‘Tem profissional que não pode abraçar o filho, isso é muito doloroso’, relata Celso Martins sobre epidemia do coronavírus
Seu primeiro emprego foi na farmácia e depois começou a trabalhar no hospital, em 1987, como atendente. Esse é Celso Martins, que nasceu em 1966, em Valparaíso, e travou uma dura jornada para conciliar estudo e trabalho, mas com muita luta conseguiu se formar, uma prioridade para sua mãe. Hoje o combate está diretamente ligado ao coronavírus, uma realidade complicada para se enfrentar dentro do hospital. Confira abaixo a entrevista completa.
Nasceu e cresceu onde?
Nasci em Valparaiso e já vim para Mirandópolis, portanto minha história de vida é aqui. Tive uma infância muito difícil, passei por muitas dificuldades, filho de uma mulher simples, mas que acreditava na educação por não ter tido a oportunidade de estudar. E por isso ela lutou para que fosse diferente, e foi, ela conseguiu fazer com que o estudo fosse prioridade.
Qual é sua formação?
Estudei em escola pública como Dr. Edgar e Noêmia Dias Perotti, depois fiz o curso de Auxiliar de Enfermagem e já trabalhando consegui fazer a faculdade de Enfermagem. Após terminar a graduação fiz várias especializações, entre elas na Universidade Federal de São Paulo, Gestão em Saúde, na Federal Fluminense fiz Políticas de Saúde, entre outras.
Sempre gostou da área de saúde?
Meu primeiro serviço foi na antiga farmácia do Koike (farmácia Nossa Senhora Aparecida), e já era apaixonado por trabalhar com as pessoas e com os medicamentos. Depois fui trabalhar na Casa de Saúde como atendente e em seguida prestei concurso no Hospital, trabalhava durante o dia no hospital e a noite na casa de saúde. Nesse período já acalentava o sonho de fazer faculdade, mas era preciso trabalhar para juntar dinheiro para realizar esse sonho.
Quando começou a trabalhar no hospital?
No hospital comecei em 1987, como atendente, depois que fiz o curso de auxiliar de enfermagem prestei concurso e já comecei a trabalhar como auxiliar. Nesse momento optei pela graduação, eram momentos difíceis, durante a semana ficava fora estudando e nos finais de semana vinha para cumprir minha jornada de trabalho no hospital. Entrava na sexta-feira à noite e saía só na segunda-feira, nos feriados trabalhava direto para pode cumprir a jornada. Sou muito grato a todos que na época me incentivaram, em especial aos colegas de trabalho. Ao concluir minha graduação, optei em pedir demissão do Hospital e fui trabalhar no Hospital da Beneficência Portuguesa, em São Paulo, onde aprendi muito, praticamente outra escola. Durante a minha graduação, prestei concurso no Hospital Estadual para Enfermeiro e fui habilitado. Quando estava trabalhando fora, minha mãe não estava bem de saúde e nesse momento saiu minha nomeação para o cargo de enfermeiro no Hospital Estadual, precisava voltar, profissionalmente estava bem em São Paulo, mas o amor pela minha mãe nesse momento falou mais alto.
O que pode falar da atual situação?
Já vivenciei vários surtos, mas nessa proporção é o primeiro e é tudo muito diferente. Existe uma preocupação muito grande por se tratar de uma pandemia e por ter se tornado uma transmissão comunitária. Além disso, a forma como isso está acontecendo deixa muito preocupado. Está sendo um grande aprendizado, exigindo muita leitura, pois é importante buscar conhecimento nesse momento dessa pandemia.
Como está sendo o trabalho?
Embora não trabalhe na assistência direta, vejo com muita preocupação, apreensão pelos meus colegas que estão na linha de frente. Já ouvi relato de profissional que ao chegar em casa não pode abraçar o filho, isso é muito doloroso. Inevitavelmente existe o risco do contágio, nesse momento é importante que os EPI’s (Equipamentos de Proteção Individual) estejam disponíveis, seguir normativas da ANVISA, treinamentos, protocolos, enfim, ações que possam resultar em uma ação segura para todos, profissionais e pacientes.
Qual a diferença entre quarentena, isolamento e distanciamento social?
Todas as três são ações de saúde pública que tem como principal objetivo a redução a disseminação da doença, no entanto possui algumas diferenças. A quarentena é o ato de separar/restringir a circulação de pessoas saudáveis e que pode ter sido exposta à uma doença nesse momento ao coronavírus e tem como objetivo evitar a propagação da mesma. Vejam bem, uma pessoa que está em quarentena pode ter sido exposta à doença e ainda não o sabe, ou seja não apresenta sintomas. O isolamento procura separar a pessoa que já está doente daquelas que estão saudáveis. Neste caso, o isolamento é feito por prescrição médica, seguindo protocolos. O distanciamento social é bem diferente, pois trata de uma ação voluntária das pessoas, devendo assim evitar o contato próximo, manter o distanciamento, evitar os abraços, aperto de mão e assim também contribuir para redução na propagação da doença infecciosa.