Assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido

Assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido

Foto: Imagem de jcomp no Freepik

Pedir perdão é muitas vezes difícil; que dizer então de perdoar? Embora alguns tenham facilidade natural para isto, o perdão normalmente exige decisão e força interior, e também algum discernimento para dirimir a confusão entre o ato de não perdoar e a mera lembrança da ofensa, tantas vezes eivada de sentimentos ou emoções de tristeza e irritação. Um pedido de perdão não é garantia de conversão total: a pessoa pode ter se arrependido de uma falta, mas não das outras, levando-nos a pensar duas vezes antes de confiar novamente – simples como as pombas e prudentes como as serpentes (cf. Evangelho de São Mateus cap. 10, v. 16). Isto, é claro, varia muito com o grau de intimidade e conhecimento entre as pessoas, com o tipo de falta ou pecado cometido e com sua recorrência. Em todo caso, devemos estar prontos a perdoar.

No cap. 6 de São Mateus, logo após ensinar o Pai-Nosso, Jesus sentencia: “Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, vosso Pai celeste também vos perdoará. Mas, se não perdoardes aos homens, tampouco vosso Pai vos perdoará” (vv. 14-15). Pode soar duro, mas há uma razão: esse capítulo é como um mini-tratado da vida do cristão sob o senhorio de Deus, em que Jesus ensina também a esconder o incômodo da fome quando se faz jejum (vv. 16-18) e fugir do acúmulo de bens materiais (vv. 19-21.24), da inveja, da avidez e da impureza (vv.22-23), o que nos faz mais fortes nas adversidades e menos refratários aos pecados e às mazelas alheias. É um trecho tão rico e maravilhoso que vale a pena ser lido e relido, um manual de despojamento e entrega da vida à Providência de Deus, que conhece nossas necessidades (cf. v. 32).

No verso 33 o Senhor dá uma ordem, largamente negligenciada: “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo”. Eis aqui um ponto fundamental ao se falar de perdoar o outro: buscar, com todas as forças, o Reino do Senhor e a realização da sua Vontade. Assim, com o olhar fixo em Jesus (cf. Carta aos Hebreus, cap. 12) e livres do ensimesmamento e das vaidades e ilusões deste mundo, não façamos muita conta dos pecados contra nós cometidos e perdoemos a quem nos pede perdão; isto traz maturidade espiritual, força e liberdade interiores e fortaleza diante das tribulações e amarras deste mundo. É como ensina a grande Santa Tereza de Ávila (1515-1582): “Quem a Deus tem, nada lhe falta. Só Deus basta”.


                       
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