‘Comecei a trabalhar aos 7 anos no sítio, depois aos 18 anos entrei na oficina e nunca mais parei’, lembra Shimada

‘Comecei a trabalhar aos 7 anos no sítio, depois aos 18 anos entrei na oficina e nunca mais parei’, lembra Shimada

Conversamos com Hozumi Nishizaki Shimada, conhecido popularmente como Shimada, que nasceu em 1949 em Mirandópolis. Sua infância e juventude foi no sítio ajudando o pai, até que aos 18 anos foi trabalhar na oficina do Amikura. Depois de 27 anos, em 1993, abriu sua oficina, onde permanece até hoje trabalhando. Confira abaixo a entrevista completa.

Como foi sua infância?

Quando nasci, em 1949, o meu pai já trabalhava no sítio, lá eu fiquei até 1968. Desde pequeno ajudava o meu pai plantando feijão, milho, vassoura, arroz, que naquele tempo também podia plantar arroz no brejo. Comecei a ajudar com uns sete anos, não tinha escolha (risos). Nós éramos em quatro irmãos, três homens e uma mulher, mas um irmão já faleceu de desastre. Então crescemos no sítio, sendo que meu pai continuou lá e falou que eu tinha que aprender algum oficio, uma profissão ele queria dizer. Porque escola não tinha, dinheiro não tinha, então a gente tinha que trabalhar.

Qual foi seu destino?

Foi quando eu entrei na oficina do Amikura, em 1968. Lá comecei trabalhando como ajudante e fui aprendendo as coisas, fiquei por uns dois anos sem ganhar nada, trabalhava para aprender sobre a profissão. Foi lá que eu conheci o Nivaldo Araújo, quando passei pro torno. Lembro que quando estava ajudando na mecânica o Takahashi, que na época era o chefe da oficina, disse que precisava de mais um torneiro, então ele conversou com o Amikura e me liberou pra trocar de setor. Daquele tempo lembro do Yukio, Artur e alguns outros da família que ajudavam na oficina.

Trabalhou lá quanto tempo?

Foram 27 anos e quase nunca tirava férias (risos)! Posso dizer que tudo o que aprendi foi ali, foi como uma escola onde eu aprendi no iniciou sobre mecânica e depois passei para o torno. Claro que também tive força de vontade para aprender, mas foi muito bom seguir o conselho do meu pai de procurar um oficio, deu certo.

Montou seu negócio?

Em 1993 conversei com o Amikura porque queria sair para tentar abrir um negócio próprio. Nesse período eu já estava casado, tinha meus dois filhos. Então tomei coragem e aluguei esse barracão, que era do Pistolin. Comecei pagando aluguel, no começo foi bem difícil, eu tinha um carro e foi preciso vender para comprar um torno, não tinha material, não tinha ferramenta, funcionário era eu sozinho, só depois que arrumei um rapaz para me ajudar, porque meus meninos eram todos pequenos. Só depois de um tempo que eles começaram a ajudar e quando isso aconteceu já ajudou bem.

Eles estudavam e ajudavam na oficina?

Isso, ajudaram muitos anos, o Tom ajuda até hoje. Os meninos ficavam aqui até o horário do curso. Lembro que o Tom saia da escola meio dia, uma hora ele entrava aqui e depois cinco e meia liberava para estudar no SENAI. O Murilo fez faculdade de Direito e o Tom depois acabou cursando Direito, então foi indo, eles se formaram e o Tom ainda continuou estudando. Tenho um orgulho muito grande, só que não foi nada fácil, eles lutaram muito para isso. Também não posso esquecer que nessa trajetória tem a minha esposa que trabalhava nas escolas lecionando em três períodos.

Você continua trabalhando?

Normal, estou trabalhando igual um doido, sem férias ainda (risos). Na pandemia foi difícil porque peguei o vírus e quase morri. Não cheguei a internar, mas fiquei 10 dias sem comer, só bebendo água, água de coco e Gatorade, mais nada.

Pensou em sair de Mirandópolis?

Nunca pensei, mas já me convidaram para abrir oficina em Mato Grosso, eles falavam que eu ia ficar rico e eu dizia, “mas o urubu de lá é preto ou é branco?”, ou seja, mesmo lá teria que trabalhar a mesma coisa, então assim fui levando as coisas por aqui já que nasci e cresci em Mirandópolis, conheço todo mundo.

Quais as lembranças da infância e juventude?

Foi muito boa, eram outros tempos onde tínhamos coisas que hoje não temos mais. Íamos ao cinema, tinha aquela sensação de ficar lá na frente conversando, já hoje é tudo internet e celular. Na época em que estudava contabilidade na Escola 14 de Agosto, com o João Verga, quando tinha uma brecha a gente matava aula e ia para o cinema assistir um filme de bang-bang (risos).


                       
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