Aquele choro

Aquele choro

Foto: Cyndi Ferrarezi

No meio da madrugada o ônibus parou no posto de serviço. Alguns passageiros desceram – lanche, banheiro, esticar as pernas –, mas aquela mãe ou já tinha descido e voltou logo ou lá permaneceu com o menino durante a parada toda, em que ele chorou o tempo inteiro… Mas não era exatamente um choro que incomodava; não eram gritos; era um choro que parecia interpelar; parecia que ele conversava com a mãe. Eu não entendia nada – nem ela, talvez –, mas aquilo me tocou.

Parecia ser uma longa súplica, de quem quer ou precisa de algo. Era o choro dos pequeninos, daqueles que dependem de alguém, que não têm a quem recorrer a não ser aqueles a quem foram confiados. Curioso, belo, trágico: as crianças confiam. Se tiverem bons pais, uma maravilha! Se nascem em famílias mal-formadas, uma tragédia à vista…

No choro de uma criança podemos como que ouvir o de todas as outras!… Eu não sei dizer se aquele menino chorava por manha ou porque sentia algo – quase fui lá perguntar –, só sei que logo depois que o ônibus partiu, ele parou – deve ter dormido. E imaginando qual seria o motivo, imaginei outros, terríveis, mesquinhos, repugnantes. Senhor dos Céus, quantas crianças pedindo socorro!… Aquele choro belo – que espero ter sido por motivo trivial – bem que podia ser o de todas as crianças: meigo, humilde, suplicante, ainda que comovente…

Ali dentro no ônibus, pensei ainda no que Jesus teria dito ou balbuciado a cada golpe que levou dos algozes… Mais puros e santos que o choro dos pequeninos, os sussurros de dor de Nosso Senhor… E se queremos aliviar um pouco seus sacrossantos sofrimentos, um bom caminho é ouvir o clamor das nossas crianças. “Por que choram, pequeninos?”. Ah, que possamos todos dar o carinho e a atenção de que elas precisam… rezar por elas, ensiná-las a rezar… ensinar-lhes o bom caminho da salvação…

Eu queria ter ido até aquele menino e lhe dado um longo abraço… Queria pegá-lo no colo e saber o que ele queria… o que dizia… o que lhe faltava… E lembrando daquele choro, penso em todas as crianças, e suplico por elas que Jesus, o Bom Pastor, enxugue suas as lágrimas, lhes proteja de todos os males e lhes abra as portas do Reino Celeste, lá onde, se houver choro, será somente de alegria, júbilo e exaltação!

Que Jesus, Maria e José acolham cada uma das nossas crianças!


                       
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