‘A minha vida foi sofrida, mas consegui vencer trabalhando e sou muito feliz’, recorda Zé Valter

‘A minha vida foi sofrida, mas consegui vencer trabalhando e sou muito feliz’, recorda Zé Valter

Conversamos com José Valter Moreira, nascido em Lins, no ano de 1942. Ainda pequeno chegou em Lavínia, onde ajudava a família recolhendo reciclagem pelas ruas e pastos. Depois foi morar com os pais no Amandaba, onde trabalhou na roça até casar com Valdete Ananias, com quem está junto há 60 anos. Zé Valter ainda trabalhou na prefeitura por 36 anos, até se aposentar, mas nesse período já arranjava um tempo para cantar bingo nas quermesses e ajudar nos leilões. Nos últimos anos completou a renda vendendo bilhetes da loteria, sempre com o sorriso no rosto e rodeado de amigos. Confira na sequência a entrevista completa.

Como foi sua infância?

Nasci em Lins, em 1942, somos em três filhos homens e uma mulher, que já é falecida. Ainda criança viemos para Lavínia, meu pai trabalhava na Sanbra, com algodão na roça, foi aí que comecei a trabalhar ainda pequeno recolhendo ossos de vaca, ferro, alumínio e o que estivesse na rua e pasto. Tudo para conseguir juntar um dinheiro. Depois de Lavínia a gente veio morar em um sítio perto de Guaraçaí e Amandaba, ali na divisa. Lá fiquei trabalhando por muitos anos na roça. Os outros dois irmãos eram mais novos, então era mais eu que trabalhava com meu pai. Trabalhei muitos anos na roça do japonês. Depois fomos morar no Amandaba onde meu pai foi trabalhar novamente de saqueiro, com o Uemura, já a minha mãe era lavadeira.

Quando o senhor casou?

Em abril vai fazer 60 anos que eu e a Valdete estamos juntos. Mas foi um início muito difícil, isso era anos 60. Era complicado porque morávamos com meus pais que tinham uma cultura diferente da nossa, ficamos um tempo lá até que tivemos o nosso primeiro filho. Como estava difícil morarmos todos juntos, esperamos terminar a colheita para ver o que ia sobrar para a gente começar a vida. Foi aí que eu tinha amizade com o Savero Tramonte, o Sinhozinho, Lourenção, todas pessoas bem resolvidas de Mirandópolis, daí falei para o Savero me avisar se aparecesse uma oportunidade na prefeitura, pois na época ele era o prefeito. Aí passou um tempo e deu tudo certo, mas não foi fácil, pois saímos da casa dos meus pais sem nada, praticamente sem dinheiro também. Saímos para morar de favor onde era um cartório, mas tudo com muita dificuldade, e nós ainda tínhamos um filho com oito meses. A criança ficou muito doente, hoje devo minha gratidão para o finado Nelson Yurasseck, porque a gente pegava remédio e depois quando conseguia pagava, hoje já não pode fazer isso, se você não tiver cartão nem dinheiro você não compra. Quem me ajudou muito também foi o Lourenção e a família do Mi Tramonte, pessoas do bem. Quando a minha filha foi nascer a gente não podia pagar o parto, mas o Dr. Pardo ajeitou e também devo minha gratidão a ele

Você se aposentou na prefeitura?

Isso, comecei com o Savero Tramonte, depois passaram diversos outros prefeitos, graças a Deus sempre fui trabalhador e respeitado por todos. Fiquei 36 anos, até me aposentar. A minha esposa também trabalhou na prefeitura muitos anos, quem incentivou ela na época a começar a trabalhar lá foi o pai do Cafuringa (Fioravante), nessa época o prefeito era o Dr. Antonio Monreal. Ela iniciou ajudando na merenda, ficou 11 anos trabalhando nessa função, depois mudou de prefeito e foi trabalhar com as crianças da escola Savero Tramonte, onde ficou por 21 anos e se aposentou.

Sempre gostava de ajudar nos bingos e leilões?

Eu comecei ajudando nas quermesses que aconteciam na igreja, depois fui ajudar nos leilões, sempre fui amigo do pessoal, não tinha esse negócio não. Sempre foi algo que gostei de fazer, pois era uma maneira de estar com amigos e ainda ajudar a cantar um bingo ou então nos leilões com amigos.

Depois passou a vender bilhetes de loteria?

Isso, comecei a trabalhar com loteria, vendendo bilhetes da loteria. Graças a Deus a gente conseguiu criar os filhos e estudar, dar uma boa educação. A minha filha hoje tem três diplomas, mora próximo de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. O meu filho começou a trabalhar com 11 anos em uma oficina, fico emocionado de lembrar ele chegando todo sujo de graxa. Ele trabalhava meio período para conseguir estudar, mas trabalhou muito e depois conseguiu iniciar como agente penitenciário, onde agora se aposentou. Como agora está tudo tranquilo tenho ficado mais em casa, junto com a minha esposa.


                       
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