Reflexões quaresmais (6)
Foto: Pai Eterno
Acertadamente algumas pessoas falam que na Quaresma se deve fazer o “jejum da língua”, expressão coloquial que indica a necessidade de se guardar do falatório vão. Mas erroneamente muitas pessoas usam a mesma expressão para indicar a idéia de não falar mal do próximo. Ora, não falar mal do próximo não é uma abstinência quaresmal, mas um dever. Com as abstinências buscamos nos privar de coisas boas para alcançar outras mais elevadas, e não falar mal do próximo é hábito de toda pessoa sensata e justa.
Evidentemente, temos que fazer juízos sobre os outros: para exortar alguém a deixar um vício ou mau comportamento, por exemplo, é necessário antes identificar aquilo e só depois admoestar a pessoa, e nessa fase de identificação se encontra o próprio juízo. Ou seja, por meio dele nós enxergamos um erro e assim podemos denunciá-lo, a quem erra ou a quem de direito.
É comum também fazermos apontamentos, para pessoas da nossa confiança, sobre a conduta ou o jeito de outras pessoas. Neste caso, se o intento for algo como um desabafo ou a busca pela mudança de alguém, normalmente não chega a ser um pecado, desde que daí não se recaia naquela curiosidade sobre a vida alheia. Tal curiosidade, aliás, é como o oxigênio que alastra o fogo: se por um lado há a língua ferina a falar de alguém, de outro lado há o ouvido interessado demais naquilo que não lhe diz respeito.
O tempo quaresmal, queridos irmãos, é justamente para isso. Se ficarmos presos a essas malditas mesquinharias, jamais teremos a alegria de ouvir a voz do próprio Deus a nos orientar… Estamos imersos numa sociedade decadente e devassa, e não podemos nos deixar arrastar por esses péssimos hábitos. Fiquemos muito atentos porque entre os condenados ao inferno há diferenças tanto na variedade quanto na graduação dos pecados… Por coisa pequena e rasteira pode-se perder o que o melhor e mais elevado – Deus mesmo.
Neste tempo santo, busquemos silenciar mais, moderar nossas palavras e sufocar nossa curiosidade fútil: o Senhor tem tesouros de alegria e paz imensamente superiores àquilo que a balbúrdia e a devassidão do mundo oferecem, e isto Ele reserva a quem a Ele se apega… E além do mais, Ele é sem dúvida alguma muito mais interessante do que tudo o que nós podemos supor, imaginar e desejar…