Reflexões quaresmais (5)

Reflexões quaresmais (5)

Foto: Fé Brasil

Ao que parece, a imbecilidade do homem contemporâneo só não é maior que sua presunção. Esta é filha daquela e ambas convivem num relacionamento promíscuo que se retroalimenta, formando uma espiral de imoralidades. É um círculo vicioso, desastroso, anti-religioso e desumano, mas um sucesso para aqueles que o Pe. Robert Hugh Benson (1871-1914) retratou no romance de 1907 intitulado “O senhor do mundo”: são os ‘senhores deste mundo’ que têm trabalhado dia e noite para fazer da sociedade uma massa de tolos, presas fáceis para as mais escancaradas e pérfidas tramóias.

Vejamos se não é verdade: todos nós já vimos alguém destilar seu orgulho por acreditar ter descoberto, por exemplo, a “farsa” do Cristianismo e encontrado os meios para a libertação das amarras sociais e o alcance de um “mundo melhor”. Acontece que essas pessoas, pobrezinhas, ao ler uma meia dúzia de livros muitas vezes mal escritos e repletos das empulhações mais descaradas, na verdade não têm nem de longe a idéia da quantidade de tempo, de livros, de debates e de orações – para não dizer também de sangue – que a Igreja dispensou para consolidar sua doutrina bimilenar.

Ou seja, ignorando um castelo imenso de obras das pessoas mais sensatas, santas e cuidadosas no trato das coisas, tanto espirituais quanto humanas e temporais, muita gente da atualidade – aqueles que o economista e sociólogo americano Thomas Sowell chama de “iluminados”, por se acharem mais inteligentes e aptos para decidir sobre a conduta alheia e os rumos da sociedade – acredita piamente que a verdade se encontra mesmo é na pequenez da sua inteligência e do seu conhecimento.

Ora, é também contra essa maldita armadilha que servem as penitências quaresmais, pois fé, oração, conhecimento, sabedoria, inteligência e discernimento andam juntos. As abstinências visam a nossa fortaleza interior por meio do enfraquecimento de nossos desejos próprios e paixões desordenadas – do contrário estes acabarão subjugando nossa capacidade intelectual, e o ego e os prazeres tomando o lugar da sensatez e da razão.

Caríssimos irmãos, não nos enganemos: o “príncipe deste mundo”, como diz Jesus no Evangelho de São João (cap. 12, v. 31), “anda ao redor de vós como o leão que ruge, buscando a quem devorar” (Primeira Carta de São Pedro, cap. 5, v. 8). Por meio do erro, do orgulho e da arrogância, muitos nesta vida distanciam-se da verdade e arriscam perder, na vida eterna, a comunhão com a Verdade, que é o próprio Jesus.


                       
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