Trabalho artesanal: paixão pelo ramo gera empreendedorismo a profissionais de Mirandópolis
Dados divulgados no fim do ano passado pelo Sebrae mostram que o artesanato brasileiro movimenta em torno de R$ 100 bilhões por ano – cerca de 3% do Produto Interno Bruto (PIB) do país – gerados pelos cerca de 8,5 milhões de artesãos espalhados por todos os estados.
O trabalho manual e o artesanato são caminhos rápidos e econômicos para quem quer empreender ou apenas aumentar o orçamento de casa. Em Mirandópolis, dois artesãos se destacam por esse tipo de serviço em duas áreas distintas e específicas: a cutelaria e a selaria.
Rafael Modesto, 35 anos, sempre esteve envolvido com ferramentas ao observar como o avô trabalhava. Para ele, dois pedaços de madeira e alguns pregos já eram suficientes para se transformarem em qualquer coisa.
Depois que passou a trabalhar no ramo metalúrgico, ele teve a certeza de seguir esse caminho. De 2017 em diante, Modesto passou a produzir facas. Não precisou de curso, mas apenas muitas de tentativas e erros durante o processo.
“Foi muito material online e muitas pesquisas. A cutelaria, além da parte artística, ela é muito técnica. Não é algo apenas bonito para se comprar. É uma ferramenta e de excelência. Faço estudo sobre a geometria, tamanho e ângulo, há seis anos. E eu sempre gostei muito da parte de acabamento, o que gerou maior facilidade. A comunidade da cutelaria é muito unida, temos até um grupo no WhatsApp para trocar informações”, revela.
Seu trabalho manual é feito aos fundos de sua casa. Os produtos são enviados para todo o Brasil e também no exterior como Canadá, Portugal, Japão e Angola. São facas de cozinha, churrasco e utilitárias do dia a dia. Segundo Modesto, geralmente são feitas entre 3 e 5 facas por semana, tudo sob encomenda e de forma personalizada.
“Um estado que vendo muito bem é o Rio Grande do Sul, que é o berço da cutelaria nacional. Minhas vendas são todas pelas redes sociais ou pelo WhatsApp. No geral, faço sob encomenda, de forma personalizada. Tenho a pronta entrega também. Mas procuro fazer de acordo com a necessidade da pessoa”, afirma Modesto.
O cuteleiro explica que as peças podem variar entre R$ 230 e R$ 1,5 mil, a depender do gosto do cliente, ainda mais em se tratando de materiais mais exóticos utilizados na produção como cabo de marfim, entre outros.
“O meu público-alvo é aquele que compra para uso próprio. Mas para aqueles que colecionam, os valores são altos, são aquelas facas que tem mais apelo artístico, não seria uma ferramenta propriamente dita, como é o meu caso”, explica o empresário, que também atua como entregar de delivery.
Modesto nasceu em Mirandópolis e não pretende mudar de cidade por conta da tranquilidade de morar no interior. Em todos os ramos que atuou como mecânico montador, encanador industrial, caldeireiro e serralheiro, sempre procurou alguma forma para empreender e criar seu próprio negócio.
“Empreender não é trabalhar apenas para si próprio em seu negócio, mas também trabalhando para outras pessoas, buscando um diferencial naquela atuação. Hoje eu tenho uma segunda renda como entregador de delivery porque os itens secundários estão sendo deixados de lado um pouco devido a situação econômica, mas a cutelaria é investimento em cima de investimento, buscando os melhores materiais e sempre me aprimorando”, diz.
PAIXÃO POR CAVALOS
Alexandre Freire de Carvalho, 50 anos, chegou em Mirandópolis junto de sua família que morava em Pernambuco. Ele iniciou no ramo de selaria devido a sua paixão por cavalos. Chegou a trabalhar como peão em fazendas. A sua criação em sítio e a necessidade que o serviço exigia para se manter na época foram fundamentais para que ele seguisse por esse caminho.
“Com o passar do tempo, eu vi que era rentável e parti para essa profissão”, revela Carvalho, que teve influência de seguir no ramo por amigos e também de seu ex-chefe Manoel Franco.
Hoje, ele possui um ponto comercial para fabricação e reforma de couro em geral. Já são 25 anos de atuação, sendo sete deles dedicados neste estabelecimento localizado na Rua João Domingues de Souza.
Suas vendas ocorrem pela cidade e também há entregas em diversas regiões do país pela internet, por grupo de WhatsApp. São feitas entregas em Araçatuba, Valparaíso, Ilha Solteira e Pereira Barreto, assim como em algumas cidades de Mato Grosso e Goiás.
“Todo seleiro é muito procurado porque as pessoas que estão no meio participando de cavalgadas, de rodeios, elas valorizam o trabalho do artesão. E a gente personaliza de acordo com o gosto. Com mais ou menos detalhes como as argolas, que são peças simbólicas que representam status, que vem desde as guerras dos árabes”, afirma.
Segundo o seleiro, um arreio, por exemplo, pode variar entre R$ 1 mil e R$ 1,5 mil, podendo chegar até R$ 6 mil. Ele não fez o cálculo de quantos artigos são vendidos mensalmente, tudo vai depender da forma desejada pelo cliente, mas Carvalho conta que há trabalho manual, de apenas uma peça, que pode levar de 4 dias a 15 dias para sua produção.
Pai de duas filhas, hoje ele não tem a pretensão em deixar a cidade por conta da família. Como um empreendedor nato, ele sempre foi muito curioso em aprender sobre esse ramo e adquiriu conhecimento com a prática.
“Tudo que fiz foi por curiosidade, na raça, vendo o pessoal mais velho fazer. Eu tinha um tio que trabalhava em uma fazenda e eu o acompanhava. Para criar seu próprio negócio é preciso determinação, coragem e garra. É isso. E principalmente seguir um lema árabe: “La Nasr Bidun Allah”, que na tradução é “Não há vitória sem Deus”.