Nova luta diária: Cláudio Morena fala sobre o processo de tratamento do câncer

Nova luta diária: Cláudio Morena fala sobre o processo de tratamento do câncer

No dia 19 de junho, o vereador Cláudio Morena publicou um vídeo em rede social que entraria em uma nova fase de sua vida. Ele recebeu o diagnóstico de um câncer no intestino, também chamado de câncer do cólon e do reto. O jornal AGORA NA REGIÃO o entrevistou para falar sobre esse processo. Atualmente, Morena está afastado de suas funções como vereador por 60 dias. No seu lugar, assumiu seu suplente Luciano Bersani (PP). Confira a entrevista completa. 

Como você enfrentou essa fase, do começo do diagnóstico até aqui, e como você se sente hoje? 

Eu senti o golpe só na hora que fiquei sabendo, da forma como o médico me passou. Eu sabia que tinha alguma coisa, mas não achava que era tão grave. Fiz todos os procedimentos no Hospital e logo depois que eu saí, uma amiga nossa viu o resultado da biópsia e comentou que o marido dela também havia passado por isso e ele estava bem. Então, isso me trouxe uma paz. Eu não vivi um período de medo, incertezas, de perguntas sem respostas. Até mesmo dentro do Hospital, quando estava internado, as pessoas me motivaram. Em nenhum momento eu entrei em desespero. Tive o primeiro impacto e depois as coisas foram ocorrendo gradativamente. Hoje, me sinto bem devido às orações e ao compartilhamento das pessoas que passam por situações semelhantes. Isso para mim está sendo muito bom e gratificante. Está me fortalecendo muito. Eu não sabia o tanto de pessoas que têm carinho por mim. A gente tem ideia de que as pessoas gostam de você, mas naquele momento em que você mais precisa, na grande maioria, são poucos que estendem a mão. Mas em cima dessa minha situação está me surpreendendo e está me ajudando muito. 

Poderia descrever quais foram os sintomas? 

O meu primeiro alerta foi quando percebi sangue nas fezes. No início era pequeno, mas em um determinado tempo foi aumentando. Eu procurei a Unidade Básica de Saúde e depois fui encaminhado para o AME. Foi diagnosticado uma hemorroida interna, com possibilidade de ser alguma outra coisa. Foram solicitados dois exames. O primeiro foi uma endoscopia devido às queimações no estômago, mas que era causado por estresse. E outro exame, que eu teria certeza que mostraria esse problema, não fui chamado para fazer. Depois de muito tempo tive diarreia e não estava cortando. Às vezes vinha com sangue, às vezes não. Houve depois uma sequência maior. E como a gente estava vivendo essa doença de Crohn da Bebel, acabei achando que a minha poderia ser alguma doença intestinal. Comecei a emagrecer sem perceber. Às pessoas começaram a perceber isso e eu não. Quando caiu minha ficha eu comecei a imaginar que alguma coisa não estava normal. De repente minha barriga começou a inchar. Procurei um médico em um domingo e depois fui liberado. Na segunda-feira, retornei porque começou a inchar novamente. Tudo que eu bebia ou alimentava acabava vomitando. E daí me falaram que eu precisava fazer o procedimento. 

Rosemeire, esposa de Morena, tem auxiliado o marido durante essa nova fase da vida do vereador. Foto: Vinicius Macedo 

Qual o momento mais difícil dessa jornada até aqui? 

Foi no começo da internação, quando o estômago estava muito inchado… Eu passei por muito medo. Quando cheguei ao Hospital, o relato das pessoas de que nunca me viram daquele jeito… Eu senti medo porque não sabia o que poderia acontecer. Minha barriga estava muito dura. Aquilo afetou tudo, meu semblante… Eu não cheguei a me desesperar porque eu sempre tentei me controlar. Por mais que eu sentia medo eu não queria demonstrar. O desespero não iria adiantar em nada, mas o medo existiu até ocorrer a desobstrução, que depois tive a sensação de alívio.  

Neste momento você está em que fase do tratamento? 

