Gabriel Carbello: educador, avô e eterno aventureiro sonhador
Conversamos com Gabriel Tarcizzo Carbello, 73 anos, professor aposentado, pai de três filhos (Alysson, Rogério e Leandro) e avô de quatro netos. Casado com Maria Aparecida Camata Carbello, Seu Gabriel, como é conhecido, nasceu no bairro Três Pontes e desde pequeno ajudava seu pai na plantação de café. Sempre dedicado aos estudos, a profissão de professor surgiu por acaso para quem queria ser fiscal de renda, mas o destino trouxe vários desafios e aventuras como educador, pai e sonhador. Confira abaixo a entrevista completa:
Onde foi sua infância?
Nasci no bairro Três Pontes, em uma casa de pau a pique com chão de terra. Meu pai veio para cá em 1944, de Penápolis, daí ele derrubou no machado cinco alqueires de mata e plantou nove mil pés de café. Assim iniciou nossa família em Mirandópolis. Daí fiz o primeiro ano da escola na cidade, ia a pé do sítio, era uma caminhada e tanto. A sorte foi que no segundo ano abriu uma escola perto da minha casa, daí estudei dois anos lá, só que no quarto ano precisei voltar pra escola da cidade e vim morar com meus avós. Foi uma infância divertida brincando no café e pegando lambari no córrego. Lembro que vivia sempre com Almir Pontes, Vicente Rodrigues, Isaias e os Hidalgos.
Quando começou a pensar em ser professor?
Até oitava série não tinha ideia de profissão, mas lembro que a última coisa que passava pela minha cabeça era de ser professor, foi por acaso. Depois que terminei a oitava série comecei a trabalhar de office boy no escritório do Manoel Franco. Além disso, fui fazer contabilidade na Escola do Comércio, pois nessa época coloquei na cabeça que iria trabalhar como Fiscal de Renda.
Porque não deu certo?
Em 1969 fui morar em Lins junto com Derci e Ivan, com a intenção de fazer um curso para conseguir passar como fiscal de renda. Até comecei a trabalhar em um escritório lá, só que nós morávamos em uma república que era tipo um seminário, no Salesiano, e conhecemos um padre que chamou a gente para dar aula. No começo não queria, mas como não fazia nada na parte da noite resolvi aceitar. Na época, o surpreendente foi que comecei a ganhar mais do que no escritório, ou seja, acabei largando a parte fiscal para estudar Letras.
Depois de formado voltou para Mirandópolis?
Na verdade, fiquei estudando lá dois anos e voltei para trabalhar aqui e com isso viajei dois anos entre Mirandópolis-Lins (viajava em uma Vemaguet do Derci). Foram dois anos trabalhando de manhã em Guaraçaí, de tarde estudando em Lins e daí ainda voltava para dar aula a noite na Aliança.
Se tornou um professor realizado?
Muito, fui muito feliz em sala de aula. Um detalhe é que em 1976 prestei concurso e passei, tinha como objetivo trabalhar em uma escola com crianças mais humildes para conseguir marcar a vida deles de alguma maneira. Fui trabalhar no Ebe Aurora, tive muito apoio dos diretores e fiz algumas coisas que hoje ninguém acredita. É que sempre fui sonhador e gostei de viajar, daí reuni com pais e alunos para produzirmos pão, queijo e tudo que era possível para vender na feira durante o ano, sendo que nosso objetivo era realizar uma viagem. Com esse dinheiro fomos para o Pantanal, de trem ainda por cima. Até hoje encontro alguns alunos que recordam com muito carinho da viagem, ficou marcado para todos. Depois fiz uma outra viagem pro Pantanal e uma para Matinhos, no litoral de Santa Catarina. O diferencial é que as viagens tinham objetivo cultural, não era só lazer. Também levava os alunos para acompanhar o folclore de Olímpia, visitar a barragem de Ilha Solteira e Três Lagoas, participar das feiras de livros, criava teatros e saraus, dava aula no bosque e tudo mais.
Trabalhou também como diretor de Educação?
Atuei nos governos do Osvaldo/Waldemar, Ikejiri e Zanon. Uma coisa marcante foi a criação FEMPO (Festival de Música Popular de Mirandópolis) nos anos 90, que surgiu porque conheci o festival de Ilha Solteira. Na época comentei com um pessoal que estava fazendo um evento na igreja (Claudia Nakamura, Denise e Maura) e daí decidi montar o FEMPO, que depois da primeira edição ganhou uma repercussão nacional. O primeiro foi pequeno, mas depois cresceu tanto que realizamos cinco festivais e tivemos a participação de 21 estados, com jurados como Nuno Leal Maia e Tetê Espíndola
Agora aposentou da sala de aula?
Aposentei em 2017 depois de 50 anos como professor. Fiz tudo que tinha que fazer, mas reconheço que criei vínculos que ainda mexem comigo. Mesmo de longe acompanho os meninos no vestibular, ser professor foi a minha grande paixão. O bom de aposentar é que consegui realizar um sonho de viajar de motorhome (casa motorizada). Fui com alguns amigos viajar pela Rota 66, nos Estados Unidos, por 22 dias. Ainda conhecemos Grand Canyon e Las Vegas, andamos mais de cinco mil quilômetros.
Qual sua ligação com Mirandópolis?
Nasci, cresci e formei família na cidade. Daqui não saio, porque aqui pode não ter um shopping, mas aqui estão amigos e alunos, me sinto muito bem andando pelas ruas de Mirandópolis e sou extremamente feliz. Nem no meu melhor sonho imaginava traçar esse roteiro de vida que alcancei pessoalmente e profissionalmente.