Abril Azul: mês da conscientização do autismo; entenda sobre o TEA e como as famílias superaram os desafios

Abril Azul: mês da conscientização do autismo; entenda sobre o TEA e como as famílias superaram os desafios

Em abril é celebrada mundialmente a campanha Abril Azul, estabelecida pela Organização das Nações Unidas (ONU), no ano de 2007, com o objetivo de promover a conscientização da população sobre a inclusão de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA).

A psicóloga Daniela da Cruz Zatoni, que atua na APAE de Mirandópolis (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais), atendendo diretamente pessoas com Transtorno do Espectro Autista, explica que o TEA é um distúrbio do neurodesenvolvimento, que é caracterizado por desenvolvimentos atípicos, manifestações comportamentais, déficits na comunicação e na interação social e padrões de comportamentos repetitivos e estereotipados, que podem apresentar um repertório restrito de interesses e atividades.

“Algumas crianças apresentam sintomas logo após o nascimento, contudo, na maioria dos casos, eles apenas são consistentemente identificados entre os 12 e 24 meses de idade. Não obstante essa evidência, o diagnóstico do TEA ocorre, em média, aos quatro ou cinco anos de idade, na medida em que a linguagem não se desenvolve”, informa a psicóloga.

Segundo Daniela, alguns sinais alarmantes no comportamento da criança incluem a dificuldade em demonstrar expressões faciais apropriadas à situação vivenciada; dificuldade em reconhecer o que os outros podem estar pensando ou sentindo ao ver as suas expressões faciais; ser menos propenso a demonstrar preocupação (empatia) com os outros; dificuldade em estabelecer e manter amizades, entre outros sinais comportamentais.

“A orientação aos pais, professores e/ou responsáveis é de que procurem auxílio médico quando há os seguintes sinais: Pouco contato visual; não interagir com outras pessoas; bebês que não fazem jogo de imitação; não atender quando chamado pelo nome; dificuldade em atenção compartilhada; atraso na fala; não usar a comunicação não verbal; comportamentos sensoriais incomuns; não brinca de faz de conta; movimentos estereotipados”, orienta a profissional.

APAE DE MIRANDÓPOLIS

Conforme dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que uma em cada 160 crianças tenha TEA. Atualmente, na Apae de Mirandópolis, são atendidas 22 pessoas com Transtorno do Espectro Altista, que utilizam os serviços de Saúde e Educação.

Em entrevista para o jornal AGORA NA REGIÃO, a diretora da APAE local, Renata Oliveira de Paula Araújo, explica que, “para a APAE o diagnóstico precoce é fundamental para que a criança possa receber o tratamento e a estimulação adequadas, viabilizando o desenvolvimento de suas habilidades e potencialidades com vistas a  ter uma vida produtiva e inclusiva”, conta Renata.

De acordo com a diretora, todo o trabalho se inicia com o processo de acolhimento da família que é encaminhada para a instituição. Toda a triagem é feita pela equipe de Assistência Social e avaliação inicial é realizada pela equipe da saúde, que direciona em seguida a criança para as terapias das quais necessita.

“Por meio da avaliação psicológica, é informado para a família se a criança necessita do ensino educacional especializado na escola de educação especial da APAE ou pode se beneficiar da inclusão na rede regular de ensino, lembrando que esta decisão cabe aos pais ou responsáveis”, explica a diretora.

Atualmente a APAE de Mirandópolis presta serviços nas áreas de educação, saúde e assistência social, sendo que na saúde são oferecidos serviços de fisioterapia, acompanhamento psicológico, fonoaudiólogo (em contratação), terapeuta ocupacional (em contratação) e de equoterapia.

Já na educação, os atendimentos se dão através de salas de educação especial, com professores especializados em autismo, além de oficinas de artes, esportes e fanfarra. Por fim, na área de assistência social, são desenvolvidos serviços de empregos apoiados, com um autista trabalhando no Supermercado Sakashita.

