Sem citar nomes, vereadora Magali afirma existir “grupo organizado” dentro do Hospital Estadual e que unidade não precisa de funcionários

Sem citar nomes, vereadora Magali afirma existir “grupo organizado” dentro do Hospital Estadual e que unidade não precisa de funcionários

Em uma publicação veiculada em rede social no último dia 15, a vereadora Magali Maziero Rodrigues (PSL) afirmou que dentro do Hospital Estadual de Mirandópolis (HEM) possui um “grupo organizado e beneficiado” que atua em desvio de função e que seu principal objetivo é “perseguir e fingir que trabalha para manter seus cargos desocupados”. 

Ainda segundo a vereadora, a unidade precisa passar por uma intervenção ou auditoria “urgente”. Para a parlamentar, o hospital não precisa de médicos, administrativos e técnicos, mas sim de gestão. 

Procurada pelo jornal para comentar as declarações, a vereadora não citou nomes de quem participaria desse grupo mencionado por ela na publicação. Também não informou de que forma ele atuaria dentro da unidade, mas disse que não se trata de grupo criminoso. Ainda segundo Magali, existe um complô formado por funcionários e que todos cumprem ordem do diretor do hospital, Ciro Renato El Kadre, mesmo de forma errada. 

Na semana passada, o diretor da unidade respondeu, por ofício, aos vereadores Roberto Gonçalves (PDT) e Grampola Pantaleão (PP) afirmando que existe bloqueio de leitos na unidade por falta de enfermeiros e técnicos de enfermagem. O Estado disse que não há bloqueio em leitos de UTI, mas não falou nada sobre leitos de enfermaria. 

O vereador Grampola Pantaleão afirmou ao jornal que fez contato com deputados estaduais e que vai solicitar a intermediação deles junto ao governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) para solucionar a ausência de funcionários da unidade.

O jornal apurou que o déficit de funcionários também atinge o quadro de direção do hospital. Das nove cadeiras disponíveis para direção, apenas três estão sendo ocupadas: o de diretor geral, diretor administrativo e diretor ambulatorial. Ainda segundo o que foi apurado pela reportagem, as demais cadeiras estão sendo ocupadas pelos próprios funcionários da unidade, sem acréscimo no salário. A estrutura administrativa do HEM e de outros três hospitais é inferior quando comparada com os demais hospitais gerenciados pelo Estado.

No começo de junho, segundo apurado pelo jornal, está marcada uma reunião com o secretário de Estado, Eleuses Paiva, e a direção do hospital para debater, entre outras questões, a necessidade de contratação de mais profissionais. 

Procurado para comentar as declarações da vereadora, o diretor Ciro Renato El Kadre, disse que não tem autonomia para comentar fatos narrados em rede social.

Já a Secretaria de Estado da Saúde respondeu o jornal AGORA NA REGIÃO com a seguinte nota: O Hospital Estadual de Mirandópolis (HEM) informa que não procedem as acusações relatadas pelo veículo contra o corpo diretivo da unidade. O HEM reforça o compromisso com a prestação de serviços à população, tendo realizado, neste ano, mais de 9,6 mil atendimentos. Em todo o ano de 2022, foram 32,5 mil atendimentos.

Vereadora Magali Maziero na Câmara de Mirandópolis.
Foto: Arquivo AGORA

ENTREVISTA EXCLUSIVA

Em entrevista ao jornal AGORA NA REGIÃO, após ter feito uma publicação em rede social, a vereadora Magali Maziero Rodrigues afirma existir um complô de funcionários dentro do Hospital Estadual de Mirandópolis e que o maior problema na unidade é a falta de gestão, em especial, do diretor da unidade. Confira a entrevista completa com a parlamentar.  

Por que a sra. acha que o problema do hospital não é a falta de funcionários?

O que me levou a fazer a publicação foi devido a um ofício. Eu fui procurada pela população para saber o que estava acontecendo no hospital. Lá no hospital você só recebe “não”. E eles estão colocando a culpa no município. Em abril, mandei um ofício para o hospital. Mas não foi respondido o que eu perguntei. Muita gente veio me questionar sobre o que estava acontecendo com o hospital porque não estava fazendo cirurgias, tem muita falta de medicação… Foi então que eu mandei ofício para o diretor para saber se tudo isso era verdade. Questionei a ele se o hospital de Mirandópolis tinha perdido para o hospital de Guaraçaí. Isso ele me respondeu negando, que não conhece o fato. Mas eu perguntei sobre as cirurgias eletivas porque dizem que está acontecendo no hospital, mas não está acontecendo. Ele não me respondeu. Quando você procura uma pessoa por meio de ofício é porque você quer uma resposta porque eu preciso responder os munícipes que me procuraram. Eu não tenho resposta porque ele não falou nada. E sobre a falta de funcionários, eu recebi ligações anônimas, e pelo fato da conversa eu percebi que é funcionário lá de dentro, mas não posso identificar quem é a pessoa. Lá dentro tem muitos cuidadores, pessoas que cuidam de quem está internado. E essa é uma delas. 

Mas se o problema não é a falta de funcionários, o que seria? 

