De mototaxista a Youtuber com mais de 300 mil inscritos: conheça o mirandopolense Lucas Corsato
Depois que saiu de Mirandópolis para morar no Japão, a vida de Lucas Corsato, o Rodela, como também é conhecido, mudou completamente. De mototaxista para Youtuber com mais de 300 mil seguidores na plataforma de vídeos. O jornal conversou com o mirandopolense que, além de trabalhar em um frigorífico no Japão, conta o seu dia a dia em vídeo em terras nipônicas. Veja os principais trechos da entrevista.
HISTÓRIA NA CIDADE LABOR
Nasci em Mirandópolis. Foi em algum sítio da região, nem foi na cidade. Toda minha infância foi aqui. Estudei no Sesi e na Noêmia Dias Perotti. Depois de terminar o colegial eu não tinha ainda em mente o que iria fazer. Prestei alguns concursos, mas não cheguei a passar. Peguei a moto do meu irmão emprestada e comecei a trabalhar de mototaxista. Trabalhei no Moto Táxi Shallon por três anos. Em seguida, trabalhei por um ano e meio como frentista no Posto do Roberto. Nesse período, eu já tinha casado. Eu me casei com 18 anos. E quando eu estava trabalhando no posto, eu me preparava para ir morar no Japão por conta da família da minha esposa que morava por lá.
LIGAÇÃO COM O JAPÃO
Minha esposa e eu nos conhecemos na escola. Ficamos um ano namorando e depois ela e a família tiveram que ir para o Japão. Seis anos depois, ela veio a Mirandópolis junto com a família a passeio, isso em 2005. Eu estava trabalhando no moto táxi. Daí a gente se encontrou e nos apaixonamos novamente. Ficamos um mês juntos aqui em Mirandópolis. Como ela estava com a passagem comprada, teve de retornar ao Japão. Nos primeiros meses, a gente se falava pela internet. Mas o tempo foi passando e foi esfriando a relação. Eu tinha imaginado que ela tinha ido viver a vida dela. Em um belo dia, meu telefone tocou e era ela, dizendo que tinha comprado passagem e que estava vindo para me buscar para a gente se casar. Assim que ela chegou, nós fomos morar juntos e dois meses depois casamos no cartório aqui em Mirandópolis. Depois, preparamos toda a documentação para ir ao Japão. Ficamos um ano aqui buscando a regularização de todos os documentos.
VIAGEM QUE MUDOU SUA VIDA
Nós fomos para o Japão em setembro de 2008. Foi a decisão mais difícil da minha vida porque eu não saía de Mirandópolis para nada. Minha vida era só aqui e de repente mudar para o outro lado do mundo com idioma diferente, cultura diferente… Foi uma mudança drástica. Tudo para mim era muito novo, até mesmo viajar de avião. Fomos para a cidade de Nagoia. Foi uma mistura de medo e angústia, mas deu tudo certo. Estamos lá até hoje. Temos dois filhos, um de 18 anos e outro com 11 anos de idade. Retornei agora em Mirandópolis a passeio. Vou ficar 17 dias aqui.
BUSCA PELO EMPREGO
Quando fui para o Japão, estávamos vivendo aquela crise mundial de 2008. Fiquei 1 mês sem emprego. Muitos brasileiros que estavam lá foram parar debaixo da ponte porque não tinha dinheiro guardado. E eu estava devendo passagens e outras coisas. Tive a sorte de ter onde ficar, junto com meus sogros. Depois de um mês meu sogro me ajudou a trabalhar em um frigorífico. E depois nunca mais fiquei desempregado.
A ENTRADA NA INTERNET
Eu sempre gostei de mexer com câmera. Queria ser famoso de alguma maneira. Quando eu trabalhava no moto táxi, um amigo meu levou uma filmadora que tinha encontrado no lixo. Quando eu vi aquele equipamento fiquei doido. Pedi para que ele me vendesse e a comprei por R$ 300 na época. Peguei a filmadora e comecei a gravar minha vida aqui na cidade. Mas na época não tinha Youtube, não havia lugar para postar esses vídeos. Eu os colocava em uma televisão para o pessoal do moto táxi assistir. Eu sempre gostei disso. Foi meu primeiro contato com o vídeo.
CANAL NO YOUTUBE
Quando estava no Japão, depois de seis anos, quando ainda ocorria a movimentação de postar vídeos no Youtube, eu pensei em fazer isso também. Um dos meus objetivos no início era mostrar para o pessoal da cidade o local em que eu estava. Na época, eu achava bonito falar que estava no Japão. E comecei a mostrar os locais. Inclusive, os títulos dos meus vídeos eram vinculados com a cidade de Mirandópolis. Muito tempo depois, pensando melhor, eu já achava que não era bonito falar que estava trabalhando no Japão porque não significaria a falta de capacidade de ter uma vida boa no meu país. Depois eu mudei essa percepção. Comecei a gravar os vídeos e havia poucos canais no Youtube que tratava do tema. Eu nem sabia que dava para ganhar dinheiro com isso. Conforme eu ia postando os vídeos, eu comecei a perceber que as pessoas iam comentando, gostando das publicações e subindo o número de inscritos. Eu estava ajudando as pessoas fazendo uma coisa que eu gostava, mas não sabia até então que dava dinheiro. Somente depois de 3 mil inscritos que eu comecei a monetizar o canal. Só fui acreditar depois que caiu o primeiro centavo na minha conta. Hoje, eu sei que não é fácil, produzir conteúdo não é fácil. Minha profissão principal é trabalhar no frigorífico. O Youtube é um trabalho extra. Já tive média de 20 mil visualizações diárias. Hoje em dia houve queda nas visualizações por dois motivos: o primeiro é quanto a lei da oferta e procura. Quando comecei tinham cinco ou seis canais que mostravam o Japão. Hoje, tem mais de mil canais. E a questão dos vídeos curtos de, no máximo, um minuto como ocorrem no Instagram e TikTok. As pessoas não têm mais paciência para vídeos longos.
RETROSPECTO DE VIDA
Eu era um cara que não tinha muita perspectiva de ser bem sucedido. Tudo que tenho hoje tenho que agradecer ao Japão que me deu oportunidade e experiência de vida e também ao Youtube. Minha esposa também teve papel importante. Nós trabalhamos muito. No frigorífico onde trabalho com desossa suína tem muita gente que não aguenta. É um serviço muito intenso. Faço cinco horas por dia, mas é bem puxado e corrido. E ganho por produção. No início ganha-se pouco. Não é todo mundo que aguenta. Voltar hoje para Mirandópolis depois de 15 anos, com as pessoas me parando na rua para tirar foto, é muito bacana. Existe esse reconhecimento. Mas no começo não era assim. Muita gente nem falava comigo. Hoje percebi essa diferença. Porém, eu sou a mesma pessoa, quem me conhece sabe que é a mesma personalidade.