‘Chegar em Mirandópolis foi direcionamento de Deus, onde ajudei a construir uma linda cidade’, recorda Orlando Mancini

‘Chegar em Mirandópolis foi direcionamento de Deus, onde ajudei a construir uma linda cidade’, recorda Orlando Mancini

Conversamos com Orlando Mancini, de 92 anos, que chegou em Mirandópolis em 1954. Sem conhecer ninguém da cidade na época, Orlando pegou o trem em Valparaíso porque onde morava não estava encontrando serviço. Em Mirandópolis fixou moradia e ajudou a construir locais tradicionais como paço municipal, câmara dos vereadores, rodoviária e diversas residências. Confira na sequência a entrevista completa.

Nasceu e cresceu aonde?

Nasci em Potirendaba, perto de Rio Preto, mas morei lá por pouco tempo. Meus pais trabalhavam com lavoura, rodavam bastante. Comecei a trabalhar cedo, na enxada com uns seis anos, mas como servente de pedreiro foi com 13 anos em uma fazenda, em Bento de Abreu. Lá tinha um pedreiro que estava construindo umas casas, ele falou para o meu pai que queria que eu trabalhasse lá. Fiquei bastante tempo, mas depois esse homem sumiu. Ele era solteiro e se encantou por uma mulher da fazenda e desapareceu. Ele ficou uns 20 dias sem ir ao serviço, foi quando eu falei com um outro servente para terminarmos de levantar a casa. O cara ainda me questionou que eu não era pedreiro, só que eu já conhecia como funcionava e fizemos o serviço. Quando o homem voltou a gente já tinha adiantado um monte, daí ele gostou do serviço e me promoveu, depois daquele dia não peguei mais caçamba (risos).

Prestou serviço militar?

Sim, fui servir em Forte Coimbra, onde fiquei por um ano e meio, por causa da guerra da Coreia. Eles foram soltando os outros e segurando alguns até os recrutas chegarem. Fiquei mais de um ano por isso, depois deu baixa e eu vim para Valparaíso, onde eu fiquei até me casar. Lembro que quando casei estava sem dinheiro. Eu trabalhava com um português, o Henrique Moreira, ele era bruto, mas me dava bem com ele. Mas quando eu tive a minha filha Sonia, estava quebrado de serviço, lembro que o português tinha um sítio no Paraná e foi embora sem nem me avisar. Foi quando pensei, “não posso ficar parado, ainda mais com criança pequena no colo, tenho que trabalhar!”. Então peguei o trem e vim para Mirandópolis sem conhecer nada, em busca de oportunidade. Cheguei aqui quando estava construindo a Moreira, quando estava descendo a rua já vi um andaime e desci. Lá encontrei um chefe de pedreiro com quem eu já tinha trabalhado em Valparaíso, mas foi coincidência, daí ele me reconheceu, bateu nas minhas costas e quando eu disse que estava procurando um emprego já me chamou para trabalhar. Além dessa primeira oportunidade, o gerente da Moreira falou que o caminhão ia fazer uma entrega de mercadorias em Valparaíso, que eu podia trazer a minha mudança. No mesmo dia já arrumei uma casa e mudei. Foi Deus que encaminhou. Depois disso eu nunca mais saí daqui, estou aqui até hoje (risos).

O que construiu em Mirandópolis?

Participei de várias construções! Trabalhei com o Ezio Veroneze, fiz o prédio da escola 14 de Agosto (hoje é o COC). Também trabalhei com o Claudio Franco, naqueles barracões, aqui em cima perto do cemitério, naquelas casas descendo o Nilton perto do semáforo. Trabalhei na construção da Câmara e prefeitura, foi no tempo do Sr. Alcino Nogueira de Sylos, o antigo prefeito de Mirandópolis. Ele chegou em mim, lembro que estava fazendo o muro do campo de futebol. Me ofereceu a obra do prédio e eu aceitei, sempre fui meio doido, a equipe foi grande, nós trabalhamos com quase 30 homens entre pedreiros e serventes. Além disso, fiz diversas casas nas alianças. Lembro também da casa do José Rossi, que é aquela residência linda que fica do lado da igreja. Eu também peguei a torre da Globo, fiz aquelas três torres, de Guzolândia, Segunda Aliança e no Paraná. Na igreja só ajudei a assentar o piso do salão, não construí.

Quando o senhor aposentou?

Trabalhei até ano passado, com 92 anos (risos), só parei porque o meu nervo ciático começou a judiar demais, mas se não fosse isso eu não tinha parado.

Qual a receita pra ter essa saúde?

Nunca fumei e só comecei a beber uma cervejinha ou outra com a turma, mas só em dia de sábado e domingo, mas hoje parei até com a cerveja. Até hoje me perguntam qual remédio eu tomei pra ter essa saúde, eu respondo, meu remédio foi vergonha na cara (risos). Eu também me alimento muito bem, nada exagerado. Meu único problema foi o coração, foi um problema do dia para a noite, faz 22 anos que superei, mas cheguei a ser operado, mas estou bem e não sinto nada

Qual o sentimento por Mirandópolis?

Aqui criei meus filhos e fiz muitas amizades, pena que metade já foi embora. Apesar de ter chegado aqui já adulto, o sentimento é de muita gratidão e amor. Gratidão pelas oportunidades que tive, muitas portas se abriram. E amor pelas amizades e pela cidade de uma forma geral, sou muito feliz morando aqui, onde criei raiz e não sai nunca mais.


                       
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