Tempus fugit
Na Grécia antiga já existia a concepção de um tempo cíclico, segundo a qual o que acontece hoje na verdade não passaria, em certa medida, ou de retorno do que já houve ou de algo que surgirá novamente. De certa forma essa noção está correta: entra ano, sai ano, nós vemos o sol a pino do verão inclinar-se para um sol mais brando do outono e inverno, e o ar quente de novembro a fevereiro dar lugar ao vento frio de maio ou junho.
A Igreja sempre se utilizou das configurações da natureza para anunciar a boa-nova da salvação: a disposição das datas do ano litúrgico é basicamente a mesma todos os anos, com datas fixas como o Natal e outras móveis, que seguem o calendário lunar, como Quaresma e Páscoa. Inclusive, antes do Concílio Vaticano II, o calendário litúrgico seguia mais de perto as estações do ano, buscando inserir na liturgia as maravilhas próprias de cada tempo – como diz uma belíssima oração de São Tomás de Aquino, “Que cada dia combine a beleza da Primavera, o brilho do Verão, a abundância do Outono e o repouso do Inverno”.
No domingo celebramos Pentecostes e mais um Tempo Pascal se encerra. Quantos mais haverá? Dos que vierem, quantos nós vivenciaremos? Ninguém sabe. E assim, utilizando-se daquilo que é cíclico por saber que o tempo na verdade corre num fluxo contínuo e que todos temos uma única vida terrena, que não voltará, a Igreja anuncia a salvação, a exigência da conversão, o Reino celeste, a vida eterna junto de Deus.
Na iconografia, Santo Expedito é representado segurando uma cruz com a palavra ‘hodie’ (‘hoje’, em latim) enquanto pisa num corvo cujo bico traz uma flâmula com a palavra ‘cras’ (‘amanhã’, em latim), em referência ao sonho que lhe trouxe o discernimento de não mais prorrogar sua conversão.
Neste domingo de Pentecostes, peçamos ao Espírito Santo que abra nosso coração para as realidades celestes e nos faça viver santamente as realidades terrenas, concedendo-nos o arrependimento dos pecados, a firmeza da fé, a clareza da esperança e o fervor da caridade, para que alcancemos vitoriosos a herança que nos foi conquistada pelos méritos infinitos de Jesus Cristo!