase 20 anos de dependência de cocaína. Este relato dramático revela não apenas as dificuldades enfrentadas, mas também a resiliência e a busca por redenção na vida que se seguiu.

Onde nasceu e cresceu?

Nasci em Mirandópolis, em julho de 1979. Minha infância não foi tranquila; aos quatro anos de idade, perdi meu pai. Minha mãe, criando os três filhos sozinha, enfrentou muitas dificuldades, já que éramos de uma família humilde. Em razão disso, mudei para Ilha Solteira, cidade onde morei dos quatro aos 12 anos. Lá, fui criado pelo meu tio, irmão do meu falecido pai. Aos 12 anos, retornei para Mirandópolis. Depois disso, minha mãe iniciou um novo relacionamento e teve duas filhas gêmeas. Assim, somos em cinco filhos: tenho uma irmã que mora em Campinas, outras duas em Mirandópolis, um irmão em Dourados, e eu, que hoje moro em Caarapó, no Mato Grosso do Sul.

Como foi sua adolescência?

Foi marcada por muita revolta e escolhas erradas. Com 12 anos, fui expulso de uma escola em Ilha Solteira por ter levado uma arma. Não tenho orgulho de falar sobre isso, mas relato para alertar pais e jovens. Após esse episódio, retornei a Mirandópolis para morar com minha mãe e meu padrasto. Essa fase foi muito complicada; hoje consigo compreender que minha revolta era principalmente em função da perda do meu pai. Essa angústia levou à tomada de várias decisões erradas e atitudes rebeldes, que afetaram não apenas meu relacionamento em casa, mas também na escola e entre amigos. Durante esse período, canalizei minha dor em escolhas erradas, lembrando que além da morte do meu pai, também perdi meu tio, que havia me criado em Ilha Solteira, em um acidente. Essa perda me trouxe ainda mais revolta e afastamento de Deus. Costumo dizer que minha infância foi marcada por perdas, e minha adolescência e juventude cheias de decisões equivocadas e entrega às drogas, culminando em quase 20 anos de dependência de cocaína.

Foto: Arquivo Pessoal/Ricardo Santos

Onde já trabalhou?

Sempre fui trabalhador e nunca tive preguiça. Comecei a trabalhar em Ilha Solteira, vendendo sorvetes e frutas na feira, com apenas oito anos. Em Mirandópolis, tive boas oportunidades que, infelizmente, desperdicei devido às minhas escolhas. Relembrando, além de realizar bicos como garçom, trabalhei como leiturista na Elektro e, em seguida, com o Celso Minomi em uma clínica odontológica. Além disso, passei sete anos na prefeitura e, por último, trabalhei na Grampa Dedetização.

Qual a sua relação com Deus?

Na adolescência, quando morava com minha mãe, ela se converteu e, à sua maneira, me levava aos cultos da Igreja do Evangelho Quadrangular. Mesmo sendo criança ou adolescente, sempre tive algum contato com a Bíblia, aprendendo sobre a palavra de Deus. Mesmo com as escolhas erradas, pude ser doutrinado e crescer nesse caminho. Havia épocas em que ia com frequência à igreja, enquanto em outras sumia, não mantendo uma visita constante à palavra de Deus e sem estar mentalmente preparado para esse caminho.

Hoje você não está em Mirandópolis?

Devido às minhas escolhas e suas consequências, viciei em cocaína e até cheguei a traficar, ajudando a prejudicar outras vidas. Embora não tivesse vícios em outras drogas, a cocaína dominou minha vida por 20 anos. Parava por um tempo, mas sempre voltava pior. Esse vício trouxe consequências ruins. Diante disso, pedi ajuda à minha família para me internar. Meus irmãos Janaina, Jaqueline e Rogério se mobilizaram e encontraram uma clínica para que eu buscasse um reencontro com a vida. Assim, vim para Caarapó, onde passei nove meses em uma clínica chamada Revivi – Recuperando Vidas do Vício. Consegui me libertar das drogas e reencontrar Deus, tornando-me um homem, filho e pai para minha filha, além de um cidadão para a sociedade. Carrego minhas cicatrizes para ajudar outras vidas nesse processo. Estou em Caarapó há três anos; depois que saí da clínica, comecei a trabalhar como porteiro e sou monitor da clínica de forma voluntária, ajudando a recuperar outras vidas. Sou eternamente grato a essa cidade por ter me libertado, e Jesus tem transformado minha vida diariamente.

Esquilo atua de forma voluntária como monitor da clínica Revivi para ajudar a recuperar outras vidas. Foto: Divulgação

O que Mirandópolis representa na sua vida?

Sem dúvida, Mirandópolis é uma cidade que me emociona ao falar. Tenho muita saudade, mas, devido às minhas escolhas, isso também traz dor por causa das atitudes que tomei. Fiz grandes amigos e creio que um dia voltarei, pois não consigo contar meu testemunho sem mencionar Mirandópolis. É a cidade onde nasci e que amo. Tenho o sonho de voltar para Mirandópolis e ajudar outras pessoas. Peço a Deus que me honre com a oportunidade de retornar e honrar a cidade com minhas atitudes. Todas as coisas têm um propósito, independentemente das escolhas erradas que qualquer um possa fazer. Precisei ir longe para encontrar figuras paternas em Caarapó; Deus me levou a esse lugar para que eu pudesse me reencontrar como homem. Para finalizar, deixo aqui um versículo: “Veio, porém, a lei para que a ofensa abundasse; mas, onde o pecado abundou, superabundou a graça”.


                       
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