CRÔNICA: Bate bola, jogo feio
Quarta-feira passada a noite tive uma das piores experiências estéticas de toda a minha vida. O segundo tempo do primeiro jogo da final do campeonato paulista entre Corinthians e Palmeiras foi algo grotesco, sofrível, ridículo e lastimável, isso vindo de alguém que assiste os mais pitorescos campeonatos existentes.
Como de costume, as metáforas com o jogo que aqui trago não são por acaso, pois poucos fenômenos espelham tão bem uma nação como o futebol em relação ao Brasil e, com um pouco de perspicácia, é possível refletir os exemplos citados aqui na firma em que você trabalha, na cidade em que vive, nos políticos que elegeu.
Seguindo, me perguntei em meio a feiura do jogo e a tanta solidão, ódio, tristeza, angústia, ansiedade, crises no âmbito sanitário, político e ético, qual a essencialidade do futebol? Como a volta do futebol e de seus heróis afetam as pessoas comuns? Por que o jogador não é tratado como uma pessoa comum?
O futebol não é essencial nem para si próprio, visto que transmite-se em horário nobre a elite que retornou, mas não transmite-se a esmagadora maioria que sustenta a família com um ou dois salários e teve seu contrato rescindido sem nenhuma ajuda da CBF que se preocupa em vender suas licenças nada acessíveis a treinadores que passam necessidade em meio a pandemia.
Ouvir numa transmissão uma piada sobre aglomeração, em meio a um princípio de briga, num jogo sem torcida, sem organização, sem gols e sem graça é, no mínimo, patético e de um mau gosto tremendo.
E nós, meros mortais, como somos afetados? Qual o impacto em ler uma notícia que uma equipe se recusa a fazer o teste do Covid antes de uma final? Que o mais caro hospital do país que tem feito os testes do campeonato paulista positiva 26 membros de uma equipe e três dias depois tem os mesmos 26 exames negativados? Por que a lei vale pra um e não vale pra outro se a moral é a mesma?
Caso esteja esperando as respostas, me desculpe e boa sorte.
Por Lucas Rafael de Castro Bettone, Bacharel em Ciências do Esporte e Especialização em Futsal: Teoria e Metodologia do Treinamento / Foto de capa: Cesar Greco/SE Palmeiras
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