‘Devo montar uma galeria em Portugal, mas a minha relação com Mirandópolis vai continuar com a arte’, explica Ozéias Moreira

‘Devo montar uma galeria em Portugal, mas a minha relação com Mirandópolis vai continuar com a arte’, explica Ozéias Moreira

Conversamos com Ozéias Alves Moreira, nascido em Mirandópolis no ano de 1979. Sua infância foi no sitio com a família, local que a arte esteve presente desde sua infância com os desenhos realistas de animais e paisagens. Além de trabalhar com letreiros, Ozeias já realizou duas exposições em Mirandópolis, assim como viajou para Belgrado para apresentar suas obras. Confira na sequência a entrevista completa.

Como foi sua infância?

Meus avós tinham sítio no bairro Córrego do Boi, cresci com cinco irmãos e meus pais trabalhando na roça. Fiz da primeira à quarta série na fazenda mesmo, do quinto ao oitavo estudei no Sesi e o colegial na escola Noêmia.

Quando surge a arte na sua vida?

Inicia ainda criança, acredito que com oito anos, quando morava no sítio. Nessa época já gostava de fazer desenhos realistas, pessoas, animais, paisagens… toda hora que eu queria me expressar usava a arte. Lembro que na segunda série tive uma professora, a Dona Marlene Veronese, ela me apoiava. Depois quando fui para o Sesi conheci a Dacy Delai e a Regina Veronese. A Dacy me deu muito apoio, me presenteou com o primeiro jogo de tintas, fora que ela me separava para trabalhar com ela, algo que me ajudou a evoluir na arte.

Quando começou a trabalhar?

A primeira oportunidade profissional foi com o Sr. Nelson Kotsugo. Na época, quando começou a informatizar, ele era um dos profissionais que trabalhava com artes gráficas em Mirandópolis, inclusive o computador dele tinha seis fontes, então tinha um scanner do tamanho dessa mesa, com todos os desenhos que ele queria projetar em camisetas ou carros, então eu fazia os desenhos manualmente, em papel vegetal, para revelar e estampar. Essa experiência foi como uma escola, na época eu estava com 14 anos e fiquei com ele até os 17 anos. Trabalhava meio período no sítio e meio período com ele. Depois mudamos para o km 49 e passei a trabalhar na granja com serviços gerais, em seguida me casei e fui trabalhar na roça. Depois vim para a cidade, aos 21 anos, e já comecei a fazer desenhos e letreiros. Foi quando conheci o Timotio, que foi a primeira pessoa que me deu a oportunidade de fazer letreiro, era da Aliança Veículos. Detalhe que nessa época eu passei a trabalhar como garçom a noite no Arapongas, porque não dava para viver só da arte. Depois fui trabalhar como cozinheiro no Bar do Rogério, fiquei sete anos trabalhando a noite e fazendo letreiros durante o dia. Em 2005 entrei na Rede Pas Supermercados como cartazista, foram três anos de muita experiência também.

Teve um período que mudou daqui?

Isso, depois que sai do mercado fui para Guararapes para viver só da arte. Lá, em 2007, comecei com as oficinas, oferecia cursos de pintura de tela, isso foi até 2016, depois fui para Três Lagoas, sempre trabalhando com arte. Quando foi em 2019, houve uma necessidade de voltar para Mirandópolis devido a idade dos meus pais e alguns problemas de saúde que eles estavam enfrentando na época, então eu achei melhor estar perto.

Como foi o retorno?

Me senti muito bem acolhido, porque eu já trabalhava com arte e a maioria das pessoas que me conheciam eram comerciantes, então eu já tinha referência. Fiquei 100% vivendo da arte, nunca consegui largar o letreiro, já tentei várias vezes, ofereço cursos, tenho as oficinas, pinto telas sob encomenda e faço exposições, mas o letreiro ainda está com muita falta de profissional, então tem oportunidade de mercado.

E as exposições de quadros?

Em Mirandópolis eu fiz duas exposições, uma na Associação dos Engenheiros e depois outra na prefeitura, apoiado pela Lei Aldir Blanc. A história interessante é que em 2020 fui levar a minha mãe em uma clínica e chegando lá tinha um cadeirante tentando acessar o local que não tinha rampa. Nisso eu vi aquela necessidade do cadeirante cabisbaixo, achei aquilo muito forte e impactante e pintei uma obra com o tema ‘Inclusão versus Educação’. Essa obra teve uma repercussão muito grande, tanto que a equipe da Associação Europeia de Belgrado, que já me acompanhava nas redes sociais, viu a obra e me convidou para expor internacionalmente em 2021.

Quais os planos para a carreira?

Tenho um convite, que já está bem amadurecido e devo colocar em prática no ano que vem, que é montar uma galeria em Portugal. Mas a minha relação com Mirandópolis não tem fim, por mais que eu saia da cidade, quero realizar projetos sociais que tenho em meu coração. Além disso, pretendo ainda montar um museu em Mirandópolis, mas não quero que seja igual muitos que contam uma história e acabou. Quero um museu com o presente, que vire uma história em constante atualização. São sonhos, mas que com a graça de Deus colocarei em prática.


                       
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