As ligações anônimas que me fizeram dizem que tem funcionário trabalhando. É por isso que eu pedi ao diretor uma auditoria. Só entrevistando os funcionários que vamos saber se isso é uma verdade. É como a notícia da terceirização como falam, eu preciso saber se é verdade porque quando você procura o diretor ele fala que é mentira. 

O diretor disse que há falta de funcionários

Eu não acredito. Sobre a última matéria que saiu no jornal, eu desconheço esses 99 leitos. Eu conheço uma pessoa que estava internada com o pai e precisava de um quarto e chegaram a falar para essa pessoa que não havia quarto, que estavam todos ocupados. Até a polícia foi chamada. E ela subiu para filmar os quartos todos vazios. Então, como vou acreditar nisso que é uma falta de funcionários mesmo? 

Mas o que seria o problema maior na sua visão? Falta de gestão? 

Com certeza. 

Por parte do diretor ou do Estado? 

Eu creio que por ambas as partes. Mas acho que mais do diretor do hospital. 

Sobre as cirurgias eletivas, ele alega que depende do CROSS e não da unidade

Mas a gente procura saber e ele fala que está funcionando, que contratou bastante médico, que fez isso e fez aquilo, mas não é o que a gente vê. Fiquei sabendo que o postão vai voltar a funcionar no horário de antes. Não vai mais até a 1h e sim até às 22h. Mas isso é porque o hospital não está ajudando o Município. Chega uma pessoa passando mal eles mandam para o postão. O nosso hospital é um dos melhores da região. Não pode deixar acabar. A gente tem que lutar pelo nosso hospital. Eu e o vereador Comandante já fizemos denúncias contra esse hospital, que tinha outro diretor na época. Eu descobri coisas ali… Só que isso já passou e pelo jeito não fizeram nada. Tem um aparelho de colonoscopia e na época disseram que não havia médico para mexer. Mas tem médico. Então, eu acho que a gestão deixa a desejar. 

O que é esse grupo organizado que a sra. mencionou e quem faz parte dele? 

São denúncias anônimas e eu não posso citar nomes. Mas tem um complô ali dentro, sempre teve essa “panela”, de funcionários do hospital. 

E como esse grupo atua? 

Como eu posso te dizer… Por exemplo, o diretor dá uma opinião e todos são sujeitos a ele. Mesmo sabendo que está errado ficam a favor a ele. Eu acho isso muito errado. 

Mas de que forma funciona a atuação desse grupo? 

Não tem como eu te explicar o jeito que é feito. Eu sei que existe uma panela ali dentro. Se o doutor Ciro falar “amém”, o pessoal concorda. Não são todos. Tem muita gente honesta ali. 

Não se trata de questão de hierarquia? 

Não. Eu creio que não. 

Vai além disso? 

Eu acho. Na minha opinião sim. Por isso estou pedindo uma auditoria porque através disso, conversando com os funcionários, vamos ter uma resposta melhor. 

Mas existe algum crime cometido por esses funcionários? 

Não, não… Crime não. 

Mas quando a sra. fala de grupo beneficiado, como esse grupo se beneficia? 

Eu acho que não posso dizer. Isso eu acho melhor não falar porque vou envolver nomes e eu não quero. 

A sra. recebeu isso por meio de uma denúncia? De um funcionário? 

Eu acho que é. Não tenho certeza. Teve de outras que não são de funcionários. 

A sra. chegou a se reunir com o diretor do hospital? 

Não. Mandei um ofício. Há um tempo atrás ele fez uma publicação sobre o hospital de Guararapes e eu achei que por ele ser diretor daqui estava muito preocupado com o hospital de lá. Daí eu fiz uma postagem e ele não gostou e fui bloqueada. 

Diante dessas denúncias que recebeu, a sra. encaminhou ao Ministério Público? 

Eu vou atrás. Não podemos deixar o nosso hospital acabar. Não era nem para ter acontecido nada disso se o diretor tivesse sido camarada, tivesse me respondido… Não era para chegar nesse ponto de ficar nervosa e acabar publicando essas coisas. 

O Estado nega possível terceirização, o que a sra. acha disso? 

Eu recebi várias ligações e denúncias dizendo que encerra as atividades esse mês. Eu ouvi falar. Mas temos que esperar para ver. Eu fiquei muito assustada com a reação do diretor com minha postagem. Ele não é homem para ligar para mim. Ele procurou um vereador para mandar recado para mim. Será que ele está querendo me intimidar? Não sei. 

Mas o que ele disse? 

Disse que eu vou ter que provar o que eu coloquei na publicação. Sim, eu vou provar sim se por acaso marcar uma auditoria e chamar as pessoas que trabalham lá dentro. Não tem como eu dar nomes se as pessoas me ligaram, mandaram mensagem… Eu tenho no meu celular sim. 

A sra. se sentiu ameaçada?

Lógico. Dizer que eu tenho que provar o que coloquei ali… Eu vi isso como uma ameaça. E ele sabe que esse vereador é bem próximo a mim. E ele já fez esse comentário justamente para chegar em mim e colocar medo. Mas eu não tenho medo. Não tenho medo dos meus atos. Se eu estou buscando é porque estou vendo que está precisando. Seria errado se eu virasse às costas. Eu procurei sim através de ofício, mas não fui respondida. Eu acho que ele [diretor] tinha que dar um posicionamento e falar o que está acontecendo, se vai terceirizar ou não. 


                       
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