‘Meu pai educou a gente baseado em quatro pilares: verdade, trabalho, respeito e amor a pátria’, lembra Mustafa Zogbi
Conversamos com Mustafa Mohamed Zogbi, que nasceu em 1962, em Mirandópolis. Casado com Kathia Zogbi, ele ainda se apoia nos conselhos dos seus pais para educar seus três filhos e também no dia a dia como empreendedor, no laboratório Santa Paula. Confira na sequência a entrevista completa.
Seu pai veio do Líbano?
Meu pai chegou no Brasil em 1954, vindo daquele “boom” da América pós-segunda guerra, quando muitos imigrantes europeus e árabes vieram para cá. Ele chegou sem falar o português. Sofreu muito, sofreu humilhação, fome, discriminação. Inicialmente chegou em São Paulo, foi quando alguns parentes indicaram o interior. Aqui já tinha o Sr. Asman, o Mohamed Feiz, entre outros que era da região dele lá do Líbano. Minha mãe, que sempre foi uma guerreira, conheceu meu pai em São Paulo através de uns parentes. Ele foi em um noivado de um parente, de um primo dele, acabou conhecendo e depois casaram.
Como foi sua infância?
Ele sempre educou a gente em casa baseado em quatro pilares: verdade, trabalho, respeito e amor a pátria. Somos em cinco filhos, tenho uma irmã e três irmãos. Inicialmente ele queria que a gente aprendesse a língua, mas a colônia árabe aqui de Mirandópolis sempre foi muito pequena. Com isso dificultou os aprendizados, mas meu pai sempre passou para a gente o seguinte. O respeito é tudo, ele sempre dizia, “eu quero que vocês não tenham rancor e nem queiram vingança, nada contra ninguém. Pelo contrário, trabalha e fale verdade que vocês vão ter tudo na vida”.
Começou a trabalhar cedo?
Meu pai sempre fez questão que a gente estivesse presente na loja, eles tinham comércio. E sempre foi aquela história: o respeito sempre prevalecendo pelo cliente, principalmente pela autoridade, sendo que acima de tudo do professor, sempre.
Você estudou aonde?
Estudei tanto no Edgar quanto no Noêmia, tive excelentes professores. Daí aos 17 anos fui estudar em São Paulo. Naquela época tinha poucas opções, principalmente o árabe que o filho tinha que ser médico ou engenheiro (risos). O detalhe é que no colégio que fui estudar tinha um laboratório, tanto de engenharia quanto de biologia, foi quando um dia entrei no laboratório errado, entrei no de biologia. Tinha um cachorro lá aberto e precisava de alguém para introduzir uma substancia para o coração dele voltar a bater. Ninguém queria fazer, foi quando o professor olhou e eu falei que se fosse possível, eu faria. Aquele momento talvez tenha sido o momento mais chave da minha vida, pois entendi dos elementos que são essenciais para dar vida a tudo. Depois tentei fazer medicina, mas não consegui. Foi quando decidi fazer farmácia e bioquímica, fiz em Presidente Prudente, sendo que antes de terminar fui convidado para tocar um laboratório no Mato Grosso do Sul.
Quanto tempo ficou lá?
Nós ficamos seis anos. A Larissa, nossa primeira filha nasceu lá e nós ficamos pensativos em relação a educação de qualidade, por isso optamos para vir para cá. Começamos a nossa vida aqui com a farmácia, em 1992. Fiquei com a farmácia até 2004, foi quando montei o laboratório. Estamos aqui há 30 anos, depois nasceu a Laís e o Junior.
Qual sua atuação no social?
Eu e a Kathia fomos presidentes do Rotary em Carapó-MS, assim como fomos presidentes do Rotary em Mirandópolis. Lá em Carapó-MS, antes de vir embora, deixamos pronto um banco de sangue para a cidade. Nós conseguimos realizar esse plano, foi algo transformador. Aqui também, nós sempre participamos dos eventos do Rotary desde as campanhas de vacinação até nos leilões da APAE.
Já teve convites para a política?
Hoje uma preocupação é a formação política. A gente falar de política, de tudo que vem acontecendo, é muito importante e preocupante ao mesmo tempo, na verdade. Os nossos jovens, eles estão muito alienados, principalmente com a nova era da computação, com isso estão esquecendo da percepção humana. Vejo muita gente passando por cima do moralismo, por cima da verdade, nós estamos mostrando para os nossos filhos e neto que vale a pena a corrupção, isso é preocupante. Nós não sabemos votar e nós não sabermos instruirmos os nossos filhos como votar.
Quer deixar uma mensagem?
Quero agradecer primeiro a Deus, assim como aos meus pais e minha esposa e filhos. Meu pai chegou aqui com uma mala, para batalhar, não sabendo falar a língua, passou fome e ele não desistiu nunca dos princípios básicos. Ele sempre nos mostrou que com trabalho e verdade, você sempre chega onde você quer. E foi isso que ele abraçou. A gente deve muito a essa comunidade, um povo que soube abraçar os princípios da nossa família.