Foi feita a desobstrução e eu estou com a bolsinha. As dores já diminuíram bastante. Saí da dieta leve e já estou comendo praticamente tudo normal, porém tomando cuidado com certo tipo de alimentação como fritura, excesso de açúcar e refrigerante. O momento agora é aguardar vaga para Jales ou Barretos. O Roberto Gonçalves está com essa missão. Vamos aguardar. Não sinto dor. Estou bem tranquilo, graças a Deus. O momento agora é de espera. Meu medo é com relação ao meu intestino que está aberto… Alguma cotovelada, abraçada, tudo isso é delicado, corre o risco. Estou até criando coragem para olhar para ele. Como um amigo meu me disse, é preciso amar ele pois faz parte do meu corpo. Eu estou bem mesmo devido a tudo que recebi. As pessoas que vêm até aqui ficam surpresas da forma como me encontra. Normalmente, as pessoas que recebem esse tipo de diagnóstico ficam abatidas. E eu graças a Deus tenho apoio da Meire, da Bebel, dos meus pais, dos meus amigos. 

Rosemeire, Bebel e Morena durante uma sessão na câmara de Mirandópolis: Foto: Arquivo AGORA NA REGIÃO

Qual o papel da família e da fé nessa batalha? 

É fundamental. Tudo que faço e fiz foi pensando na família. Cometi alguns erros, até em relação a essa situação porque poderia ter buscado ajuda antes, mas por conta da minha tia que estava acamada vivendo aqui em casa e também a Bebel com a doença de Crohn, acabei me dedicando a elas. Mas o apoio da família está sendo fundamental. O que minha esposa faz por mim e pela Bebel é quase uma profissional, como se fosse uma enfermeira. Está sendo uma excelente esposa. Está fazendo coisas que provavelmente muitas mulheres não fariam. O que a Meire e a Bebel estão fazendo por mim é grandioso. Todo carinho, todo amor e afeto, estão sendo fundamentais. E a fé é aquilo que nos move. Eu tenho comigo o seguinte: se Deus permitiu que isso viesse acontecer comigo é porque Ele acredita que sou capaz de suportar. Além disso, Ele quer me ensinar algo. Nesse período, eu estou aprendendo muito. Eu me preocupava muito com os outros e deixava a minha família de lado. Então, hoje tem muita coisa que estou fazendo que antes não fazia como um simples almoçar junto, estar mais presente. Não que eu era ausente, mas poderia ter administrado melhor. Mas isso são escolhas que fiz e agora Deus está dando nova oportunidade. 

Você está necessitando de alguma ajuda para custear o tratamento e de que forma as pessoas podem ajudar? 

Desde quando publiquei os vídeos na internet sempre coloquei a real situação nossa.  Eu ganho um salário de R$ 2,5 mil como vereador e não tenho outro emprego.  Agora, vou depender do pagamento do INSS. A Câmara Municipal paga 15 dias e o INSS paga 15, mas por parte do INSS a gente não sabe quando vai começar a receber. Por parte do Legislativo foi feita.  E normalmente o pessoal tem ajudado com PIX porque a renda que eu tenho é insuficiente e a Meire também não está trabalhando.  Jamais vou recusar ajuda. Têm pessoas que já ajudaram com cestas. É o que está nos ajudando até voltarmos às atividades normais. O PIX é o CPF da Meire: 197.282.878-95 (Rosemeire Aparecida de Oliveira).  Eu vou sempre levantar a bandeira da prevenção. A cultura do homem é a de não se cuidar e levar até as últimas consequências para depois buscar ajuda. Vou levantar essa bandeira justamente para que muitos outros não cometam os erros que cometi por vários motivos. O homem precisa ter essa cultura de se cuidar, fazer a prevenção, fazer uma boa alimentação. Hoje, para mim, a conta chegou. Ficamos preocupados com muitos problemas e deixamos a saúde de lado. E também tem a questão de como encarar o problema. Se você sentir o diagnóstico, ele te derruba e o desespero não resolve. A última palavra vem de Deus. Também não pode deixar de pedir ajuda. Tem muitas pessoas que acabam se suicidando por falta de ajuda. Isso é assustador. E não tem idade. Todos estamos sujeitos. E essa falta de buscar ajuda, de estender sua mão para alguém puxar, tem cessado muitas vidas, infelizmente.  Vou abraçar essa causa. 


                       
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