Nas alturas, mirandopolenses trabalham viajando mundo afora
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Você imagina aviões, mesmo de pequeno porte, descendo em Mirandópolis? Isso aconteceu por muitos anos no campo de aviação, localizado no bairro Aeroporto. Tudo começou em 1945 quando foi fundado o Aero-Club, sendo que nos anos seguintes a cidade chegou a ter outras seis pistas de pouso, sendo essas em propriedades rurais.
Com o tempo ficou inviável e ficamos sem o campo de aviação, mas alguns mirandopolenses partiram para trabalhar no setor. Foi o caso do Carlos Roberto Dornelas Calandria, que tem 55 anos e voa desde 1989. “Sai de Mirandópolis em 1981 para estudar em Sorocaba e Rio Preto. Depois iniciei engenharia no Rio de Janeiro e devido ao alto custo, fiz novo vestibular e entrei na Unesp, em Ilha Solteira. Só que parei porque descobri que não era o que queria para a vida”, revela Beto Calandria, como é conhecido.
Só que o gosto pela aviação corria no sangue, desde pequeno, mas o valor do curso de piloto adiava o sonho. “Minha família me ajudou muito, lembro que fomos sorteados com um título de capitalização que foi fundamental para meus pais conseguirem realizar meu sonho de estudar e me tornar um profissional da aviação”, recorda Calandria.
Com esse recurso foi possível estudar no aeroclube de São Paulo de 1984/1989, sendo que depois iniciou seus trabalhos na aviação executiva, de 1990 a 1995. Na sequência ingressou na TAM, hoje a empresa é chamada de Latam, em 1996 onde está até hoje.
“Voei na aviação nacional até 2009, sendo que em 2010 comecei a voar internacionalmente. Tenho muito orgulho de conhecer todas as principais cidades do Brasil. Além disso, hoje tenho a oportunidade de voar para Estados Unidos, Europa e África”, explica Calandria, comandante de Boeing 767-300.
Beto comenta que comandante e copiloto tem o mesmo treinamento e ambos estão habilitados a voar a aeronave com segurança. A diferença é que o comandante, geralmente, tem mais experiência de voo e já passou pelo processo de avaliação técnica e psicológica exigidos pela agência reguladora (ANAC) e da companhia aérea.
“O comandante é sempre o responsável legal pelo voo perante a autoridade aeronáutica e a companhia aérea. Nossa função é a segurança do voo, o cumprimento do manual geral de operações e os procedimentos de voo previstos no manual da aeronave. Felizmente, nunca tive problemas técnicos durante o voo, apenas transtornos gerados por nevascas e furacões. A aviação brasileira é muito segura com profissional comparável à Europa e EUA, porém, nossa infraestrutura é muito deficiente ainda”, completa Beto.
Quem também preza pela segurança nas alturas é Gustavo Guerra Batista, mirandopolense de 43 anos, que é comissário de voo.
“Em Mirandópolis estudei na escola Dr. Edgar até a oitava série, foram anos especiais que trago na memória. Saí da cidade em 1992, fui fazer o segundo grau no Colégio Anglo, em Araçatuba. Depois fiz Direito na UniToledo. Voltei a morar algumas vezes em Mirandópolis, mas há muitos anos moro em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul”, analisa Guerra.
O comissário comenta que nunca havia imaginado exercer a profissão, apesar de desde pequeno ter um encanto muito grande por aviões. “Fiz o caminho inverso de muitos, primeiro fiz a faculdade e só depois fui trabalhar na aviação. Estava descontente na minha área de formação e um dia me falaram do curso de comissário. Amadureci a ideia e, com total apoio dos meus pais, fui para São Paulo e lá fiz o curso e me formei. E lá se vão quase dez anos”.
Guerra explica que comissário de voo é o profissional que atua a bordo de aeronave, zelando pela segurança e conforto dos passageiros. O profissional é agente de segurança, essa é a principal função a bordo. Além disso, fica responsável pelo serviço de bordo e atendimento aos clientes.
Entre situações inusitadas vividas nas alturas estão pedidos de casamento, assim como emoções variadas, como o encantamento de pessoas no primeiro voo e situações como o transporte de órgãos para salvar vidas. “Já fiz muitos voos internacionais, passando por cerca de dez países entre América do Sul e Caribe. Hoje, por opção minha, só faço voos dentro do Brasil, conhecendo todas as capitais e dezenas de outras cidades. Nunca passei por uma situação de emergência que fosse assustadora ou que causasse pânico aos passageiros, mas somos intensamente treinados, caso venha a ocorrer. É uma grande responsabilidade, pois além de transportar vidas com segurança, zelamos pelo conforto e bom atendimento a bordo”, completa Guerra.
Gustavo optou por voos dentro do Brasil Beto (direita) ingressou na TAM em 1996 Beto (segundo da direita pra esquerda)