Correspondência

Correspondência

Foto: Prisma Brasil

No belíssimo cemitério em que estive no Dia de Finados há uma capela toda envidraçada embaixo da qual fica uma cripta onde estão enterrados uns poucos padres. Dentro da cripta, entre a porta de entrada e os jazigos, há uma maravilhosa imagem do Senhor Morto, quase em tamanho real, muito bem feita e que atrai a atenção do público.

Enquanto eu lá estava – rezando, lendo os nomes dos sacerdotes falecidos e admirando a atmosfera da capela –, dois meninos apareceram curiosos observando o lugar e a imagem – talvez com aquela típica sensação das crianças, transitando entre a curiosidade, o espanto e a reverência. Mas o que mais me tocou foi a moça que entrou com mais duas pessoas: ela primeiro, dirigindo-se à imagem de Jesus e com uma expressão de sincera piedade, começou a acariciar-Lhe os pés; depois dirigiu-se à cabeça e o peito; beijou-Lhe a cabeça e parecia estar realmente vivendo a Paixão de Nosso Senhor.

As outras duas pessoas, acho que esposo e filha, entraram um pouco depois, e ele também acariciou a imagem do Senhor. Para mim foi difícil conter as lágrimas, que já se insinuavam enquanto rezava e contemplava a imagem e a atmosfera. E tudo isso me remeteu a duas lindíssimas passagens bíblicas: do Evangelho de São João (cap. 20), Maria Madalena chorando do lado de fora do sepulcro ao descobrir que o Corpo do Senhor já não estava mais lá, e logo em seguida sendo contemplada como a primeira testemunha da ressurreição relatada pelas Sagradas Escrituras.

O outro trecho é do Evangelho de São Lucas (cap. 7, vv. 36-50), em que durante uma refeição, uma pecadora arrependida chorou aos pés de Jesus, enxugou-os com os próprios cabelos e os ungiu com um caro perfume, o que lhe valeu um elogio e a absolvição: “seus numerosos pecados lhe foram perdoados, porque ela tem demonstrado muito amor” (v. 47), disse o Senhor.

A mim parece que este é o desejo de Deus: a correspondência de sentimentos entre nós e Ele. E rezo para que não só aquela família, como todos nós, sejamos sensíveis ao Seu amor sacrificial – que foi até o fim – e respondamos com o amor e o carinho mais sinceros do nosso coração!


                       
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