DESAFIOS DAS FAMÍLIAS

Priscila Camilo Gomes, 30 anos, mãe de Gabriel Gomes Magalhães, 10 anos, conta que seu filho recebeu o diagnóstico positivo para a TEA aos três anos e meio, apresentando sinais de autismo clássico de grau severo, com déficit de atenção e hiperatividade.

“De início esse mundo era totalmente desconhecido para mim e apesar do Gabriel apresentar um quadro tão evidente fisicamente ele não apresenta nada que denota uma deficiência nem na forma de olhar. Nós fomos percebendo devido a demora e os atrasos na fala, pelo nervosismo no sono e também pela dificuldade em entender e olhar o que eu falava com ele”, relata Priscila.

Segundo Priscila, Gabriel era distante e elétrico e, ao levar o filho em consultas pediátricas a mãe sempre ouvia que este atraso era normal e que ele logo iria falar, fazendo com que ela se fechasse para qualquer possibilidade do Transtorno do Espectro Autista.

“Quando eu descobri o autismo eu perdi o chão, não entendia nada sobre o assunto, mas tive muito apoio da minha mãe, que me criou numa base incrível e também da minha irmã, que já tinha percebido os sinais, mas como há dez anos o autismo estava aflorando e os médicos que eu ia me diziam que tudo estava bem eu me recusava a aceitar, então quando a notícia chegou eu pensei que fosse desmoronar, mas tive o apoio da minha mãe que me confortou e me deu forças”, completa Priscila.

Priscila Camilo Gomes é mãe de Gabriel Gomes Magalhães

Katy Aparecida Biazoto, 43 anos, mãe de Nicolas Biazoto de Oliveira, 12 anos, revela que antes de receber o diagnóstico positivo para TEA, seu filho já fazia acompanhamento com uma Terapeuta Ocupacional, que o indicou para as avaliações clínicas necessárias.

“O Nicolas já fazia acompanhamento com psicóloga e neurologista, mas até então eu achava que ele era hiperativo, então não houve a percepção de que pudesse ser autista, pois ele era bastante agitado. Na creche eu percebi que ele não gostava de ficar com outras crianças e sim com pessoas adultas e eu sempre conversava muito com a terapeuta ocupacional, que por sua experiência notou algo diferente. Me pedindo para leva-lo para ser avaliado por uma equipe multidisciplinar”, conta Katy.

Segundo Katy a primeira reação da família para o diagnóstico positivo foi a negação. “De momento meu esposo e o restante da família não acreditaram e demoraram um pouco para aceitar o diagnóstico. No meu caso, depois do choque e uma crise de choro eu parei, refleti e aceitei, pois seria o melhor para ele. Assim conseguiria que seu tratamento agora fosse direcionado para uma criança autista, que foi o que fizemos”.

Apesar do susto pela falta de informação inicial acerca do TEA, Katy e Priscila contam que a convivência de seus filhos com outras pessoas e apesar de necessitarem de uma rotina especial são crianças saudáveis e felizes.

Katy Aparecida Biazoto é mãe de Nicolas Biazoto de Oliveira

APOIO E SUPERAÇÃO

“Quando o Gabriel foi diagnosticado uma assistente social me disse ‘Deus não dá nada especial para quem não tem capacidade’ e aquilo me deu forças e hoje eu sou uma pessoa muito melhor do que já fui antes. Claro que haverá dias difíceis eu os tenho até hoje, mas é tão reconfortante ver um sorriso e presenciar cada vitória do meu filho. Por isso diria para que as mães e pais não desistam e que vejam o autismo com o amor que ele precisa para poder ir a luta”, reforça Priscila.

Hoje eu diria para as mães e pais, que o melhor é a aceitação do diagnóstico, para que a criança possa receber o atendimento e a atenção necessária. Eles precisam de muito carinho, amor, paciência e dedicação das pessoas que os rodeiam, isso tudo faz uma grande diferença na vida deles e na nossa também”, finaliza Katy.

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