‘O primeiro passo é ser humilde, não passar por cima de ninguém’, diz dona da Nice Confecções sobre empreendedorismo

‘O primeiro passo é ser humilde, não passar por cima de ninguém’, diz dona da Nice Confecções sobre empreendedorismo

De uma loja com nove metros quadrados para se tornar uma das principais empresárias do ramo do comércio varejista de Mirandópolis. Eunice Aparecida Rosa, mais conhecida como a Nice Confecções, detalha sua trajetória de vida que iniciou quando tinha apenas nove anos de idade. 

Em entrevista ao jornal, Nice conta como foi o início de sua trajetória no ramo de tecidos, detalha sobre os percalços durante suas viagens a São Paulo em busca de roupas para venda e revela quais os principais caminhos para quem quer obter um empreendimento.  Mãe de dois filhos e avó de cinco netos, a filha do Moacir Rosa e Almerinda Postigo Rosa conta que para empreender é preciso muita humildade e trabalho. 

Onde nasceu e cresceu?

Nasci em uma fazenda, que fica a 10 quilômetros aqui da cidade, que era do meu avô. Depois eu vim morar na cidade. Somos em quatro filhos, dois homens e duas mulheres. 

Quando você começou a empreender? 

Eu era costureira. Na época, fui para São Paulo para comprar 20 metros de tecido. Aluguei uma lojinha onde hoje é o meu banheiro. Comecei a trabalhar com costura, a pegar roupas para conserto. Fiquei uns 12 anos fazendo isso. Eu arrumava as costureiras, cada uma com suas máquinas, porque eu não tinha dinheiro para comprar máquinas. Daí a gente costurava e dividia os lucros. Com o tempo, eu comecei a comprar algumas roupas e fui parando com os tecidos, depois de 15 anos. E toda roupa que eu vendia eu apertava, fazia a barra, arrumava do jeito que a pessoa queria. Isso era em 1994. A minha vontade de empreender sempre foi de ver minha cunhada trabalhando em uma firma mexendo com roupa. Mas meu pai ele era aqueles italianos rigorosos. Com 9 anos ele me colocou no corte e costura e ele disse que quem sustentava a casa era homem, não era mulher. Até hoje eu estou provando para meu pai que mulher consegue sim, não é só o homem, né. Depois eu fui comprar um tecido em Valparaíso, em uma loja. Fiz amizade com um homem, que me chamou para ir a São Paulo para ver roupas. Muita gente tirava sarro dizendo que eu iria abrir o lojão do povo. E a primeira lojinha tinha 9 metros quadrados. Em cima tinha um tablado de madeira, foi onde as costureiras ficaram lá trabalhando. Tudo que eu faço é pensar positivo. Esse é o primeiro passo. Minha filha me ajudava também desde aos 9 anos.

Como foram essas viagens a São Paulo? 

A primeira vez que eu fui era bate e volta pela Labor. Eu virei guia. Ganhava minha passagem, mas eu ia deitada no corredor do ônibus. Se sobrasse banco eu iria sentada. Foram 19 anos dessa forma. Economizei minha passagem dessa forma. Às vezes tinha gente que acabava pisando em cima de mim porque estava deitada no corredor. Eu até avisava antes (risos). Eu ganhava a janta também. Eu ia na cara e na coragem nessas viagens. Hoje, a gente trabalha em família, com a ajuda dos meus filhos e neta. 

Como ocorreu a construção da loja? 

Um pouco antes do Covid eu comprei o terreno e vendi minha casa, que foi uma benção. E com o dinheiro eu estava programada para a construção, mas devido a pandemia tudo dobrou de preço. Mesmo assim fui atrás e levantei a loja e fiz minha casa também, com estacionamento. Foi com muito sacrifício, trabalhando dia e noite.

Loja está localizada na Rua Rafael Pereira, nº 1010. Foto: Vinícius Macedo.

Quais os maiores desafios para quem quer empreender? 

Eu tenho amizade com todos os comerciantes de Mirandópolis. Acho que o primeiro passo é ser humilde, não passar por cima de ninguém. Eu fui a vida inteira praticamente viajando em um corredor de ônibus. Eu nunca me exibi. Já teve gente que me disse que por ser dona deveria andar bem arrumada, produzida. Eu ando descalça mesmo. Eu trato bem todos, qualquer um. E graças a Deus eu posso ajudar muita gente. Cuido da minha família. O que precisar eu ajudo todo mundo. E precisamos ficar esperto com todos. Claro que a gente se decepciona também com algumas pessoas. Mas tem gente que não mede esforço. E tem muita gente que abriu o comércio, mas não se dedica. Hoje, eu comecei a mexer no celular às 5h40 da manhã, comprando estoque. Eu não tenho sábado e nem domingo. E claro precisa ter muito amor. Tem dia que eu falo que não vou fazer nada, mas quando vejo já estou montando ou desmontando algo. Eu preciso me mexer, modernizar. E eu nunca fiquei olhando o que os outros compram para eu comprar igual. Precisa inovar sempre. Se você tiver Deus, amor e coragem tudo vai progredir. Senão, eu não teria nada disso. Claro que as vezes a gente se preocupa de saber se vou dar conta de tudo isso, mas com Jesus à frente eu consigo. Para que as coisas aconteçam temos que trabalhar quase 24 horas por dia. Hoje estamos com cerca de 20 funcionários, entre loja, em casa e na minha família.

Qual o balanço que você faz de sua trajetória de vida? 

Eu me sinto muito corajosa. Eu não tenho vergonha de nada. Precisa ter pés no chão, não passar a perna em ninguém e ter muito amor. Precisa ter muita humildade e trabalhar bastante. Tem dia que chego meia noite e no dia seguinte cedo já estou aqui. Já teve semana que andei mais de seis mil quilômetros. A cabeça até fica zonza (risos). Mas com Deus, amor e honestidade dá tudo certo. Eu não fico com um centavo de ninguém. Deus gosta de gente assim. 


                       
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